quarta-feira, abril 21, 2010

Artigo de Opinião de Luís Aguilar

Nestas coisas do futebol ainda há quem consiga deitar por terra as teorias de que os jogos se ganham nos túneis, nas secretarias e nas conferências de imprensa. Ainda há jogadores com a capacidade de mostrar que a qualidade individual e colectiva é mais importante do que as queixas, os mind games e o maldizer. É certo que, em Portugal, não são muitos. Mas existem. Aparecem de vez em quando e silenciam a ignorância, nem que seja por breves momentos.

Pablo Aimar é um desses artistas. A esta hora muitos adeptos leoninos ainda devem estar a pensar que o mago argentino nunca deveria ter entrado em campo no último dérbi. A magia do seu futebol virou um jogo onde os leões até começaram melhor do que as águias. Contudo, quem tem a arte do seu lado – e pode utilizá-la – arrisca-se a trocar a angústia das oportunidades perdidas pelo sorriso da vitória.

Esse foi o pormenor que decidiu o clássico da Luz e deixou o Benfica definitivamente apontado ao título. Os encarnados puderam usar o seu artista de cristal. O elemento frágil, que se parte facilmente, mas que se for manuseado com cuidado, dá sempre mais brilho e classe à mesa de jantar. Jamais convidaria Aimar para me ajudar nas mudanças lá de casa, mas era capaz de ficar a vê-lo uma tarde inteira a dar toques na bola por entre a mobília da sala ou os electrodomésticos da cozinha.

Este pode não ser o El Mago que durante anos deliciou o Valência e a selecção argentina. Com as lesões e complicações, não aparece com tanta frequência como o futebol gostava e precisava. Mas cinco minutos bons dele dão-me muito mais prazer do que uma eternidade de donos da bola a “vomitar” sumaríssimos e teorias de clubite crónica. Mesmo que não possa pedir a Aimar para me ajudar a carregar os móveis para o novo apartamento.

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