André Villas Boas poderia ter visto a sua neófita carreira posta em causa à nascença se o Benfica tivesse, como lhe competia, ganho a final da Supertaça no dia 7 de Agosto em Aveiro. Como o Benfica não só não ganhou como também perdeu bem, o treinador do FC Porto está prenhe de orgulho e dispara foguetes como uma girândola de arraial.
Despediu-se de Raul Meireles como uma manifestação ingrata de prosápia - «…temos entre nós quem ofereça melhor» - e, no final do jogo com o Rio Ave, despediu os jornalistas que o questionaram sobre a influência dos erros desse grande árbitro que dá pelo nome de Jorge Sousa com uma manifestação de pedantismo que não admite réplica: «Era o que mais faltava!», ripostou para acabar com a conversa. E aqui temos o FC Porto com o piloto-automático!
Roberto Jiménez defendeu uma grande penalidade no jogo com o Vitória de Setúbal e o Benfica, ao contrário do que vinha sendo profusamente anunciado, não contratou nenhum guarda-redes até ao fecho do mercado. Admitindo que uma coisa possa estar relacionada com a outra, admita-se também que muito gostaríamos nós, os benfiquistas, de, na reabertura do mercado, em Dezembro, não termos de sofrer as angústias do reavivar da conversa sobre o guarda-redes.
É brasileiro, começou por ser lateral-direito e chamava-se Marcelo Maringá, porque foi na cidade de Maringá que nasceu.
Depois saiu de Maringá e passou a ser conhecido por Marcelo Mineiro, que é o nome do Estado em que nasceu. Mas não ficou por aqui. Em 2006 meteu-se num avião e aterrou em Israel para jogar no Ahi Nazareth onde descobriu a sua vocação para marcar golos e onde se descobriu com uma nova identidade, a de Marcelo Toscano e foi como Marcelo Toscano que desembarcou na Suíça e jogou pelo Lausanne.
Chegou, finalmente, a Portugal na semana passada e na condição de simplesmente Toscano. Estreou-se com a camisola do Vitória de Guimarães no sábado e não pediu tempo de adaptação ao novo emblema nem, muito menos, discursou sobre a necessidade de entrosamento com os colegas.
O seu discurso foi bem mais original. Marcou os três golos do Vitória na Madeira e estão feitas as apresentações. Disse, depois que vinha para lutar com Falcão e com Cardoso pelo título dos goleadores. Se continuar a facturar a este ritmo, Maringá-Mineiro-Toscano arrisca-se não só a ganhar a Bola de Prata como também a ver-se, rapidamente, naturalizado português e a jogar pela Selecção Nacional. Isto, evidentemente, se o seleccionador for a favor dos naturalizados em detrimento do épico trabalho da formação nativa. E o nosso jovem de Maringá com mais do que legítima curiosidade, visto que acabou de chegar e conhece pouco do futebol português, perguntará:
- E quem é o seleccionador?
Alguém que lhe explique, se faz favor.
É cada vez mais difícil para o cidadão comum tomar partido nesta guerrilha entre a Federação Portuguesa de Futebol, o treinador Carlos Queiroz e a Autoridade Antidopagem de Portugal. Curiosamente, os presidentes dos dois grandes nem hesitaram e colocaram-se do lado do seleccionador a ponto de se deslocarem à sede da FPF para depor em defesa do sucessor de Luiz Felipe Scolari. Bom, só este facto justifica plenamente o incómodo a que se deu Pinto da Costa porque, para ele, qualquer sucessor de Scolari é uma pessoa maravilhosa e mais do que competente. O apoio expresso de Luís Filipe Vieira também se explica de uma penada. O presidente do Benfica jamais esquecerá as agruras que sofreu com o secretário de Estado Laurentino Dias e com Luís Horta, presidente da referida Autoridade, nas circunstâncias do caso de doping que envolveu Nuno Assis quando era jogador do Benfica.
Mas o cidadão comum, independente das tiranias das afeições clubistas, para que lado se há-de virar neste chorrilho de originalidades disciplinares e processuais? O que é que mais desinquietante? Ouvir Gilberto Madaíl garantir a tranquilidade da Selecção em início de campanha rumo ao Euro 2012 porque «a equipa sabe jogar com piloto-automático» ou ouvir o seleccionador afirmar que reúne «todas as condições» para se «manter no cargo»? Mas qual cargo, caramba, se até um piloto-automático dá conta do recado?
Nestes casos intrincados, nebulosos, no entanto, há sempre um momento de clarividência, um raio de luz que dissipa todas as dúvidas e que nos faz, sem hesitar, ter finalmente uma opinião fundada. Na sua última entrevista, à SIC, Carlos Queiroz contribuiu com um poderoso dado esclarecedor quando lhe foi pedido que explicasse o sentido da acusação que fez a Amândio de Carvalho, o perigosíssimo dirigente da FPF que «decidiu pôr a cara na cabeça do polvo», conforme afirmou ao Expresso.
- Desconhecia que polvo era uma expressão associada à máfia porque estive 16 anos no estrangeiro - disse o seleccionador.
Ora isto justifica amplamente um despedimento com justa causa. Há limites para a ignorância! Não sabe sequer o nosso seleccionador o que é o polvo-automático porque viveu 16 anos fora do país!
A única safa que Queiroz tem agora é dar mais uma entrevista - a 45.ª das últimas três semanas - , voltar a jogar ao ataque como tanto gosta e explicar ao povo português que nunca viu a série italiana O Polvo porque nunca teve televisão visto que é uma pessoa mais do género intelectual e dado à leitura de obras de teor metefísico.
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