O Sporting de Braga, na meritória deslocação a Sevilha, fez o “impossível”. O Sporting, na Dinamarca, fez o improvável. O FC Porto fez o que se esperava. Num momento em que a afirmação do futebol português, com quatro clubes nas fases de grupos da Liga dos Campeões e da Liga Europa, poderia ser linear, os senhores dos gabinetes, todos resguardados atrás de órgãos colegiais e siglas até aqui obscuras, fazem o costume: parecem indiferentes à possibilidade de sacrificar uma campanha de qualificação com a importância daquela que arranca na sexta-feira. Percebe-se: se o desvario e a hipocrisia derem lugar a um falhanço, a história há de registar os nomes dos jogadores e dos técnicos envolvidos no desaire. Nunca os dos que usam a camuflagem do anonimato.
À primeira vista, custa a entender que campeões como Simão Sabrosa e Paulo Ferreira, que nunca esconderam o prazer de jogar e o orgulho de o fazer com a camisola da Seleção, tenham renunciado a novas convocatórias. Mas, tudo pesado, é uma atitude que se aceita da parte de quem, pela experiência acumulada, sente que a Seleção se tornou terreno minado, sobretudo com a vergonhosa campanha contra o selecionador Carlos Queiroz.
O resultado prático está à vista: pelo menos nos dois primeiros jogos, a Seleção nacional está privada da presença do seu comandante natural. Mais: se o Tribunal Arbitral do Desporto não conferir efeitos suspensivos ao recurso de Carlos Queiroz, suspendendo a suspensão (!) decidida pela Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP), este estará afastado seis meses e ainda será sujeito a novo processo por parte da direção federativa, em consequência da entrevista ao “Expresso”. E já houve uma fonte da Federação que fez saber que aquela entidade quer um selecionador em pleno em outubro, seja Queiroz ou outro. Basta fazer as contas e apreciar os ruidosos silêncios de Luís Horta, presidente da ADoP, e, sobretudo, de Gilberto Madaíl, presidente da FPF. A mesma entidade que, em julho, emitiu um comunicado regozijando-se com o “cumprimento dos objetivos” de Portugal no Mundial da África do Sul. Desconheceria, nessa altura, os “graves” atos de Queiroz a 16 de maio? Ou terá ignorado conscientemente a “perturbação” que o selecionador impôs no controlo antidoping para depois ruminar um processo que pode vir a dispensá-la de pagar qualquer indemnização?
Não é preciso ser adepto da teoria da conspiração para ter a noção de quando ela existe. A mim, vejam lá, tem-me assaltado a ideia de que, se calhar, fomos demasiado lestos a condenar os “sindicalismos” dos jogadores que representaram a Seleção em 1986. Em Saltillo, sim. Porque nos esquecemos dos senhores das sombras que (já) se moviam do outro lado.
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