domingo, outubro 11, 2009

Artigo de Opinião de Luís Avelãs

Bettencourt e a conversa da treta

O presidente leonino já tinha avisado - depois de ter elogiado o Benfica durante a pré-temporada, o que não caiu bem em muitos associados e adeptos do Sporting - que iria continuar a dizer o que pensava, pouco ou nada preocupado com a interpretação dada às suas palavras. Cumpriu. Em Vendas Novas, no fim-de-semana, resolveu atirar-se com tudo ao rival da Segunda Circular, criticando o recente Fundo de Investimentos, os valores atribuídos aos passes de alguns futebolistas encarnados, etc, etc.

Por outras palavras, José Eduardo Bettencourt fez aquilo que é típico em Portugal: entreteve-se a falar da casa alheia, esquecendo-se que a sua principal preocupação devia ser tratar dos (muitos) problemas do clube que dirige. Mas, já se sabe, falar (e opinar) sobre a vida dos outros é, em qualquer situação, sempre mais fácil e apetecível.

Não interessa para o caso se o que Luís Filipe Vieira faz na Luz está certo ou errado. Isso é algo que, em princípio, não deveria ser questão importante para Bettencourt. Se o líder leonino considera que o tal Fundo de Investimento "é uma vergonha" tem bom remédio: não o subscreve, nem decide imitar o modelo no seu clube.

Bettencourt parecia ser um dirigente diferente. Chegou a Alvalade cheio de energia e desejoso de restituir aos leões um passado mais popular. O "show" dado no momento da eleição - ladeado de outros membros dos órgão sociais que mais pareciam a cúpula da Juventude Leonina - prometia, de facto, um Sporting mais próximo das bases. No entanto, ao optar por este tipo de declarações e postura, perfeitamente fora do contexto, parece ser igual a tantos outros. Com a agravante de que, desportivamente, o clube tarda em acertar o passo.

Quem tem como desígnio (e actualmente como profissão, pois convém recordar que é pago para exercer estas funções) comandar os destinos do Sporting, não devia perder tanto tempo a olhar para o que se passa na Luz ou no Dragão. Em Alvalade (e na Academia), pelo que todos sabemos e temos visto, há assuntos de sobra para o preocupar.

A conversa de que os rivais possuem orçamentos mais elevados está gasta, assim como a da aposta na juventude (que Paulo Bento já justificou com a falta de recursos financeiros). É evidente que quem tem maior desafogo pode contratar melhores futebolistas. Mas, historicamente, isso sempre foi assim. Em Portugal e lá fora. Será que Bettencourt só repara que dragões e águias gastam mais dinheiro? Será que ainda não descobriu que, por exemplo, Nacional, Sp. Braga ou Belenenses gastam menos que o Sporting e nem por isso foram derrotados pelos leões nos recentes duelos?

Os sócios e adeptos do clube de Alvalade não querem saber o que se passa na gestão dos rivais. Gostavam era de perceber a razão porque o futebol da sua equipa parece uma manta de retalhos, inclusive nos (poucos) jogos em que até conseguem vencer. E se num passado recente, o conjunto já rendeu mais, porque razão exibe uma confrangedora apatia nos últimos tempos. Mas sobre isso, o presidente parece não ter nada a dizer. Nem sobre isso, nem sobre os constantes assobios que se escutam em Alvalade, nem tão-pouco sobre as críticas a Paulo Bento que não param de aumentar.

Bettencourt tem de olhar mais para dentro e menos para fora. Por muito que se esforce a tentar esconder o óbvio, não são os adversários, nem os árbitros, os culpados das contínuas más prestações leoninas.

E já agora deixo aqui um conselho: em momentos de crise, o clube precisa de unir esforços e não de criar clivagens. Criticar de forma tão dura aqueles que, sendo sportinguistas, não pensam como ele não é a melhor estratégia. E, se como diz, "salvadores são aqueles que de forma silenciosa e invisível dão o apoio ao clube", talvez fosse boa ideia pensar duas vezes antes... de falar! É que assim está a ser exactamente igual a outros dirigentes que também pensam ser os únicos donos da verdade e da razão. E não há ninguém assim!

PS - Tinha algumas dúvidas em relação à capacidade do Benfica reagir, em Paços de Ferreira, à derrota averbada em Atenas. Fiquei esclarecido. Mesmo abdicando de jogar na segunda parte, a verdade é que as águias nem deixaram os locais acreditar num bom resultado. E ninguém se lembrou das ausências de Maxi Pereira, Aimar ou Di Maria.

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