quarta-feira, março 07, 2007

Análise ao Chelsea/Porto

Mourinho tinha dito que “este não vai ser um jogo decidido por individualidades, estou certo de que serão as equipas a resolver esta eliminatória. É o trabalho colectivo a fazer a diferença e é nesse sentido que temos treinado”, o certo é que foi.
Foi-o pela negativa, mas foi-o.
Hélton assumiu-se como a individualidade que resolveu o jogo.
O frango de Hélton destruiu emocionalmente o Porto.
Se não determinou uma morte anunciada, pelo menos, precipitou-a.
Nunca saberemos o que poderia ter sido o jogo caso não se tivesse verificado o erro de Hélton, mas fica-nos a certeza que as dificuldades do Chelsea teriam sido ainda maiores.
Se conseguiria a qualificação?
Penso que sim, porque a incapacidade portista de suster o caudal ofensivo do Chelsea o deixava adivinhar e porque a débacle física dos azuis e brancos na 2ª parte o permitia perceber.
Contudo, nunca o saberemos de ciência certa.
Podemos especular, mas não mais do que isso.
O Porto tinha resistido em vantagem até ao intervalo, provavelmente a mais importante e decisiva barreira psicológica de um jogo de futebol, e Hélton esbanjou esse capital de confiança.
Capital de confiança esse, que por magia e por consequência do golo obtido, se transferiu de imediato para o Chelsea, qual transferência interbancária via ATM.
Se já se afigurava complicado conservar a vantagem obtida, a partir desse momento assumiu foros de transcendência.
O Porto caiu psicologicamente e, escassos minutos volvidos, fisicamente, ao passo que o Chelsea fortaleceu a sua auto-estima e começou, paulatinamente, a impor os seus argumentos físicos e técnicos.
A partir desse instante, tornou-se evidente que o Chelsea tinha tudo para vencer a eliminatória.
Qualificar-se dependia mais de si, mais daquilo que conseguisse fazer do que daquilo que o Porto pudesse fazer.
Regressemos, no entanto, ao início.
Estou convicto que os portistas se assustaram quando viram o onze escolhido por Jesualdo.
Reviver o passado em Stanford Bridge terá sido o pensamento dos adeptos portistas quando descobriram um onze decalcado do apresentado em Highbury Park.
Terão temido o pior.
Todavia, o Porto de hoje não é o da fase de grupos, nem o Chelsea de hoje é o Arsenal de então.
Por outro lado, o sistema, embora com similitudes evidentes ao nível dos jogadores eleitos, não foi exactamente o mesmo.
Contra o Arsenal foi sempre mais um 5x3x1x1 do que o 4x4x2 em losango de ontem.
E isso faz toda a diferença, principalmente porque com uma defesa a 5 ganha-se superioridade numérica na zona defensiva e num meio-campo a 4 conquista-se superioridade na zona intermediária.
Ou seja, o 5x3x1x1 empurra a equipa para a zona da sua grande área, cerceando-lhe de forma quase integral a sua auto-determinação, ao passo que o 4x4x2 em losango fá-la avançar uns bons metros no terreno (mais ou menos consoante a estratégia para o jogo) e garante-lhe capacidade de definição ofensiva da partida.
Assim, a alteração sistémica que Jesualdo introduziu foi suportada e absorvida pela equipa de forma natural, sendo que, simultaneamente, serviu na perfeição os seus propósitos para o encontro.
Ao lançar a sua equipa em 4x4x2 em losango, Jesualdo transmitiu aos seus jogadores uma mensagem clara: Ainda que seja necessário alterar o sistema para vencer o Chelsea, não o faremos abdicando do processo ofensivo e dos nossos principais princípios de jogo.
Deste modo, recusou qualquer ideia de subserviência ou temor dos ingleses.
Claro está que perdeu alguma da identidade da equipa, mas fê-lo nos seus próprios interesses.
Fê-lo porque sabia que só garantindo superioridade numérica no meio-campo podia vencer ou, pelo menos, equilibrar o jogo.
Aliás, a equipa entrou em campo de forma exemplar e dando corpo a essa ideia.
Agressiva, demonstrando disponibilidade física e pressionando o meio-campo do Chelsea, impedindo-o de pensar.
Estruturado sob um bloco médio/baixo e compacto, o Porto ganhou ascendente no dealbar da partida.
Sempre equilibrado, atacava sem descurar a transição defensiva.
Aos 9 minutos, o golo que premiou o melhor período do Porto no jogo.
Um grande golo, nascido da execução perfeita de uma fantástica jogada colectiva, protagonizada por Pepe, Lisandro e Lucho e finalizada por Quaresma.
Melhor seria impossível.
O Porto tocava as nuvens.
