sexta-feira, dezembro 10, 2010

O grande desafio de Jorge Jesus - Bruno Prata

Contra o que eram as expectativas gerais, o Benfica transformou-se, esta época, num “case study” em que é muito difícil encontrar um nexo de causalidade para tamanha acumulação de fracassos. E a ausência de justificações suficientemente razoáveis para tantas exibições medíocres acaba por ser a principal fragilidade de Jorge Jesus. Não fora o golo marcado pelo Lyon ao cair do pano e estar-se-ia talvez já a falar no fim do ciclo do técnico benfiquista - talvez não ainda no sentido do despedimento imediato, antes na probabilidade de nem começar a próxima época. Por isso, o pontapé certeiro do jovem francês Lacazette tanto poderá significar a abertura de uma nova janela de oportunidade como o estertor final de quem ainda há seis meses, numa reunião de treinadores de elite da UEFA, se auto-intitulava como “mestre da táctica”.

O diagnóstico vem recolhendo unanimidade. Num piscar de olhos, o Benfica deixou de ser uma equipa estilista, perdeu o seu poder de intimidação e a capacidade de transformar os adversários em bonecos. Evaporou-se pouco a pouco. E, ao contrário da época passada, em que sofria de incontinência goleadora, parece uma equipa mal cozida e sempre dependente da genialidade de alguns dos seus jogadores. Não se vêem movimentos de rotura nem a mesma organização colectiva do jogo. Defensivamente, há uma flagrante incapacidade de reduzir os espaços e de pressionar, qualidades em que se distinguia há meio ano. E, no ataque, falta-lhe capacidade de explosão, escolhendo invariavelmente o corredor mais central. Tudo ao contrário do que se lhe viu na última época.

Os efeitos desta estranha e surpreendente metamorfose são também conhecidos. O Benfica perdeu nove dos 21 jogos oficiais realizados, segue a oito pontos do líder da liga portuguesa e sofreu quatro derrotas nos seis jogos da Champions, a sua pior participação de sempre em sete presenças na fase de grupos, o que não joga nada bem com o forte investimento realizado e o discurso ambicioso em termos europeus. Além de ser a única das quatro equipas portuguesas que não assegurou o estatuto de cabeça de série no sorteio da Liga Europa que terá lugar no próximo dia 17, o que poderá ser perigoso, denotou ainda uma incapacidade flagrante para jogar fora de casa frente a adversários com alguma dimensão. Na Liga dos Campeões, perdeu por 2-0 em França (Lyon), baqueou pelo mesmo resultado na Alemanha (Shalke 04) e por 3-0 em Israel (Hapoel). Acrescente-se-lhe o 5-0 com que saiu do Dragão, para a liga portuguesa, e o 2-0 com que foi derrotado em Aveiro, também frente ao FC Porto, na Supertaça. No total, imagine-se, dá um score de 14 golos sofridos e nenhum marcado…


Este quadro negro - parece hoje claro - não pode ser apenas relacionado com as saídas de Di Maria e Ramires. Nem com o facto de o FC Porto (que venceu 20 dos seus 23 jogos oficiais) ser actualmente a única equipa invencível na Europa. No máximo, pode questionar-se até que ponto o Benfica foi certeiro nas ordens de compra. Não pelo lado da categoria dos jogadores contratados, porque salta à vista que Gaitán pode não ser um jogador à imagem de Di Maria, mas tem uma qualidade indiscutível, enquanto Kardec, Jara e Airton são também jogadores acima da média. Mas Gaitán e Jara têm apenas 22 anos e são os mais velhos daquele lote.

