O Benfica conquistou o seu 32.º título nacional sem deixar rasto de dúvidas nem pecados. Ganhou porque foi o clube que apresentou em competição o quadro de jogadores mais competente e mais valioso, o que praticou o futebol de mais alta qualidade, o que somou mais pontos e o que marcou mais golos. É avassaladora a superioridade benfiquista dentro do relvado, porque fora dele a estratégia foi diametralmente oposta. Não entrou em polémicas, não promoveu conversas turbulentas, nem discursos irreflectidos. Em nada contribuiu para o ambiente de má vizinhança no futebol.
Jorge Jesus pode ter muitos defeitos, mas adquiriu por direito, neste momento de celebração, o papel de protagonista. Luís Filipe Vieira entregou-lhe um plantel de luxo, vocacionado para o triunfo, mas desarrumado. A precisar de alguém que pudesse retirar de um motor de elevada potência o rendimento máximo, ou próximo, suficiente para sufocar os mais sérios adversários de uma Liga com condições para acelerar o passo, mas teimosamente agarrada aos conceitos gastos do passe curto, do truque, do jeito, da intriga de botequim ou da traição de vão de escada…
Jesus poderá não ser um mestre de cerimónias, nem desfrutar no interior de classe de treinadores de amplas simpatias, mas soube aproveitar o divino convite que Vieira lhe fez. Com trabalho sério, abraçou o principal objectivo, e repetidamente anunciado: o título nacional. Agora, por força das circunstâncias, ele próprio já aumentou o grau de exigência, embora continue a não ser muito explícito quanto às prioridades.
Não sei se Jesus já se deu conta disso, mas não é vergonha ser campeão pela primeira vez aos 55 anos. Jesualdo Ferreira foi-o aos 59 e… nas duas épocas seguintes. O treinador benfiquista, se a humildade nunca o abandonar, reúne, por isso, condições óptimas para o igualar, ou até suplantar, e, porque não, reacender a chama europeia que a maldição Guttmann apagou um dia. Desafio mais entusiasmante que este será difícil…
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Jorge Jesus o campeão, mas Domingos Paciência é a revelação, ou confirmação, como se quiser, por ter empreendido, com admirável sucesso, obstinado cerco ao primeiro lugar que durou na prática um campeonato inteiro. No entanto, o treinador do Sporting de Braga talvez não tenha entendido que há vitórias que extravasam em significado e importância a história de um vulgar jogo, de aí não valorizar devidamente o facto do emblema minhoto, mesmo segundo, ter conseguido a sua melhor classificação de sempre e de pela primeira vez ter entrado nas eliminatórias de acesso à Liga dos Campeões. Em vez de se empenhar na proclamação destas conquistas, que o são, cai no vazio da insinuação pouco clara ou da referência deselegante ao Benfica, transformando intervenções institucionais em amontoado de frases inflamadas, à semelhança das grosserias que tanto gozo parecem divertir os Super Dragões. Falta-lhe moderação no que diz. Pensava que Domingos Paciência se libertara desses tiques tribais. Escrevi-o há uma semana, convencido, pelo mérito do seu trabalho, que abandonara tais preconceitos e reclamara a sua independência intelectual. Talvez me tenha precipitado. A vida de um treinador é ingrata, feita de subidas espectaculares e quedas brutais. Hoje, Domingos opta por uma linguagem de arrogância e cai no despropósito de reivindicar o mesmo estatuto de quem apontou (só!) mais 30 golos do que a sua equipa. Há meia dúzia de meses, porém, estava com um pé fora do Braga, após de ter falhado o apuramento para a Liga Europa. Amanhã, como será? Não sei, mas creio que excelente oportunidade se lhe depara para cativar Pinto da Costa. Basta garantir a participação na Champions e manter-se na frente da classificação da Liga. Como? Convença o seu presidente (ou um deles…) a investir no reforço da equipa. Talvez lhe entreabram então uma porta no Dragão. Não é isso o que mais deseja?...
P. S.: Para mim a Selecção Nacional continua a ser muito importante. Queiroz decidiu e eu aceito, mas vejo mal, por motivos que já aqui expressei, a chamada de Miguel. Ponto final.
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