Pode parecer uma mania da política transferida para o futebol, esta necessidade de fazer balanços ao fim de 100 dias (pouco mais de três meses). Acontece que, nos tempos que correm e apesar da presença perene de agentes provocadores e de demagogos profissionais, parece ter sido o universo da política a deixar-se contagiar pelos podres do futebol, tantas são as jogadas de bastidores, os tráficos de influências, as pequenas ou médias corrupções, tantos são os casos em que até os poderes e os "árbitros" se deixam enlamear. Aproveite-se, então, esse tique dos 100 dias (a completar amanhã) para julgar o "governo" de Jorge Jesus no Benfica.
Sobre a pré-época - precipitadamente desvalorizada pelos que não entendem a sua importância - estamos conversados: quatro troféus, de desigual importância mas todos eles indicativos de triunfos, para começar a perceber como iria jogar o Benfica. Algo que, por exemplo na época passada, nunca se chegou a entender.
No campeonato, depois de um percalço inicial (Marítimo), veio a deslocação a Guimarães. Nesse encontro, mais do que a sabedoria técnica, valeu o pulmão. Com riscos, que se intuem inerentes ao estilo de jogo, o Benfica lutou até ao golo. Depois, duas goleadas (Setúbal e Belenenses), sempre menosprezadas pelos adversários facciosos mas seguidas e registadas com atenção por quem já ganhou consciência de que a onda é efetivamente forte. Com a Europa pelo meio - e sem desvalorizar os ultrapassados, o primeiro grande teste será mesmo a viagem a Atenas -, chegou Leiria. Importante, para se ver um Benfica "operário", batalhador, longe da apatia fatalista das últimas temporadas. Fundamental, para baixar a fervura na euforia e para se perceber que o caminho será longo e que os oponentes vão mudar em função do poder encarnado.
Jorge Jesus, capaz de perceber a vaga de fundo que o seu Benfica está a motivar (enchentes no Restelo e em Leiria, média categórica nas assistências na Luz), aproveita a maré mas não embarca em bravatas. Recuperou artistas (Aimar, Saviola), fez crescer talentos (Di María, Coentrão), rejeitou favoritismos (Ruben Amorim e César Peixoto lutam por lugares), aproveitou estatutos (Luisão, Nuno Gomes), capitalizou reforços (Ramires, Javi García), rentabiliza eficácias (Cardozo, David Luiz). E quer rodar o plantel (Keirrison, Felipe Menezes) porque sabe como a época é longa e dura. Corrige sempre. Aplaude muito. Repreende q.b..
Estamos em setembro, é certo. Mas os dias de fé que se vivem, com entusiasmo renovado, devem - em grande parte - ser-lhe creditados. Na chegada a um grande, até como gestor de recursos humanos, Jorge Jesus está a ganhar as batalhas. Talvez por ser autêntico e apaixonado. Como deve ser.
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