terça-feira, setembro 15, 2009

Artigo de Opinião de João Querido Manha: Os Putativos Fora de Jogo de Belém e Meios Tecnológicos na Arbitragem

Uma leitura estranha da regra do fora-de-jogo, agravada pela exibição de um gráfico falso de imagens virtuais, transportou um lance banal de futebol, o golo de Cardozo no Restelo, para discussões frenéticas em meios de comunicação e redes sociais, a evidenciar um conhecimento das leis ao nível do baixo índice europeu de prática desportiva.

A FIFA reconhece que a Lei 11, embora das mais curtas, tem o rótulo de ser das mais complicadas e controversas. Mas, pode ler-se no site da FIFA, "isso não corresponde à realidade: a Lei 11 é muito fácil de perceber, tão fácil como 1, 2, 3 - 1 de posição, 2 de interferência na jogada, 3 de infração".

O ponto 3 não chegou a verificar-se nos golos de Cardozo e Ramires, embora no último caso se observasse o ponto 1, de fora-de-jogo posicional. O primeiro lance é de cabo de esquadra: Cardozo estava atrás da linha da bola e não era preciso ter olho de falcão para o perceber. O último era mais complexo e admitiria a invalidação se o cruzamento de Fábio Coentrão se dirigisse a Ramires (interferência), o que não foi o caso, antes de o brasileiro ser recolocado em jogo pelo desvio deliberado do defesa do Belenenses.

Em conclusão, duas excelentes decisões do árbitro auxiliar transformaram-se, injustamente, em censuras ácidas e notas negativas à equipa de arbitragem. Bastaria que os responsáveis da transmissão televisiva, conhecendo bem a regra, soubessem interpretá-la em tempo real - como se exige ao fiscal-de-linha - para nos poupar a discussões absurdas. Como a meteórica passagem de Carlos Azenha pelo futebol real novamente confirma, este desporto simples é muito mais do que cultura genérica "enriquecida" com terminologia da moda: a televisão tem responsabilidades especiais relativamente a um bom conhecimento das regras do jogo e há muitos anos presta esse serviço em outras modalidades, através de comentadores de elite que nunca ficam fora-de-jogo.

A propósito, a contestação de Roger Federer às decisões do "olho de Falcão" no Open dos Estados Unidos ajuda a perceber a resistência da FIFA a um mecanismo que, ao revelar imprecisões na leitura do contacto de uma bola pequena com uma linha no solo, torna-se absolutamente falível quando aplicado a um desporto em que a bola está sempre em suspensão. E de utilização altamente perigosa, a julgar por este episódio do Belenenses-Benfica, que nos transporta a episódios dos primeiros tempos das "imagens virtuais" no final do século passado: elas são muito fáceis de manipular e condicionar, ficando à mercê de analistas incompetentes ou desonestos.

Apesar de a arbitragem ser tema central da maior parte dos debates televisivos, nunca despertou nos meios o interesse de realizar um programa dedicado às regras que ajudasse a desanuviar a tensão sobre sector tão sensível e dotasse os adeptos de melhor entendimento. Aliás, o interesse pelos desportos e pela arbitragem aumentaria entre as crianças portuguesas se lhes fosse dada mais informação específica sobre cada desporto, alguns bem interessantes enquanto exercícios de administração regulamentar. Sempre seriam menos adultos fora-de-jogo no futuro.

1 comentário:

BT26 disse...

Atenção que no golo do Ramirez aparece uma imagem com a tal linha(desta vez na bola como deveria ter sido sempre nestes dois lances)e ele até está atrás da linha da bola,por isso mesmo neste lance ele não está em fora de jogo posicional.

Eu sou a favor das novas tecnologias,mas teria de ser algo que não fosse manipulado.Por exemplo a cena do olho de falcão do ténis,fala-se que erra e mais não sei o quê,que não é prefeito,mas pelo menos não erra para um lado em particular,aquela bola que foi dentro e o programa diz que é fora,não olha para os jogadores.Já os árbitros não se pode dizer o mesmo,por exemplo(e para não estar sempre a falar de futebol)neste torneio,us open,o Novak faz um grande serviço,o arbitro de linha diz que é bom,o arbitro central(o que esta na cadeirinha)diz que é fora,o Novak pede o olho de falcão,o programa diz que é dentro,e o arbitro da cadeirinha manda repetir o ponto.Para quem não sabe(e não viu o ponto),nunca naquela situação depois do programa dizer que foi dentro se teria de repetir o ponto,isto porque o federer não ter conseguido meter a bola para o outro lado.Por acaso o Novak ganhou esse ponto mas foi logo o mais longo até ao momento,e logo mais gasto físico,para já não falar do gasto psicológico.

Benfica sempre