quarta-feira, novembro 15, 2006

Artigo de Opinião do Condómino Braguilha

Conhecer o segredo das coisas
rerum cognoscere causas

Antes de passar à exploração do assunto do artigo, gostaria de referir que este texto resulta da pressão que me tem sido feita para assumir uma publicação regular.
De momento, encontro-me à experiência.
Depois logo se verá.
Certo é que não possuo o fino traço literário ou o tom jocoso e irónico do Bocage dos tempos modernos que se assume com o pseudónimo de Fura-Redes, o discurso analítico e cerebral do nosso caro Administrador ou o rigor e objectividade de um Cavungi, entre outros.
Aliás, este desafio torna-se ainda maior tendo em conta que alguns dos trabalhos recentemente publicados atingiram um patamar de qualidade que, a não ser ultrapassado deveria, pelo menos, ser mantido.
No seguimento da apresentação de alguns artigos de opinião já publicados, ficámos a saber, entre outras coisas:
-a razão por que o nosso amigo Cavungi não sofre com a equipa das quinas – aventando-se, digo eu, alguma ascendência tobaguenha- ,
-a nostalgia da infância do nosso ilustre Fura-Redes que, entre bolinhos de bacalhau e uma coxa de frango, passava agradáveis tardes domingueiras entre a res do futebol
-ou, até, a explicação do caríssimo condómino jc/Carlos que se assume como um grande vira-casacas que, num momento de fraqueza, abandona o seu, até então amado, FCP para se deixar levar pelas teias que a vida tece e passar-se para o “inimigo”.

