Sou portista, sócio pagante e praticante, há mais de 30 anos.
Quando miúdo ia até, frequentemente, ver os treinos do clube, que na altura funcionava mais tipo uma agremiação. Gostava do ambiente (e do lanche que se seguia).
Recordo-me, ainda, de ver o Cubilhas e o Seninho, os meus primeiros ídolos da bola, e de conhecer o Mestre José Maria.
Lembro-me, também, de ter de esperar muito tempo para festejar, com alguma regularidade, a conquista de troféus por parte do Futebol Clube do Porto; de tal modo que fui detestando diversos treinadores que iam passando pelo banco.
Nessas alturas, os meus ancestrais diziam-me para ter calma e vinham com aquele discurso de que nem todos podem ganhar e que um dia chegaria a nossa vez.
Detestava esse discurso.
Queria era grandes jogadores, uma grande equipa, um treinador a sério (e não um que se destacasse só por ter grandes bigodes) e um estádio grandioso.
Mas o certo é que os grandes dias foram chegando e os títulos começaram a aparecer, inicialmente de forma um pouco fugaz e depois de modo mais sistemático.
Quando não gostava de algum treinador ou de alguma equipa diziam-me que não tinha legitimidade para reclamar, devia estar era ali para apoiar o clube, pois tinham esperado mais tempo do que eu para comemorar uma conquista e não tinham abandonado o clube.
Percebi, então, que, de facto, teria de apoiar a equipa fosse em que situação fosse e nisso sempre tive boas referências, não só os meus ancestrais mas também o grande Comandante da agremiação que nunca chegou a instituição.
Com efeito, diga-se o que se disser é aqui que reside a força do Futebol Clube do Porto (clube de bairro de província, chamem-lhe o que quiserem, pois tais epítetos redutores só lhe conferem maior destaque e reconhecimento).
É a capacidade de sem ter seis milhões de simpatizantes não praticantes e pagantes; sem ter a máquina dos media a sustentá-lo e de não ter qualquer governante a promove-lo, conseguir atingir a projecção que conseguiu, acompanhada de vários títulos, internos e externos.
E, tudo isto porquê?
Porque sempre teve a sustentar aquele clube o grande Jorge Nuno.
Confesso que nem sempre simpatizei com as ideias, posições e estratégias do Presidente, principalmente nos últimos anos, mas reconheço de que se não fosse ele, continuaria a ser sócio, provavelmente não praticante e não pagante, de uma agremiação com sede na cidade do Porto.
Alcandorado no seu escudo da guerra Norte/Sul, conseguiu mobilizar as poucas tropas de que poderia dispor na província, criou um exército fiel e aguerrido e partiu para a conquista, o que logrou, passando a estar à frente de uma armada ganhadora.
É certo que uma equipa que é pentacampeã; que ganha dois títulos europeus e intercontinentais em poucos anos e que conquista dois troféus europeus em anos seguidos, adquiriria outro estatuto, pelo menos no plano nacional, mas com o Futebol Clube do Porto, tal não sucedeu, provavelmente porque não é de Lisboa ou não tem esta palavra na sua designação.
Mas não é isso que nos abala. Porquê?
Porque as tropas continuam unidas e continuam a saber que a batalha continuará sempre e que as conquistas terão de ser efectuadas no campo.
É certo que com a saída de Rui Jorge do Futebol Clube do Porto, o clube ficou mais forte, talvez por isso este jogador se tenha apercebido de alguma diferença de tratamento nas arbitragens.
Os árbitros passaram a dar mais descontos de tempo nos jogos do Futebol Clube do Porto e a apontar mais vezes para o centro do terreno, pois aquele clube marcava mais golos e continuava a ganhar os seus jogos, ao passo que o clube onde o Rui Jorge passou a militar, que, à excepção do Schmeichel, sempre contou com guarda-redes que pautavam pela mediocridade (Costinha, Lemajic; De Wilde, Nelson e Ricardo) lá iam ganhando alguns joguitos.
É claro que as diferenças nas arbitragens se sentiam mais aquando dos jogos internacionais, onde o Futebol Clube do Porto ia brilhando (recorde-se que o primeiro jogo de Rui Jorge pelo Futebol Clube do Porto foi contra o Milão), ao passo que o Rui Jorge quando jogou pelo clube onde as camisolas eram pouco resistentes e anteriormente publicitadas pela SIC fazia um ou outro jogo e quando apanhava uma equipa Vicking ou um clube que tivesse mais de 15 jogadores disponíveis lá era eliminada.
Por isso é natural que Rui Jorge tenha sentido diferenças, aliás até na própria resistência das camisolas dos clubes porque passou.
Estrear-se positivamente pelo Futebol Clube do Porto contra o Milão e despedir-se por outro clube num jogo de aflitos não é realmente a mesma coisa.
Mas isso, essas tricas, apenas ajudam o Futebol Clube do Porto a manter a sua essência de clube de província, que desde a redefinição política do nosso burgo mais títulos conquistou e maior projecção internacional legitimamente adquiriu.
Até à próxima conquista.
9 comentários:
Estranhei nestes dias (7 ou 8) a ausência do meu grande amigo Fura-Redes, que só fugazmente lograva contactar via MSN WEB MESENGER (como eu estou tecnicamente evoluído!) ou - mais raramente - através de telemóvel.
