Consta que Óscar Cardozo ficou algo desiludido por, após excelente temporada ao serviço do Benfica, não ter despertado a séria cobiça (falou-se apenas em sondagens ou propostas que não satisfizeram as pretensões dos encarnados) dos emblemas mais poderosos do Velho Continente. Parece que o futebolista sonhava com outra liga e também com um ordenado mais simpático no final de cada mês. É normal.
Sabendo-se que a cláusula de rescisão está cifrada em 60 milhões de euros, ninguém acreditava que, numa Europa em crise, surgisse uma proposta tão alta, ao nível das maiores estrelas mundiais. A solução para mudar de ares passava (e passa, tendo em conta que o mercado está aberto até ao final do mês) por os eventuais interessados conseguirem negociar o passe com o Benfica. Porém, sendo certo que a última palavra nestes assuntos pertence a Luís Filipe Vieira, Jorge Jesus sempre fez questão de demonstrar que o avançado faz parte do seu núcleo duro, o que equivale a dizer que conta com ele para o ataque à revalidação do título, assim como para a afirmação da equipa a nível internacional via Champions.
Ao constatar os recentes desempenhos de Cardozo na pré-época, arrisco dizer que a provável continuidade no plantel encarnado – tal como o próprio prometeu aquando do regresso a Lisboa – não mexeu com o avançado. O sul-americano só marcou presença em três dos embates de preparação das águias mas, feitas as contas, soma já quatro remates certeiros. E nem precisou de alinhar sempre 90 minutos. Bem pelo contrário, pois face à presença no Mundial da África do Sul, a gestão da sua condição atlética tem sido feita com todos os cuidados, não o obrigando a cargas muito fortes.
Na época passada, em 47 jogos ao serviço do Benfica, Cardozo apontou 38 golos, sendo de destacar os 26 conseguidos na Liga e os 10 na Liga Europa. Mesmo desperdiçando vários penáltis – continuo a considerar que o jogador sente em demasia a necessidade de aproveitar os castigos máximos quando a sua equipa está em igualdade ou desvantagem –, o dianteiro passou a temporada a provocar dissabores aos defesas contrários, marcando golos de cabeça, com os pés ou na sequência de lances de bola parada.
O mais curioso é que Cardozo, pese a sensacional veia goleadora, não é um “matador” que encante os adeptos, que leve ao delírio as multidões. Não estou com isto a dizer que a Luz não rejubila quando o paraguaio acerta, mas creio que já todos repararam que o avançado não é dos principais ídolos dos adeptos, muito mais rendidos à arte de Saviola, Aimar, David Luiz ou Luisão. Aliás, até na sua terra natal isto é uma evidência. O jogador vai tendo oportunidades na seleção, mas está longe de ser um titular indiscutível ou de entusiasmar toda a nação.
A forma de jogar de Cardozo não é, realmente, das mais brilhantes. Todos conhecemos avançados mais dinâmicos, rápidos ou tecnicistas. A questão é que, mesmo perante o olhar desconfiado de muito boa gente, o sul-americano tem desenvolvido um importante hábito: marcar golos. Com as devidas diferenças chega a fazer lembrar o caso do brasileiro Jardel, também ele um dianteiro algo atípico mas que, no seu auge, marcava golos de todas as formas e feitios. E isso, apesar da opinião contrária de alguns puristas, é o essencial para ser figura na modalidade.
2 comentários:
Carrega Benfica, carrega Cardozo !
Subscrevo e aplaudo. Grande texto.
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