Estão cada vez mais rápidos os ciclos de confiança e de alerta no futebol português – que o digam Jorge Jesus e Paulo Sérgio, outra vez protagonistas do fim-de-semana e outra vez pelas razões opostas. Quatro dias depois de uma humilhante derrota caseira no fecho da participação benfiquista na Champions, o treinador campeão parecia outro. Voltou a fazer as suas corridas rápidas ao longo da linha lateral, a gesticular mais e melhor do que os antigos polícias sinaleiros, a usar a voz de comando para orientar posições defensivas e para estimular movimentos ofensivos. Será coincidência, mas a verdade é que nunca a superioridade do Benfica frente ao Braga esteve em causa e percebeu-se cedo que os golos seriam mesmo uma questão de tempo.
Ochoque vitamínico de Jesus chegou pela voz de Luís Filipe Vieira, entre os dois jogos. Dir-se-á que o tom de crédito de confiança ao técnico também se ficou a dever a terceiros (sim, o milagre de Lyon, que manteve o Benfica na Europa). Mas Vieira soube falar no tempo certo e no sentido que se espera de quem tem de decidir racionalmente. Chegou, até, a sublinhar erros do passado para declinar a hipótese de os repetir. Sem percalço frente ao Rio Ave, o Benfica vai para o Natal com um capital de confiança externo que lhe permite respirar e recomeçar. Já perdeu a Supertaça, já caiu na liga dos milhões, tem atraso considerável no campeonato. Mas sabe que, sem estabilidade (e não só emocional), arrisca-se a perder tudo o resto. É a diferença entre o revés e a catástrofe.
Já Paulo Sérgio começa a ver reduzida a margem de manobra e, afastado da Taça, vai precisar de se alimentar muito da Europa. Só que o problema do Sporting parece diferente – com aquela matéria-prima, a qualidade não estica e, sobretudo, parece insuscetível de se traduzir em estabilidade e consistência. Num dia bom, os leões podem ganhar a qualquer dos rivais. Mas, num dia mau, podem perder com qualquer adversário. O mais fácil (e o mais praticado) é culpar o técnico mas, no caso particular de Paulo Sérgio, julgo que se trata de uma enorme injustiça. Ele já apresentou vários tipos de omeleta, mesmo sem ovos no cesto – não pode é servi-la todos os dias. Ainda assim, no final, estou em crer que a época do Sporting acabará por ser menos aflitiva e menos medíocre do que na temporada passada. A menos que cortem o oxigénio a Paulo Sérgio.
Uma nota final para André Villas-Boas: em fase de recordes e em estado de graça, ele fala como respira. Mandaria a prudência que não gastasse o ar todo, porque pode vir a precisar de fôlego, se a coisa se complicar. Até Mourinho sabe que o silêncio, de quando em vez, é o melhor remédio para evitar o desgaste e o cansaço. Está em espera.
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