quarta-feira, maio 12, 2010
Artigo de Opinião de António Simões - Com bola ou talvez não: SLB e a justiça
O Benfica andara anos a fio a correr atrás de angústias sem perceber que o cerne das mágoas era o brilho de um passado longínquo que lhe iludia os dirigentes em grandezas e glórias presumidas, postiças, autistas. Mas desta vez, eu vi logo: quando Jorge Jesus chegou à Luz levava o futuro na palma da mão – porque nele há duas coisas imprescindíveis num grande treinador: saber muito de futebol e mais ainda de homens. Ah! E uma verdade indiscutível na cabeça: o pessimismo e a cegueira nunca ganharam um jogo. No FC Porto, diferente era a alma de Jesualdo Ferreira, a acanhar-se. Pela sua personalidade, o estilo atrevido, Jorge Jesus foi agitando o inconsciente colectivo dos benfiquistas – num truque capaz de salvar pelo coração o clube da desolação. No FC Porto, Jesualdo Ferreira não – continuou a acreditar que no futebol a paixão ou a ousadia podiam valer menos que o medo ou o calculismo. Decorreu a temporada. Com a sua confiança, Jorge Jesus disparou talentos, soltou pernas, encheu pulmões, empurrou sortes – e pôs o Benfica em linha que nunca perdeu: o grupo era sempre o mais importante – mas importante para exaltar o jogador e nunca deixar esconder o craque. Foi atirando para cima as suas notas artísticas – e para o céu, a avermelhar-se, o sonho, às vezes histérico, dos adeptos. O FC Porto titubeou, as obsessões tácticas de Jesualdo Ferreira roubaram-lhe futebol e boas ideias. Depois? Era tarde – e independentemente do Dr. Ricardo Costa ter transformado o direito em ciência criativa e dos castigos e lesões, aconteceu a justiça no campo. Sim, o melhor FC Porto da época pode ter sido três ou quatro vezes melhor que o melhor Benfica da época, mas o pior FC Porto foi três ou quatro vezes pior que o pior Sporting – e, tão irregular, não podia ser campeão! Por isso não tem direito à vitória moral que tenta arrastar da esquizofrenia do túnel, de lhe terem tirado Hulk de uma ilusão incrível. E como o futebol, cruel, tem fraca memória, se o bode expiatório já tiver o ferrete: JF – a culpa foi de Jesus...
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