Ainda está por acontecer o dia em que, aquando do anúncio de uma lista de eleitos para um Europeu ou Mundial de futebol, os portugueses não tratem, logo de seguida, de discutir os prós e os contras das opções do seleccionador. É normal que assim seja. E nem sequer é um hábito nacional. Pura e simplesmente é assim em todo o lado. E eu, naturalmente, também gosto de fazer essa análise, de escalar os "meus" jogadores e, depois, tentar perceber o que terá levado o treinador a ir por outras opções.
Portugal, ao invés do que sucede com nações com uma base de recrutamento incomparavelmente maior, tem sempre um núcleo de 17-18 futebolistas que, basicamente, estão convocados por antecipação. Para algumas das pedras fulcrais na equipa, só mesmo os problemas físicos os poderão deixar de fora das grandes competições. Contudo, sobram sempre uma meia dúzia de postos que, independentemente do nome do seleccionador, podem ser ocupados por vários atletas. E quando assim é temos de perceber que tão natural vai ser a chamada do A como do B. Tudo depende da abordagem específica do treinador que, claro, socorre-se das suas próprias ideias (não somente na comparação directa dos jogadores, mas também tendo em conta o modelo táctico que pretende utilizar) para optar desta ou daquela forma. Tudo normal...
Mas, se face ao que atrás abordei, entendo (sem concordar em vários pontos) que Queiroz resolva chamar Ricardo Costa e José Castro em detrimento, por exemplo, de Nunes (será que ninguém repara que este jogador "pegou de estaca" no campeonato espanhol, sendo uma das figuras de um Maiorca que, pé ante pé, já conseguiu intrometer-se na luta pelo acesso à Liga dos Campeões numa das ligas mais exigentes no planeta?) ou Carriço (jovem que se impôs facilmente no Sporting); que João Moutinho, Carlos Martins ou Ruben Amorim fiquem em casa ou ainda que Portugal deva ser a única equipa que vai à África do Sul com apenas dois verdadeiros pontas de lança, jamais poderei compreender o critério que presidiu à escolha dos três guarda-redes, até poque nessa posição a polivalência não conta.
Não considero Eduardo um guardião de excelência, mas nem discuto se merece estar entre os três eleitos. Tendo sido aposta séria de Queiroz na qualificação, só algo de muito estranho poderia fazer com que, agora, não fosse ele o titular. Mas, naturalmente, não é o "keeper" do Sporting de Braga que está em causa. As chamadas de Beto e Daniel Fernandes é que são misteriosas. E não estou a colocar em causa o valor dos atletas, tão-somente a sua escassa utilização ao longo da temporada; a tremenda falta de experiência ao mais alto nível e a pouca vivência de Selecção, tanto na equipa principal como nas mais jovens.
Poderia entender estas chamadas se, a exemplo do que se passa noutras posições, Portugal não tivesse soluções mais lógicas. Mas, no caso em concreto, Queiroz "esqueceu-se" só de Quim e Rui Patrício, titulares indiscutíveis de Benfica e Sporting. Estou a falar de dois guarda-redes que, sendo de gerações diferentes, têm cada um deles mais experiência que Beto e Daniel Fernandes juntos. Aliás, se formos avaliar esse critério ao pormenor, até Eduardo perde com os dois. Patrício é jovem mas, só nas competições europeias, já ganhou enorme traquejo.
O caso de Quim é simplesmente aberrante. Jogou todos os jogos do Benfica campeão nacional; foi um dos guardiões menos batidos na prova; tem uma enorme experiência acumulada ao longo dos anos (na Liga nacional, nas competições da UEFA e na Selecção) mas, por alguma razão, não é - no entender de Queiroz - um dos três melhores guarda-redes nacionais do momento. Três? Mais ainda, pois se olharmos para as convocatórias anteriores, facilmente percebemos que, para o técnico, o benfiquista ainda surge atrás de Hilário e Rui Patrício!
Quim - que curiosamente nunca considerei um guarda-redes notável - passou a ser o Baía de Queiroz. Só não faço ideia das razões que estarão por trás disso, sendo que me custa a acreditar que sejam técnicas. Scolari e Queiroz podem ter muitos defeitos, mas sabem o suficiente de futebol para não ter leituras tão distorcidas da realidade, para errar de forma tão evidente a valia de um atleta.
O guarda-redes do Benfica deixou de ir à Selecção depois da goleada (2-6), sofrida no particular com o Brasil, em Brasília, em Novembro de 2008. Será coincidência? Não me parece. Contudo, convém recordar que se ele não esteve bem (e não esteve mesmo), não foi o único. Porém, do 11 escalado para esse duelo, só Quim, Bosingwa e Maniche não vão à África do Sul, sendo de acrescentar que o lateral fica de fora por estar lesionado e médio (que voltou a ser chamado por Queiroz depois) se auto-excluiu após o jogo de qualificação na Hungria. De resto, nesse triste embate na América do Sul, em 20 atletas, estiveram 14 dos que agora foram convocados. E com Bosingwa seriam 15.
Scolari nunca teve coragem para explicar o porquê do veto a Baía; Queiroz não devia fazer o mesmo em relação a Quim. O pior é que tenho a certeza que é exactamente isso que vai suceder. E se suceder algo a Eduardo na África do Sul, Beto e Daniel Fernandes ficarão numa situação complicadíssima. Se falharem... talvez nunca mais voltem a ser chamados.
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