Nos últimos dias o nome de Mantorras voltou a ser notícia. Não pelas razões que o transformaram num dos futebolistas mais adorados pelos adeptos encarnados, mas porque, depois de ficar zangado com o facto de ter sido preterido na convocatória para o jogo do título do Benfica (não chegou a ser utilizado na Liga, o que oficialmente o impede de ser contabilizado com campeão), agora resolveu aproveitar uma viagem a Angola para, de forma directa, atirar-se a tudo e a todos.
O avançado africano está tão ressentido que, de enfiada, exigiu mais respeito, criticou o facto de Jorge Jesus só ter falado com ele três vezes em toda a temporada e ameaçou que, se não o quiserem na Luz, terá que receber todo o dinheiro a que tem direito até ao fim do seu contrato.
À primeira vista, a posição de Mantorras é completamente errada. Ao colocar-se em “bicos de pé”, o angolano dá a entender que pensa ser mais importante que o colectivo e nesse aspecto, naturalmente, está equivocado. Nem ele, nem ninguém, no Benfica ou noutro qualquer clube, pode considerar-se acima do todo. De que vale, por exemplo, ter o melhor jogador de um campeonato se, no final, a descida de divisão acontecer?
De resto, se é verdade que no título anterior dos encarnados, Mantorras podia chamar a si uma parte significativa do sucesso, desta vez não lhe cabe grande coisa. Aliás, a sua importância limitou-se ao espírito que transmitiu aos companheiros, ao contributo dado nos treinos, pois não marcou golos, nem foi utilizado um minuto que fosse.
Sempre gostei de ver o futebolista Mantorras. E faço parte do extenso lote de pessoas que, sem hesitar, acreditam que ele podia ter sido mesmo um caso sério no desporto-rei. Contudo, como todos sabem, a grave lesão no joelho deitou por terra essa possibilidade. Elogio imenso o esforço que o africano fez, vezes sem conta, para recuperar, para tentar voltar a ser quem era, para ajudar o clube que acreditou no seu potencial, para agradecer o apoio dos sócios e simpatizantes benfiquistas. Mas, sejamos honestos, Mantorras há muito que deixou de poder jogar, com regularidade, futebol ao mais alto nível. Esta é a crua realidade. E por muito que, através de declarações inflamadas, tente recuperar o seu espaço enquanto jogador... ele já não existe. Aliás, a sua recente argumentação só seria devidamente apoiada pelo adepto anónimo caso o Benfica continuasse a não ganhar.
Mantorras, já o disse e repito-o agora, teve muito azar na carreira, mas isso não é a mesma coisa que ter azar na vida. Por isso, de uma vez por todas, deve perceber que a melhor solução é trocar, quanto antes, a pele de futebolista pela de dirigente (embaixador do clube ou algo do género). Sempre ao serviço do Benfica.
Se optar pelo confronto com clube, por tentar manter a actividade enquanto jogador noutro lado, Mantorras corre o sério risco de se lesionar com gravidade outra vez, de ter meses e meses de recuperação pela frente e, pior, ficar sem ocupação a curto prazo. Valerá a pena arriscar tanto? Não me parece.
Cabe aos responsáveis do Benfica, que sempre optaram por esta situação dúbia de considerar Mantorras um jogador como os outros sabendo melhor que ninguém que ele era uma caso especial, sensibilizar o angolano. Explicar-lhe tudo o que está em causa e, de uma vez por todas, oferecer-lhe um cargo que seja adequado à sua condição física actual. E isso deve ser feito sem ser visto como um gesto de caridade, mas sim como uma obrigação moral. É que, independentemente dos seus feitos no relvaldo (e da estreita ligação com os adeptos), continuo a considerar que o processo da primeira operação (e respectiva recuperação) de Mantorras nunca foi devidamente explicado. E, se calhar, é bom que ninguém o queira explicar ao pormenor.
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