quarta-feira, maio 26, 2010

Época 2009/10: relatório final - Luís Freitas Lobo

A eficácia das transições para sair da “zona de pressão” está antes da rapidez, na qualidade de passe


Terminada a época 2009/10, ficaram muitas imagens tácticas para analisar. O termo «transições rápidas» continua a ser o mais utilizado para elogiar a forma de atacar de uma equipa. Na maioria das vezes, porém, é uma análise que confunde momentos de jogo diferentes (transição ofensiva e organização…ofensiva). Até porque, na prática, poucas equipas do campeonato fazem (ou conseguem fazer) transições rápidas.
O próprio Benfica é uma equipa muito rápida a atacar, em organização, mas que aquando de tirar a bola da zona de pressão, faz mais um início de transição em segurança.
Isto é, não aumenta de imediato a velocidade do jogo, prefere mesmo um breve baixar do ritmo para o primeiro passe, quase sempre curto, sair preciso, em apoio, dando, ao mesmo tempo, curtos instantes para os médios de segunda linha e avançados se reposicionarem e soltarem a organização ofensiva (essa sim já muito rápida).
É um ténue momento de fronteira entre dois…momentos que, no fundo, separa a transição rápida do contra-ataque (uma forma de expressão da organização ofensiva).
Recorde-se como o Benfica quando tinha dificuldades perante equipas mais fechadas (bloco-baixo) em vez de insistir buscar espaços de penetração em «campo pequeno», tinha antes a tendência de (estrategicamente) recuar as suas linhas (meio-campo e ataque) para com isso aliciar o adversário a subir as suas.
Desta forma, chamava-o para uma armadilha, pois recuperada a bola nessa altura, fazia a tal transição em segurança e logo depois lançava uma organização ofensiva rápida (contra-ataque) com um espaço que antes não tinha.
É por isso que por vezes se ouvia a estranheza do treinador adversário por num jogo daqueles ter sofrido um golo em…contra-ataque (veja-se golos à Naval, Olhanense ou Nacional) quando todo o jogo (preparação e desenrolar) impediria, por princípio, qualquer hipótese dele surgir assim.
Tinham, pura e simplesmente, caído na armadilha montada.

No sistema, as principais equipas variaram de design preferencial. Benfica (4x1x3x2), Braga (4x2x3x1), FC Porto (4x3x3).
As estruturas não têm, no entanto, vida própria. E, por isso, mesmo mantendo-se, podem mudar de expressão em campo.
O FC Porto, por exemplo, manteve a capacidade de fazer transições rápidas, mas perdeu a qualidade posicional (com mobilidade) que tinha em organização ofensiva nos últimos 30 metros.
O Braga jogava num bloco médio-baixo, saía a jogar por um dos laterais ou pelo pivot, mas quando perdeu esses elementos-chave (João Pereira-Vandinho) teve de mudar esse princípio de jogo de transição, mantendo os da organização ofensiva.
O maior segredo táctico deste campeonato residiu, porém, na capacidade de tirar a bola da zona de pressão e, depois, fazer um desdobramento (não transição) rápido (e, ao mesmo tempo, apoiado) para o momento ofensivo que, então sim, incorpora essa maior velocidade.
O Benfica conseguiu-o de forma tão perfeita que, nessa dinâmica táctica, parecia fazer transições rápidas. Foi a maior (e melhor) ilusão da época.

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