As tonturas de Júlio César
Jorge Jesus ficou desesperado por, a cerca de 10 minutos do final do jogo em Liverpool (e quando o Benfica precisava de um golo para chegar às meias-finais da Liga Europa), ter sido obrigado a queimar uma substituição com a troca de guarda-redes, alegadamente porque Júlio César estava com tonturas (sofreu um traumatismo craniano).
Compreendo o desespero do treinador encarnado, pois sendo certo que o Benfica já tinha estado nas "covas", naquela altura, depois do golo apontado por Cardozo, o cenário era diferente.
Com vários elementos em débil condição física, mas com o apuramento relativamente próximo, as águias davam sinais de ainda ter uma palavra a dizer. Assim sendo, quando a equação era adivinhar quais as melhores alterações para forçar o ataque, o técnico ficou com menos trunfos para utilizar. E logo quando se jogava uma "mão" decisiva.
O que tenho dificuldade em perceber é o que terá levado Jesus a confiar a titularidade ao guardião brasileiro que, já com a temporada em andamento, foi recrutado ao Belenenses.
Sei que Júlio César tinha sido o habitual titular na competição europeia, aceito que numa equipa ganham e perdem todos e até concordo que, em Inglaterra, não foi só o "keeper" a actuar bastante abaixo do rendimento exigido.
Contudo, numa "final" - ainda por cima num dos palcos mais míticos do futebol mundial -, Jesus podia e devia ter colocado na baliza Quim.
Justificação? Nos grandes jogos devem alinhar os melhores!
Júlio César é mais novo, tem menos experiência, possui um ritmo inferior e até a sua ligação com os membros do sector defensivo é, por razões óbvias, menos sólida.
Na final da Taça da Liga não foi Quim que jogou?
Como sempre referi, desde a sua contratação, não me parece que Júlio César seja guarda-redes para um clube grande.
Ou dito de outra forma: não entendo a pressão que Jesus fez para contratar um estrangeiro que, visivelmente, não é melhor que Quim e que, pessoalmente, também não mostra ser claramente superior a Moreira.
Foi na forma impensável como o guarda-redes sofreu o primeiro golo (a rábula da anulação e posterior validação não apaga o essencial) que o Benfica começou a despedir-se da eliminatória.
O próprio Júlio César ficou afectado com o erro infantil e, a comprová-lo, pouco depois, ficou sem saber quando Lucas se isolou. Hesitou, hesitou e quando se lembrou de se mexer já estava praticamente fora do lance. Foi tremideira (ou tonturas) a mais...
Em relação ao resto, deixo aqui algumas notas:
- o Liverpool passou aplicando um sempre esclarecedor 4-1. No entanto, os ingleses não foram (nem são) assim tão superiores aos portugueses.
- foi estranho ver as águias a ter mais bola, a dominar e os ingleses a aproveitar os contra-ataques para marcar.
- David Luiz não é lateral esquerdo, mas confirmou que é capaz de fazer a posição sem grandes sobressaltos. O brasileiro raramente joga mal e voltou a ser dos melhores, indiscutivelmente dos mais abnegados.
- a substituição de Carlos Martins foi outro dos equívocos de Jesus. Era "só" o médio mais dinâmico da equipa...
- sem Saviola e Weldon, deixar Nuno Gomes fora dos convocados é muito discutível.
- ao invés do que é normal, o discurso de Jesus no lançamento da partida foi pouco optimista, para não dizer que foi pessimista.
- o Benfica fez uma boa campanha na Liga Europa mas, objectivamente, deixou escapar uma óptima ocasião de voltar a ser grande no Velho Continente.
PS - O Benfica tem agora 5 jogos até ao final da época. São os 5 últimos embates da Liga, o grande objectivo da época. Com 6 pontos de vantagem, os encarnados têm todas as condições de segurar o primeiro lugar, mas convém relembrar que faltam duros testes.
Saber como é que física e mentalmente a equipa vai reagir à pesada derrota de Anfield é a grande questão para o duelo com os leões na terça-feira.
Tenho para mim que, em caso de vitória, o título ficará entregue. Mas, se os 3 pontos forem para Alvalade (desde que o Sp. Braga vença)... o esperado sucesso pode acabar em pesadelo.
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