Este é, portanto, o tema deste artigo: porque sou portista e não de um outro clube? Será que me revejo nos princípios cívicos e desportivos do meu clube? Nem sempre se verbalizam estas questões, mas o que é certo é que todos nós conhecemos outros adeptos com uma atitude perante a vida diferente da nossa. E se observarmos bem, muitos deles possuem um padrão de comportamento comum como, aliás, é bem patente neste blog.
Antes de mais, é importante percebermos que um clube de futebol não é mais do que uma associação desportiva, embora nos dias de hoje o fenómeno futebol, tenha perdido essa noção exacta (por ele matam-se pessoas, por ele já países entraram em guerra!). O associativismo, reflexo do dinamismo cívico das populações, manifesta-se em áreas tão diversas como a nível musical, cultural, recreativo, desportivo, entre outros. Por isso, as agremiações representam, antes de mais, a localidade onde se inserem dentro de um espírito que as anima e só a elas pertence. E aqui reside o busílis do razão porque é que eu só poderia ser do Porto e nunca do Sporting e muito menos do Benfica. Por ventura, alguém desejaria que o clube rival ganhasse à sua equipa de bairro ou de freguesia? Haverá algum português que, à excepção do Cavungi, não terá sofrido com a derrota de Portugal na final do Euro2004?... Pois também eu sofro por aqueles que representam a minha região. Ser portista é, antes de mais, um estado d’alma, uma forma de estar na vida; é ser-se incondicionalmente bairrista, é ter-se um amor irracional pela cidade/região. A explicação para estas atitudes e valores remontam ao berço da nacionalidade; repare-se o papel que a cidade teve ao longo da história como garante da independência do país e que lhe valeu o epíteto de Invicta. Este modus vivendi é intrínseco a estas gentes ( para quem antes partir que torcer ) e pode encontrar-se não só entre portistas, como também entre adeptos de outros clubezecos vizinhos. Mas poderão perguntar: só é portista quem é do Porto? Obviamente que não. O portista é aquele que num combate de boxe torce, naturalmente, pelo mais fraco. Ser portista significa lutar contra poderes instituídos, conquistar o respeito dos demais pelo esforço e abnegação, encontrar forças na fraqueza, impor-se pela teimosia dos seus ideais. É por isso que, por aqueles que o representam, o grande rival só poderia ser o Benfica (não me refiro à grandeza instituição nem à importância desportiva que teve num passado longínquo). Refiro-me à sobranceria, ao desdém com que olham todos os outros; à arrogância com que exibem o seu palmarés, à vaidade do tamanho do seu estádio, ao parolismo do certificado do guiness... O Porto conseguiu, à custa de muito esforço, o respeito internacional e, não há muito tempo, um certo presidente (que neste preciso momento deve estar a ver o sol quadriculado) reduzia o FCP a uma existência niilista “é um clube regional que ninguém conhece”. Não se pode, eu sei, julgar a instituição por este tipo de palermas. Mas qual o adepto/tipo do Benfica? Que valores cívicos e desportivos representa? Para começar, representa mais que a freguesia da cidade. É um clube nacional com uma implantação rural e apoiado, maioritariamente, pelo povo néscio. À excepção de uma pequena parte letrada (onde integro os meus caros amigos deste blog), são adeptos boçais, não muito inteligentes cujo discurso redundante versa, apenas, glórias (muito) antigas e estatísticas mecanizadas: o número de adeptos, o tamanho do estádio, o número de campeonatos e blá, blá, blá… É difícil manter-se uma conversa elevada com eles. Cristalizados que estão em meia dúzia de conceitos, são incapazes de reconhecer o mérito ao adversário, admitir uma agressão dissimulada ao perónio de um jogador ou observar o erro técnico de um árbitro que os beneficiou. Recentemente, num diálogo com um destes energúmenos, tentava fazer-lhe ver a importância das recentes vitórias internacionais do FCP e o prestígio que isso representava para Portugal. Pois o obtuso não só não reconheceu a evidência como contra-argumentava com a importância que o troféu Ramón Carranza teve, à época, para o país!!! É claro que no Porto também temos adeptos destes mas não somos, na maioria, “popularuchos”; sendo um clube regional, abraça, diagonalmente, adeptos de todas as classes. Recebi, na semana passada, um mail com a fotografia de um camião de transporte de porcos, todo decorado com elementos alusivos ao glorioso e onde se poderia ler, junto ao emblema do clube, “Transporte de Animais Vivos”. Não duvido que este adepto quis, inocentemente, mostrar o seu benfiquismo. No entanto, o que não deixa de ser curioso, é que esta atitude, mesmo analisada à luz da irracionalidade do futebol, manifesta uma profunda limitação intelectual e a total perda da noção do ridículo. Por momentos, quase que consigo imaginar o orgulho daquele camionista quando se cruza com outros colegas de profissão, como reagirá às provocações e impropérios, como responderá às palavras de estímulo e às palmadinhas nas costas...
Um sportinguista jamais exibiria tal requinte de malvadez para com os suínos. O adepto/tipo é mais urbano, o clube também tem uma implantação nacional, embora se localize mais no litoral do país. Como se sabe, o Sporting nasceu “por oposição” ao Benfica. Nas suas origens encontram-se burgueses e aristocratas que marcaram de forma indelével o clube. O sportinguista é um indivíduo com uma atitude elevada perante a vida; distingue-se pelo seu low profile e pelo desportivismo. Encara a derrota com complacência ao contrário do ressabiado benfiquista. No entanto, julgo que a bonacheirice do Sporting torna-o um clube sem ambição; consegue aproximar-se do Olimpo mas falta-lhe sempre aquele golpe d’asa. Aqui os dois emblemas da Segunda Circular aproximam-se, embora o SLB assuma a vitória como um tributo que se deva prestar aos antepassados que glorificaram o clube. Já no Porto, aprecia-se o apetite voraz do êxito e cultiva-se a ambição desmedida pelo triunfo; o sucesso festeja-se apenas no próprio dia. O ontem é passado; no agora, preparam-se as próximas conquistas. Veja-se, ao invés, durante quantas semanas se festejou o último campeonato encarnado; compare-se a cobertura jornalística deste facto com a vitória, em 2004, da Liga dos Campeões! É nos pormenores que nos distinguimos: não precisamos de ser o clube do regime, não queremos o “apoio” da comunicação social, não exibimos certificados de recordes… Assumimos o que somos pelo que fazemos! É isso que nos torna diferentes e únicos; podemos ser uma aldeia gaulesa cercada de romanos, mas não faz mal: vão ter que gramar connosco!

18 comentários:

Mestrecavungi disse...

Amigo Braguilha,
Tal como se previa pelos seus primeiros passos junto de nós, o artigo é excelente.
Na prosa bem humorada muito bem escrita.Culta até.
Do seu conteúdo esperava-se o pior.
Mas, o resultado ultrapassou todas as previsões.
Então discute-se, como forma de distinção dos clubes, quem tem os adeptos mais bonitos, mais educados e/ou bem formados?
Os que se vestem melhor?
Se os titulos passados, a massa aglotinadora de adeptos,ou os certificados do guiness são assuntos rídiculos, para quase 3 milhões de portugueses, então ter-se as gravatas mais bonitas é duma importância, que assusta.
De resto, parabéns e continua sempre.
Saudações Benfiquistas

Vermelho disse...