Mesmo sabendo-se que os jogadores não atingem a maturidade na mesma altura, é notório que nenhum deles atingiu ainda a plenitude das suas capacidades. O problema é que o Benfica, por limitações orçamentais, precisa de investir em jovens promessas que mais tarde resultem em mais-valias financeiras. Neste ponto, não é sequer uma situação muito diferente daquela que se vê no FC Porto. Os portistas também investiram bom dinheiro em Otamendi (22 anos), Souza (21), Walter (21) e James Rodriguez (19) e Emídio Rafael (24), tendo ainda feito regressar Ukra (19) e Castro (22). Entre todos eles, só o central argentino parece ter atingido já a “fase adulta”, o que não invalida que todos os restantes pareçam boas apostas de futuro. No Benfica, é hoje evidente que Roberto (24 anos) é o reforço com rendimento mais elevado e consistente, o que não deixa de ser curioso. Serve para demonstrar o quanto estavam a ser precipitados todos os que ridicularizaram o seu valor. Serve, ainda, para confirmar o quanto estavam certos todos aqueles que seguiram ou se informaram sobre a sua carreira em Espanha. Mas serve, também, para provar quão volúvel pode ser o futebol: Roberto teria, quase de certeza, sido despachado da Luz se, frente ao Setúbal, Júlio César não tivesse sido expulso e se o guarda-redes espanhol não tivesse tido a felicidade de defender um penálti. Numa indústria tão cara, custa a acreditar que as coisas se possam passar com tamanha leviandade.

Ainda sobre os reforços, a diferença do Benfica relativamente ao FC Porto é que este não tem dependido em demasia dos contributos das suas jovens promessas, garantindo-lhes assim um período tranquilo de adaptação e crescimento. Isto porque o rendimento das primeiras figuras tem estado de acordo ou até acima das expectativas.

No Benfica, ao invés, os reforços entram já em campo condicionados pelo facto de saberem que estão permanentemente a ser avaliados e julgados à luz de quem já lá não mora. E isso é tremendamente injusto porque Di Maria, por exemplo, precisou de dois anos de tarimba antes de o seu valor merecer a unanimidade. Quando se olha para os reforços do Benfica, no máximo pode discutir-se se houve suficiente cuidado em resolver as principais debilidades. E, aí, parece óbvio que Jesus teria outras armas se não tivessem falhado as tentativas de contratação de Leto ao Panathinaikos e, principalmente, de Wesley ao Santos (entretanto transferido para o Werder Bremen). Da mesma forma, o Benfica perdeu ainda há dias a possibilidade de entrar no negócio que lhe garantia a cedência de Elias, do Corinthians, agora a caminho do Atlético de Madrid. Qualquer um deles podia assumir a responsabilidade de dar capacidade de explosão ao meio-campo benfiquista.

Mais do que o fracasso dos reforços, parece cada vez mais claro que o Benfica está a pagar principalmente o rendimento medíocre de muitas das suas vedetas já com alguns anos de casa. E, aí, a responsabilidade tanto pode ser dos próprios jogadores como do treinador. Ou de ambos, como é mais provável. O onze titular é quase o mesmo que ainda há seis meses funcionava sobre os adversários como um ciclone. Hoje, apenas Coentrão, Carlos Martins e, por vezes, Aimar mantêm um rendimento de acordo com o seu estatuto. Os restantes, ou lidaram mal com o sucesso, ou ficaram inebriados com a possibilidade de se mudarem para ligas mais tentadoras financeiramente.

Depois de uma época em que recebeu justificados elogios, Jesus também parece ter ficado algo diferente desde que foi assediado pelo FC Porto e conseguiu renovar e multiplicar o ordenado. Contra si terão funcionado, no balneário, as notícias sobre o prémio gordo que recebeu pela conquista da liga. Tal não deveria ter criado polémica atendendo ao ordenado baixo que até aí recebia, não fora o caso de os prémios dos jogadores não terem sido atempadamente estabelecidos e terem acabado por ser menores do que eram as suas expectativas. Aí, quem terá falhado foi a gestão de Luís Filipe Vieira, mas ao treinador pode-se apontar o dedo noutras situações. Não foi capaz, por exemplo, de inverter nenhum resultado negativo e tomou várias opções tácticas discutíveis, a começar pela aposta em César Peixoto, que já leva o rótulo de suplente para dentro do campo.

