Tão amigos que eles eram...
Caiu o biombo que desde o dia 31 de Outubro do ano passado escondia despudorado clima de hipocrisia feito de uma amizade de conveniência que outro alcance não teve senão o de juntar interesses e reunir forças contra adversário comum, o Benfica. À entrada para a folclórica jornada do túnel, bracarenses e benfiquistas dividiam o primeiro lugar, com o dragão a três pontos e a perceber já, sem necessidade de explicações adicionais, que a capacidade competitiva da equipa de Jorge Jesus era imensa e reconhecidamente superior à de Jesualdo Ferreira, colocando em risco muito sério o objectivo supremo do segundo 'penta', mas à saída, apesar de toda aquela trapalhada e da vitória bracarense, a verdade é que não foram capazes os portistas de retirar grandes dividendos do trambolhão da águia pelofacto de, por coincidência dos diabos, terem fraquejado em casa, diante do simplório Belenenses. Em termos práticos, significava que o FC Porto se mantinha na terceira posição, agora a cinco pontos do líder (Braga) e a dois do segundo (Benfica).
Foi aqui que luminosa ideia adquiriu forma. Resignados os patrões do dragão por não possuírem plantel com cabedal suficiente para, sem ajudas, ter sucesso desportivo na luta com a águia, a solução que mais lhes agradou apontou para descarado namoro com o Sporting de Braga, encarado como figura decorativa na corrida do título, mas interessante do ponto de vista estratégico, para morder os calcanhares ao Benfica, incomodá-lo, travá-lo, de maneira a dar tempo à reorganização portista. Previram tais mentes de inteligência à prova de bala o colapso bracarense, a desaceleração encarnada e a recuperação portista a horas de inverter a situação, segurar a hegemonia recente e... disparar para o 'penta'. O problema é que o Braga não caiu, o Benfica não fraquejou e... o Porto não se levantou.
O clube presidido por António Salvador tem-se revelado em todas as ocasiões fiel escudeiro. Até na reacção ao indeferimento do recurso apresentado por causa do castigo a Vandinho, a culpa não pertenceu ao Conselho de Justiça da FPF, que o confirmou, mas sim à Comissão Disciplinar da Liga, que o aplicou. Se for para agradar ao FC Porto, que mal tem atirar a culpa para cima das costas de Ricardo Costa? É para isso que servem os aliados... De aí confessar o meu espanto com as mais recentes declarações do treinador portista, ao agitar uma vaga de poeira sobre o êxito bracarense no jogo de domingo diante do Guimarães. Disse ele, imagine-se, que o Braga ganhou 'um desafio muito complicado, com situações não muito claras'. Falou ainda de terceiros e de quartos e deixou no ar outras insinuações de interpretação duvidosa. Afinal, o que se passa? Tão amigos que eles eram e... zangaram-se de repente. Quem quis Jesualdo atingir?
1-O árbitro? Lembro que foi o mesmo que na primeira jornada se esqueceu de marcar um penalty a favor do Benfica, precisamente no dia em que ao Paços, lembram-se?, Xistra descortinou falso fora-de-jogo em lance de golo iminente. Escrevi (A BOLA de 18 de Agosto) que a Liga estava armadilhada e que numa classificação adaptada (pelos árbitros) o FC Porto partia com mais um ponto e o Benfica com menos dois.
2- O Renteria, por ter simulado o penalty que determinou a vitória do Braga? Mas esse foi o Porto que o emprestou no mercado de Janeiro para reforçar a equipa de Domingos Paciência (não foi utilizado no Dragão, mas jogou na Luz, com certeza...).
Confusões... Só não entendo por que razão Jesualdo continua a aceitar papéis que o comprometem e escapam à sua área de intervenção. Devia limitar-se às questões técnicas, até para se proteger. No resto, outros que se mostrem. Aliás, na estrutura profissional portista existe a figura de um director-geral (Antero Henrique) que faz lembrar o Pedro Barbosa do Sporting... Nunca dá a cara.
Sem comentários:
Enviar um comentário