quarta-feira, abril 21, 2010

Artigo de Opinião de Luís Freitas Lobo

A 'armadilha' que faz o jogo voar

A cada jogo, a autoridade benfiquista parece voar para a baliza, mas este seu idolatrado poder ofensivo tem, em campo, subterfúgios estratégicos mais profundos. Por princípio, ele não está especialmente vocacionado para o chamado ataque continuado.
Por isso, perante equipas em bloco baixo, fazendo campo pequeno perto da sua área, com duas linhas de pressão, a equipa mais do que insistir em tentar derrubar esse muro, tem outro comportamento posicional: recua no terreno. Ou seja, baixa um pouco as suas linhas, meio-campo e ataque, e, com isso, alicia (chama) o adversário, vendo mais espaço livre à sua frente, a subir as suas linhas (defensivas).
É uma armadilha que busca criar espaços para colocar em prática os seus movimentos de construção ofensiva de trás para a frente, buscando os tais espaços nas costas dos defesas adversários onde surgem, depois, vindos de trás, os seus médios, extremos ou laterais.
Conclusão: muitas vezes um recuo estratégico é a melhor forma de preparar um ataque. O Benfica explica isso muito bem.
Foi assim que mudou o jogo frente ao Sporting. Princípios que nascem do treino e dependem da leitura certa do jogo.
Para sua melhor aplicação, beneficia da maior parte das defesas adversárias não serem tecnicamente muito evoluídas, pois a forma de combater esta armadilha era serem capazes de circular a bola por trás, através da sua linha defensiva, e, assim, forçar as linhas benfiquistas a subir novamente (obrigando-as outra vez a jogar em espaços curto). Mas não.
Vendo mais espaço, as equipas sobem e querem pôr a bola o mais rápido possível longe da área. É quando o Benfica a recupera e, com a transição feita em segurança (sem ser muito rápida) lança o ataque que, subitamente, pelo avanço do adversário (mesmo que ténue) descobre espaço nas suas costas para entrar desde trás (então já em velocidade) como tanto gosta.
É uma estratégia que exige grande inteligência de jogo e, por isso, depende muito dos seus jogadores mais dotados (e rotinados) tactica-tecnicamente nesses princípios. Por isso, quando falta Aimar ou Saviola este jogar ressente-se. Sente a falta de quem o entende e interpreta melhor.
Jesus justificou a aposta de Eder Luís frente ao Sporting devido ao melhor «posicionamento defensivo» e «movimentos semelhantes» aos de Saviola. No estilo, até parece.
Na aplicação dos princípios referidos, já não. Nessa altura, a equipa, sempre com Cardozo referência de apoio, necessita de outro tipo de avançado que, mesmo incapaz de repetir os movimentos avanço-recuo de Saviola, consiga, para além de dar mais presença no ataque continuado em que poderá entrar, ler os tais espaços nas costas da defesa adversária quando eles aparecerem. Esse homem é Weldon. Viu-se contra a Académica.
O bom futebol táctico é muito feito de armadilhas. Este Benfica prova-o. Congemina os seus ataques mais perigosos começando por fazer recuar as suas linhas.
Engana o adversário e, num ápice, esse presente envenenado termina com uma bola no fundo da baliza.

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