amigo Braguilha:
gostaria de te felicitar por teres aceite o desafio que te lancei.
o artigo revela qualidades literárias assinaláveis.
todavia, o seu conteúdo cheira a bafio no que a este blog diz respeito.
nos primórdios da sua existência, foi um assunto amiúdes vezes trazido à colação.
algumas reflexões, ainda que sumárias, pois a minha disponibilidade hoje é escassa, impõem-se.
primeiro, a questão do desvalido portista que luta contra o poder instituído.
já aqui o disse, que a quem tanto gosta de brandir alto a sua superioridade contra tudo e contra todos, não cola bem esta postura de calimero.
serve uma estratégia de permanente vitimação e de desconsideração.
desenham-se como desvalidos que, pese embora todas as injustiças de que são vítimas, conseguem superá-las e triunfar.
"os de lisboa são sempre beneficiados pelo poder, mas ainda assim nós conseguimos derrotá-los."
esta visão de contraponto é redutora e empobrecedora.
segundo, é uma falácia tantas vezes repetida que se cristalizou como verdade.
o poder futebolístico, desde meados dos anos 80, tem-se centrado a Norte.
Primeiro, na federação, com o conselho de arbitragem a ser, sucessivamente, entregue à AFPorto e depois na Liga, com o poder a ser, sucessivamente, entregue a Norte.
Os principais centros de decisão do futebol português têm estado nas mãos do Norte.
Depois, o poder económico, cada vez mais pujante e indutor das decisões políticas, radica a Norte.
Belmiro de Azevedo e Américo Amorim são disso exemplo.
Assim, quer se perspective a questão de um ponto de vista desportiva, quer de um ponto de vista económico/político, emerge que o poder instituído radica no Norte.
A mim nada me move contra o Norte, antes pelo contrário.
Aí se situa uma parte das minhas raízes.
Nunca gostei de ver o futebol ser usado como arma de arremesso político.
Penso que a luta contra os poderes instituídos passa por outras lutas às quais o futebol devia ser completamente estranho.
Depois, falas em sobranceria, em desdém, em vaidade, mas que melhor exemplo de sobranceria, de désdem e de vaidade do que este artigo.
os adeptos do benfica são, inclusivamente, etiquetados de povo néscio.
uma atitude, profundamente, snob, sobranceira e néscia.
Um racismo elitista intolerável.
dizes-te patriota e depois renegas as tuas gentes, o teu povo.
Fruto de 48 anos de obscurantismo e ditadura, o povo português padece, ainda, em larga franjas sociais, de lacunas educacionais e culturais de grande monta.
Mas, isso não lhes retira dignidade, antes pelo contrário.
prefiro um néscio digno que um doutor corrupto.
quem assiste às comemorações das vitórias portistas, não pode deixar de se rever na descrição que fazes dos adeptos benfiquistas.
por outro lado, se vires a distribuição societária do benfica, constatarás que a maioria se situa no Litoral.
como não ignoras, trata-se do segmento territorial do País mais desenvolvido a todos os níveis, o que, desde logo, contraria a natureza rural que pretendes colar ao adepto benfiquista.
abraço.

dizer-te, também, que não me envergonham os adeptos do benfica por mais néscio que sejam.
caso contrário, teria que dizer que o meu povo me envergonha e isso não me consinto.

FURA-REDES disse...

Excelente artigo de um braguilha aberta a novos voos, que assim que pôde pôs cá fora o seu artigo, pondo-o de pé em pouco tempo após ter sido elevado a membro deste espaço.
Denota grande facilidade no linguajar e no amnejar dos seus predicados.
Mostra-se, contudo, ainda à procura de um buraco onde possa exercitar melhor essas suas qualidades.
Para primeira vez foi contundente, o que, também, se pretende; dequalquer forma agradou-me que tenha posto de parte a forma mais viril que o membro usou ontem.
Parabéns para a, também, excelente resposta do Vermelho, que esta semana, e diga-se em abono da verdade, tem feito posts e comentários de excelente qualidade, de tal modo que, embora me custe, fico satisfeito, POR ELE, das poucas conquistas que o seu clube alcance.
Mostrou, tal como Braguilha salienta que há benfiquistas que são um verdadeiro erro de casting.
Ainda que assim seja e subscrevendo a maior parte do excelente artigo do braguilha, gostava de salientar que gosto de discutir futebol contigo Vermelho.

Carlos disse...

Caros amigos

Agradeço os elogios endereçados, por certo exagerados.

Amigo Vermelho

Que o povo português é um povo néscio e que mantém tiques de provincialismo próprios de um país periférico, ninguém duvida. O senhor não se envergonha e eu também não. Não concordo é que queira retribuir aos adeptos de outros embelemas o que disse a propósito dos benfiquistas. A sobranceria e desdém a que me refiro é para qualificar a sua atitude e não as pessoas em si. Serão só os snbs é que têm uma atitude sobranceira e desdenhosa! Não me parece.

