A FPF está fora do enquadramento legal, vigora a suspensão (parcial) do estatuto de utilidade pública desportiva, mas a vida continua porque o que mesmo interessa (agora) é a figura do selecionador.
Ele aí está – Paulo Bento. Uma Federação sem selecionador, mesmo estando em desconformidade com a lei, não é a mesma coisa do que uma Federação com selecionador, mesmo que o “ex” tenha sido ilibado das acusações que lhe foram imputadas por um organismo tutelado pelo Estado, no âmbito de um órgão jurisdicional (disciplinar) da própria FPF.
Não houve dignidade neste processo, que projeta uma certa imagem do país. É assim que (não) funciona o Portugal dito democrático e se acha cada vez mais sujeito às “leis de conveniências” dos lóbis dominantes, nos quais o futebol e a política formam o casal sensação – que nunca passa de moda – da promiscuidade.
Não faz sentido discutir Paulo Bento sem discutir a Federação (em estádio de caducidade). Não faz sentido discutir Paulo Bento sem discutir a relação estabelecida entre o Estado e a Federação. Não faz sentido discutir Paulo Bento sem discutir a matriz do “parque jurássico” sediado na Alexandre Herculano. Não faz sentido discutir Paulo Bento (PB) na base do “caráter” e da “seriedade” como se fez nas últimas horas. Quem julga quem?
Rumo ao Euro’2012, não vale a pena embebedarem-nos com planos e projetos para o futuro. Não há oportunidade para explorar esse filão. Não há tempo.
Paulo Bento pôs-se à disposição da FPF e a FPF, escaldada com as consequências do último contrato realizado com o ex-selecionador, também sabe que o acordo “para dois anos” estabelecido com PB tem o mesmo valor jurídico de um contrato “para dois jogos”.
Oimperativo do bom senso ganha quando não há espaço para outras manobras. Sem sofismas: PB ganha os dois jogos e balanço para um ciclo virtuoso, apura a Seleção para o Euro’2012 e transforma-se (para a opinião pública nacional) num “treinador de elite” ou não ganha à Dinamarca e o pavio da sua declarada “credibilidade” arderá num instante.
Ambas as partes sabem os riscos que correm. A FPF ainda é antes de deixar de ser e faz figura de virgem encantada e orgulhosa; Paulo Bento será o que os jogadores, nesta fase, quiserem. Depende deles, mais do que nunca. E, neste aspeto, ao contrário do que se possa pensar, a conjuntura é favorável: aqueles que colocaram PB na Seleção (e que serão os primeiros a tirá-lo, se as coisas não correrem a preceito -- a lógica de sempre) serão os mesmos a tentar convencer os jogadores de que não há margem de erro e é tempo de dar tudo em nome de uma alegada (mas falsa) “nova ordem”.
Ainda sem sofismas: todos têm de assumir as suas responsabilidades. Pelo passado recente, pelo presente e pelo que aí vem. Políticos, dirigentes, treinadores, médicos, jogadores. Todos. Dando o elementar benefício da dúvida a Paulo Bento, agora na prematura condição de selecionador nacional.
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