Mas Jesus falhou ainda noutros capítulos. Juan Lillo disse um dia que um treinador deve ser como Deus: estar em todos os sítios, mas nunca visível. Jesus fala demasiado na primeira pessoa. José Mourinho costuma dizer que “é na conferência de imprensa antes do jogo que a partida começa”, porque desviar a pressão dos jogadores “é uma característica que um líder nunca deve perder”. Jesus não o consegue com os “monólogos” na Benfica TV. Alex Ferguson garante que um dos segredos para o seu sucesso é a gestão dos seus subordinados (“Se perder o controlo sobre os multimilionários do balneário do Manchester, estou morto”). Jesus deixou que o seu discurso quase sempre rude se gastasse prematuramente.

Mais do que reforços, o Benfica precisa de encontrar rapidamente algo que tenha um efeito balsâmico capaz de resolver esta fase depressiva. Esse é o grande desafio de Jorge Jesus.

4 comentários:

k disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
k disse...

Será esse o real diagnóstico do nosso glorioso!
Olhe que não olhe que não pois você enumera meia dúzia de jogadores mas esconde que o Benfica na minha ótica e melhor que estes adversários da liga dos campeões!
A SORTE NÃO QUIS NADA COM NOSSO!
Alem de quase seguro que os do apito em vez de beneficiar ajudaram OS ADVERSÁRIOS A SEREM MAIS FORTE!
ANALISE OS JOGOS friamente e vai ter fortes queixas no final dos jogos mesmo antes de ser a sorte não querer nada connosco.
O JJ E ASSIM E ASSIM TEMOS de saber viver com ele!
Se o JJ mudar vai ter de mudar o sistema de jogo e depois vais andar aqui a dizer que bla bla bla ganha-se mas não se joga...

eagle01 disse...

Comentar a opinião de um adepto do FCP, é sempre complicado. Porque um adepto do FCP é sempre um MAU CONSELHEIRO. Bruno Portas faz o seu papel, o que interessa às gentes do FCP. O Benfica tem plantel, faltaram-lhe os penaltys a favor, que existiram, contra a Académica, o Nacional e o Guimarães. Isso Bruno Prata não fala. Mas mudem a cor das camisolas: ele iria lembrar-se dos 9 pontos que FCP poderia ter facturado com decisões correctas dos árbitros, e não tenho duvidas em dizer que não se iria esquecer dos penaltys assinalados a favor do Benfica e que não foram (dando exemplo do jogo da Naval e Setúbal que valeram 6 pontos ao FCP).
Meus caros: o mundo da OPINIÃO é este:levar os adeptos a pensarem no que interessa. E o que interessa é a confusão total, pois cada analista diz sua coisa. Era o Elias que viria dar golos ao Benfica? Como tem ele a certeza que não seriam invalidados como tantos outros que já marcamos este ano? Ah, as arbitragens, essas é que não se pode falar, excepto quando os erros pontualmente prejudicam o FCP. Tudo isto é uma grande TANGA. O Benfica tem 9 derrotas mas 4 delas, FCP na Supertaça, Académica, Nacional e Guimarães tiveram empurrão de árbitros que não assinalaram os penaltys que existiram. A favor do FCP até podem, cair sozinhos como contra o Setúbal. Depois temos 4 na Champions onde para variar fomos de peito aberto jogar em casa de equipas muito difíceis, como as próximas fases da Champions vão mostrar. Não há problema com jogadores e treinador do Benfica. Há um problema com o modelo de jogo na Champions (e Liga Europa onde vamos falhar se jogarmos da mesma maneira), e há um problema de arbitragens cá dentro. O resto é FILOSOFIA.

71460_5/8 disse...

o Porto só ainda não perdeu porque os árbitros não deixam... as vezes nem deixam que empate como se viu com o Elmano!