Pensava eu que o serviço o ia absorvendo cada vez mais e comecei a temer pelos seus já poucos vestígios capilares.
Ou, então, que passaria o seu tempo numa qualquer agência de viagens a colher informações sobre outros destinos para migrar.
Descobri hoje onde se tem ocupado.
A excelência do artigo de opinião que publicou justifica o celibato a que se remeteu nestes últimos dias.
Não sabia que era do tempo do Cubillas, do Zé do Boné e de quando os jogadores do FCP tinham todos bigode e as pernas arqueadas, mas o tempo passa deveras depressa.
Fiquei também a saber que vem desses tempos o gosto pelo petisco e pela boa mesa, sendo um bom lanche uma das razões que, em miúdo, o levava a ver os treinos do FCP.
Concordo com o tributo que presta ao Pinto da Costa.
Grandes empresas, grandes países e grandes clubes de futebol fazem-se à custa de grandes líderes.
Pinto da Costa é um verdadeiro Champalimaud do futebol.
Todos os portistas que conheço, mas todos, mesmo todos (dois, no caso concreto) me dizem o seguinte:
"O Pinto da Costa não dura para sempre, cum catano!" e temem o dia em que abandone a presidência do clube.
Concordo com eles.
E posso dizer que mesmo com camisolas de melhor qualidade, daquelas que nunca se rasgam, o FCP deixará de ser a grande equipa que é se o PC se for embora.
E voltará de novo a esses tempos dos bigodes e das pernas arqueadas e dos lanches nos treinos.
Vermelhosempre: começamos sempre por algum lado, eu comecei, naturalmente pela infância.
Carlos: Percebi a ironia soberba, que aprecio. Sempre grande, mas podes descascar, o artigo também é para isso. Ah e há solução para a sucessão de Pinto da Costa.
Lembra-te que o irmão dele é director do instituto de Medicina Legal do Porto e sei, de fonte segura, que já há 2 clones dele.
Tudo controlado.
Zex: Agradeço as suas palavras, de quem tem estoicamente representado o Dragão neste espaço. Até aqui somos poucos mas bons, representados pela sua brilhante defesa.
amigo Fura-Redes:
como sabes, o valor da tua amizade é incomensurável.
confesso que estava ansioso pelo teu artigo, pois tinha expectativas elevadas.
fundadas como esperava.
a excelência deste artigo diz das tuas qualidades pessoais.
apreciei, deveras, o tom intimista e de profunda devoção e paixão que por ele perpassa.
Findos os encómios, uma questão, contudo, me assalta.
conhecendo a tábua de valores e princípios pelos quais pautas a tua vida, o mesmo se aplica aos condóminos zex e carlos, estranho a exaltação que fazes de pinto da costa.
Bem sei que muitos foram os títulos alcançados sob a sua presidência, mas será que ratificas os métodos seguidos para alcançar tais êxitos?
penso que não e daí a minha estranheza.
por outro lado, ainda que te demarques do discurso papal, não deixas de acentuar o que de pior, no meu ponto de vista, ele tem, qual seja o artificialismo de uma guerra norte/sul.
tal discurso só menoriza o porto clube e o porto cidade.
parece-me bacoco e sem sentido.
o porto clube e o porto cidade podem e devem assumir-se não pela negativa, mas sim pela exaltação das suas conquistas, das suas raízes culturais, da sua história e pelo valor das suas gentes, das quais és, aliás, um lídimo representante.
Isso sim, seriam razões que a razão conheceria.
abraço.
Não me parece que o condómino Fura-Redes tenha estado ausente durante uns dias a preparar o seu artigo. Se assim fosse não teria dedicado metade do mesmo a responder ao meu artigo de ontem. Pelos vistos Rui Jorge disse algumas coisas que incomodaram os adeptos nortenhos, vá-se lá saber porquê...
Quanto à consulta do dicionário, quero referir que se apenas o fiz para responder a um condómino que vive no permanente amuo, transportando para o blog, azedumes da sua vida privada. Pelos vistos ele quer tornar este espaço num qualquer pasquim cultural, inacessível à maioria.
Para si condómino Zex, em português brejeiro, vá bardamerda!
Amigo Vermelho, sempre bem informado, sabe dizer-me se na lista de Luís Ventoinha Vieira às próximas eleições do Benfica, faz parte algum elemento da entidade bancária que dá nome ao Futebol Campus?
Bom artigo que nos lembra o quanto cresceu o FC Porto nos ultimos anos.Este crescimento em minha opinião, foi para além do inquestionável mérito próprio, também demérito do SL Benfica.O SC Portugal tem tido uma evolução constantemente mediana, não teve portanto, muita influência no resurgimento do FC Porto.Quanto a referência ao jogador Rui Ressabiado Jorge, penso que foi certeiro.É tudo uma questão de dimensão.
Amigo Vermelho,
Sem querer fazer publicidade à concorrência, quando puderes vai ver este site:
www.cabelinhoapaulobento.blogspot.com
Vai valer a pena.
Amigo Cavungi:
Visitei esse site que indicou.
Está com muita piada.
Amigo Carlos,
Estive tentado a enviar uma foto minha, mas não tenho cabelo suficiente para fazer um risco.Nem ao meio, nem ao lado.
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