O Porto aproveitou a posse de bola dos ingleses, atrai-os o mais possível para o seu meio-campo, deixo-os subir as suas linhas, para, em seguida, conquistar a bola e lançar uma rápida transição ofensiva que encontrou o adversário desposicionado e com poucas unidades no seu meio reduto.
Após o golo, ainda se seguiram 15 minutos consistentes, em que o Porto logrou conservar o equilíbrio estrutural da equipa, sem comprometer por inteiro o momento ofensivo.
Continuou a pressionar em zonas adiantadas do terreno e a inviabilizar as transições rápidas do Chelsea, o que lhe permitia manter-se sempre defensivamente organizado e, assim, suster com relativa facilidade as investidas dos ingleses.
Todavia, a partir da meia-hora, o Porto em bloco médio-baixo deu lugar ao Porto em bloco baixo e que raramente conseguia manter a bola em seu poder.
Valia a desinspiração colectiva do Chelsea, cujo processo ofensivo se mostrava confuso e, como tal, inócuo.
Os ingleses cresciam e tomavam conta da partida.
Mourinho que até então não conseguira sequer dominar o jogo, via-se agora não só empossado no seu domínio como no seu controlo.
O Porto havia perdido o controlo das incidências do jogo e limitava-se a resistir.
Estoicamente, mas já sem glória.
O F.C. Porto encolheu-se e a equipa partiu-se em duas – uma junto à grande área composta pelos defesas e médios e outra no meio-campo do Chelsea composta por Quaresma e Lisandro.
Perante este cenário, o domínio do Chelsea acentuou-se, sucedendo-se as jogadas de ataque dos ingleses.
O Chelsea começou a conquistar a esmagadora maioria das segundas bolas e a criar sucessivos lances de aflição junto da área portista.
Contudo, Lampard e Balack continuavam a dar sinais claros de falta de inspiração, persistindo a incapacidade dos londrinos em criar verdadeiras ocasiões claras de golo.
Deste modo, ainda que um tanto ou quanto subjugado pelo adversário, o Porto lograva alcançar o intervalo em vantagem.
Pensava-se que seria um importante trunfo psicológico para o resto do jogo.
Puro engano!
É que se o Porto foi para o intervalo a ganhar, entrou na segunda parte a perder.
Empatado no resultado, mas a perder em tudo o mais.
Daí ao naufrágio foi um pequeno passo.
As características que o jogo havia evidenciado na 1ª parte, acentuaram-se no segundo tempo.
Com efeito, o Chelsea continuou no seu incessante momento ofensivo e o Porto no seu impotente momento defensivo.
E, deste modo, o Porto foi recuando, recuando para junto da pequena área e o Chelsea aproximando-se, aproximando-se da grande área portista.
Com o jogo e a eliminatória empatados, Jesualdo mandou o 4x4x2 às malvas e regressou ao tradicional 4x3x3.
Tirou Meireles e Cech e fez entrar Ibson e Adriano.
Percebe-se que tentou devolver intencionalidade atacante à equipa.
Ibson daria a força necessária ao meio-campo para lançar o momento ofensivo.
Adriano serviria como pivot e conquistador de bolas aéreas que possibilitassem a construção ofensiva no último terço do terreno.
Mas, a equipa, tal como quando mexeu na 1ª mão, estava já descrente nas suas possibilidades.
Limitava-se a defender e a esperar que o jogo acabasse rapidamente.
Por outro lado, a saída de Meireles foi um erro.
Um erro porque o jogador a substituir deveria ter sido Lucho, em completo deficit físico desde o início da 2ª parte.
O meio-campo recebeu uma injecção de energia por força da entrada de Ibson, a qual, contudo, se esvaía um pouco mais à frente na inacção de Lucho.
Destarte, o Porto não conseguiu sacudir o Chelsea da sua área, pese embora o denodo do recém-entrado Ibson.
Assim, foi, sem surpresa, que o Chelsea, aos 78 minutos, chegou ao 2-1 por intermédio de Ballack.
Como que dando razão a Mourinho quando afirmou que seria o colectivo a decidir, o 2º golo do Chelsea nasceu de um brilhante trabalho colectivo.
Poderá pensar-se que este golo nasceu de um erro de marcação, pois que Ballack apareceu solto, sem marcação, no interior da área azul.
Todavia, Ballack só surgiu em posição tão privilegiada porque a movimentação global da equipa assim o permitiu.
Mais do que culpar Pepe e Bruno Alves pelo golo, há que enfatizar o excelente desenho ofensivo do Chelsea.
O melhor e até talvez o único digno de verdadeiro realce em todo o jogo.
Depois do golo, o Porto entrou em apneia, mostrando-se incapaz de reagir.
Daqui até final, nem por uma vez logrou incomodar Cech.
O Porto sonhou, mas não demonstrou capacidade para tornar o sonho realidade.
Mourinho sofreu, mas soube, mais uma vez, aproveitar os erros e as debilidades do adversário.

