Nestas coisas do futebol ainda há quem consiga deitar por terra as teorias de que os jogos se ganham nos túneis, nas secretarias e nas conferências de imprensa. Ainda há jogadores com a capacidade de mostrar que a qualidade individual e colectiva é mais importante do que as queixas, os mind games e o maldizer. É certo que, em Portugal, não são muitos. Mas existem. Aparecem de vez em quando e silenciam a ignorância, nem que seja por breves momentos.
Pablo Aimar é um desses artistas. A esta hora muitos adeptos leoninos ainda devem estar a pensar que o mago argentino nunca deveria ter entrado em campo no último dérbi. A magia do seu futebol virou um jogo onde os leões até começaram melhor do que as águias. Contudo, quem tem a arte do seu lado – e pode utilizá-la – arrisca-se a trocar a angústia das oportunidades perdidas pelo sorriso da vitória.
Esse foi o pormenor que decidiu o clássico da Luz e deixou o Benfica definitivamente apontado ao título. Os encarnados puderam usar o seu artista de cristal. O elemento frágil, que se parte facilmente, mas que se for manuseado com cuidado, dá sempre mais brilho e classe à mesa de jantar. Jamais convidaria Aimar para me ajudar nas mudanças lá de casa, mas era capaz de ficar a vê-lo uma tarde inteira a dar toques na bola por entre a mobília da sala ou os electrodomésticos da cozinha.
Este pode não ser o El Mago que durante anos deliciou o Valência e a selecção argentina. Com as lesões e complicações, não aparece com tanta frequência como o futebol gostava e precisava. Mas cinco minutos bons dele dão-me muito mais prazer do que uma eternidade de donos da bola a “vomitar” sumaríssimos e teorias de clubite crónica. Mesmo que não possa pedir a Aimar para me ajudar a carregar os móveis para o novo apartamento.
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