Quanto à vitimização e guerrilha regional, não faz qualquer sentido usar-se o futebol como arma de arremesso Norte/Sul. Somos demasiado pequenos para termos a dimensão que um Barcelona/Real Madrid envolve. Concordo que o Norte é o motor da economia nacional mas o Orçamento de Estado não é proporcional, como recentemente foi discutido em sede própria.

Mas o artigo versa outra ideia: a falta de respeito. A falta de reconhecimento pelos méritos desportivos alcaçados em Portugal e no estrangeiro. Não lhe chame pequenez provinciana. Há dias um condómino deste espaço congratulava-se com o Milan, o Valência...

OBS- O que será que o nosso camionista zécora dirá ao transportador de bifanas e presuntos quando se cruza com ele! Tinha prometido espezinhar-me quando publicasse mas ainda não apareceu... deve estar entalado em alguma bicha!

Amigo Nunca

Esperava ver mais vermelhos os peles vermelhas, se calhar são a prova que articulei mal!

VermelhoNunca disse...

Cara Braguilha: parabéns pelo artigo. Defende à sua maneira o seu clubismo, dando opinião sobre os adeptos rivais. São opiniões pessoais, que não me compete discordar. Quero apenas fazer uma ressalva: o Sporting nasceu em 1 de Julho de 1906; o Benfica nasceu a 13 de Setembro de 1908. Ou seja, o Sporting não nasceu como oposição ao Benfica como diz no seu artigo.
Quanto à resposta dos lampiões aqui do blog...é o seu estilo caro Braguilha, pois pode crer que no meu estilo mais agressivo, eles cairiam-me em cima.

Mestrecavungi disse...

Amigo Braguilha,
Se puder satisfaça-me a curiosidade.
Ontem disse que tinha nascido, vivido numa terra de "pessoas de côr" ( O S.O.S. racismo não me permite dizer qual a côr, suponho que Branco-Sujo).
Hoje, pelo seu artigo, percebi que era do FCP porque tinha nascido na Invicta.Terra aliás do meu avô materno, a qual já visitei por duas vezes.E chegou.

Em que é que ficamos afinal?

Carlos disse...

Caro Cavungi

Na verdade, nasci e vivi os primeiros anos (poucos) em Moçambique. O resto da infância e juventude foram nos arredores do Porto.

Mestrecavungi disse...

Então amigo Braguilha somos conterrâneos.
Também eu nasci em Moçambique.
Como qualquer portista nascido em Moçambique serás adepto do Ferróviário do Maputo.(Clube fundado pelo meu avô do Porto).Eu do Desportivo da Costa do Sol e a Lagartagem do Sporting de Moçambique.
Pena que tenhas ido viver para os arredores do Porto.
Podias muito bem sr o sócio 160.393 do glorioso.

VermelhoNunca disse...

Amigo Cavungi, sabe se o cão ainda é sócio do Benfica? Refiro-me a um cão que foi posto sócio há uns anos atrás...

Mestrecavungi disse...

O Cão e a Vitória não sei.
Sei que o "Quatro Bocas" o burro de serpa, é.

Mestrecavungi disse...

Amigo Vermelho,
Não te parece que a nomeação de Ólarapio Benquerença par Braga cheira a encomenda?

Carlos disse...

Gostaria de participar mais activamente no blog. Estou sem internet (deve ser do temporal que por aqui está a passar!). Este post está a ser feito num computador "emprestado" de um outro serviço. Amanhã passo por cá.

VermelhoNunca disse...

Amigo JC e Cavungi: o cão já é sócio há vários anos, não sei se continua a pagar quotas, mas foi notícia a sua entrada para sócio, penso que pela mão de Carlos Castro, ou terá sido de José Castelo Branco?

Mestrecavungi disse...

Amigo Nunca,
No SLB só se paga quotas os maiores de 14 Anos.
Assim o cão nunca terá pagoa as suas.Ou se o fez começou a pagá-las
aos 98 anos.

Mestrecavungi disse...

Amigo Nunca,
Quanto a orientação sexual dos adeptos do desporto-rei, mais uma vez digo-lhe que, o SOS Racismo, não me permite comentar o seo pretérito post.Sob pena de poder melindrar algns dos bloguistas.

VermelhoNunca disse...

Está seguro do que diz amigo Cavungi? Só maiores de 14 anos pagam quotas? Digo-lhe mesmo que está errado!

Mestrecavungi disse...

Se quiserem pagar pagam.Obrigatóriamente só a partir dos 14.
Penso eu de que.

VermelhoNunca disse...

Pensa mal, amigo Cavungi, pensa mal! Eu , pelos vistos, sei algumas coisas do seu clube , que o amigo desconhece!