9 comentários:

VermelhoNunca disse...

Três considerações apenas.
Parabéns Helton.
Parabéns Paulo Costa, pois após o trabalho feito em Leiria, foi colocado na jarra na próxima jornada da Liga.
Força equipa francesa que vai em antepenúltimo lugar do campeonato francês.

samsalameh disse...

Obrigado Helton!!!
Fizeste ontem lembrar as grandes exibições do Baía!!!

Vermelho disse...

amigo mínimo:
no computador que estou a operar não consigo ver videos, mas se me disser o nome do video penso que consigo postá-lo.
abraço.

Vermelho disse...

amigo mínimo:
já tentei postar, mas parece que não consigo.
caso persista a impossibilidade, à noite, em casa, tentarei de novo postá-lo.
abraço.

Vermelho disse...

amigo sempre:
já descobri o video em questão.
o problema prende-se com as restrições a que estou sujeito no computador que estou a operar.
À noite, em casa, postarei o video.
abraço.

salvatruxa Jr. disse...

Amigos,
Como é do conhecimento geral, está sob investigação o FC Porto-U.Leiria da supertaça que o FCP ganhou por 1-0, autogolo de Helton.
Alegam os investigadores que Helton terá recebi euros mais a promessa do contrato que actualmente tem, para de algum modo favorecer o FCP.
A minha pergunta é se Helton par o ano vai jogar no Chelsea?
Este é o meu "athesis Magiste"de hoje.

salvatruxa Jr. disse...

O FCP jogou melhor que o Chelsea.
Perdeu.
No conjunto dos 2 jogos foi melhor.
Perdeu.
Não merecia ter sido eliminado.
Foi.
Assim até sabe melhor!
Obrigado Helton!
Obrigado Jesualdo!

Biely disse...

Em resposta ao 1º comentario gostaria so de dizer que o carissimo jorge minimo deve andar a jogar o cm ou coisa que o valha... Valha-nos é o FCP fora da UEFA!!!

Vermelho disse...

Amigo Biely:
é um prazer ver-te por aqui.
espero que a tua presença ganhe foros de permanência.
abraço.