A arbitragem de Elmano Santos no Dragão é um sinal preocupante do estado a que chegou o futebol português. O regime da podridão aí está, soberbo e desajeitado, sem pedir licença para se instalar. Um labéu contra o FC Porto? Acima de tudo, a verificação de que a bola indígena não quer regenerar-se e usa a arbitragem para expor os seus ditames, as suas forças e também as suas fraquezas.
Elmano Santos é apenas uma marioneta comandada pelos sinais que vão sendo emitidos pela(s) respetiva(s) “torre de controlo”. Um árbitro fraco, sem classe, desprotegido perante os vícios sistémicos de um futebol artesanal com tiques de “indústria”, que marca um penálti contra o V. Setúbal apenas vislumbrado pela confabulação dos seus temores e que, mais tarde, torturado pela sua má consciência, assinala uma outra grande penalidade, agora contra o FC Porto, cuja conversão anulou para mandar repetir, com o argumento de que ainda não tinha apitado.
Para tranquilizar, desde já, os espíritos mais perturbados, quero dizer, sem sofismas, que os mesmos lances, exatamente com as mesmas características, poderiam ter acontecido no Estádio da Luz, a outra “torre de controlo”, agora atingida pelo atómico e prometido despertar do Dragão.
Se o jogo fora das quatro linhas não existisse (ele ainda aí completamente desconjurado em quase todos os segmentos da sociedade), o presidente do FC Porto não teria afirmado, porventura sem dar conta da importância da sua afirmação, de que o êxito desportivo do Benfica só aconteceu porque, “mea culpa, mea culpa”, houve quem tivesse adormecido.
Quer dizer que Elmano Santos é materialmente corrupto? Não necessariamente. Quer dizer que os árbitros se deixam corromper materialmente para favorecer este ou aquele clube? Pode não ser isso de que se trata, mas de uma corrupção intelectual e de uma coação psicológica sem rosto, resultante daquilo a que chamo os vícios sistémicos da bola indígena. E como é que se combatem esses vícios? Com práticas discursivas e com comportamentos que conduzam à expulsão daqueles que não pugnam pela ética e não são capazes de um laivo de desportivismo. Onde estão essas pessoas? Talvez demasiado comprometidas, talvez com medo de aparecer, talvez com a sensação de que não vale a pena combater este “monstro” que está a matar o futebol.
O “monstro” que não quer saber da qualidade do jogo, da violência, do preço dos bilhetes, do monopólio dos direitos televisivos que a todos condiciona, das contas pouco transparentes, das transferências sem controlo, das SAD que foram um engodo, do despesismo, da desresponsabilização, do assalto à galinha que ainda põe um ovo.
Talvez não seja possível nem com Pinto da Costa nem com Luís F. Vieira, por diversas razões. Mas o problema está aí: é preciso tornar possível, sem cinismos, sem estratégias armadilhadas, o diálogo entre FC Porto e Benfica, diálogo institucional, à margem das rivalidades. Se não houver essa consciência e a certeza de que a arbitragem não pode continuar neste caminho (incompetência, juízos aleatórios e não monitorizados), então preparemo-nos para o funeral. Os estádios estão vazios porque já são poucos aqueles que acreditam no jogo. O futebol vai morrer, se o SOS não for captado.
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