quinta-feira, dezembro 16, 2010

A WikiLiga - Pedro S. Guerreiro

O Wikileaks está a pôr o mundo em choque. A revelação de milhares de telegramas secretos da diplomacia americana, na Internet e nos jornais, está a trazer escândalos e bisbilhotice. Lembra-se do Caso da Fruta?...

Sim, o futebol português já teve o seu Wikileaks: a publicação, primeiro escrita e depois dos próprios registos sonoros, de escutas telefónicas. Deu no que deu: na contestação pública de um processo arquivado pelos tribunais.

Caso da Fruta, Apito Dourado, Apito Final, Envelope, o Túnel da Luz, o de Braga... O futebol tem sido fértil em casos barulhentos, mas esse da “wikifruta” foi mais longe e foi longe de mais. A violação do segredo de justiça é justiça pelas próprias mãos. É uma cobardia: suspeito não é arguido e arguido não é culpado. Só que culpado nem sempre é condenado – daí que as fugas de informação do sistema judicial português aconteçam porque o próprio sistema se descrê – e prefere uma condenação na praça pública a condenação nenhuma nos tribunais. O problema é que mesmo quem assim pensa foi à Internet, como eu fui, ouvir as gravações. Tirou conclusões. E comparou-as com as dos tribunais.

O Wikileaks tem muitas destas características, incluindo ter milhares de informações irrelevantes sobre os citados, se são pândegos, obstinados ou espirituosos. Mas o Wikileaks é uma fuga de informação diplomática, não judicial. E estão a ser revelados segredos de Estado que deviam ser julgados por tribunais. O Wikileaks é uma forma, arriscada, que a democracia encontrou para se soltar de Governos que a aprisionam.

Ao ouvir escutas de futebol, prefiro achar-me incompetente para julgar do que suspeitar de quem julga. No dia em que acreditarmos que a justiça portuguesa é orquestrada por alguma política, nem valerá a pena “wikiliquidá-la”, mais vale emigrar.

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