terça-feira, maio 04, 2010

Artigo de Opinião de João Querido Manha

Primeiro, o Inter do genialíssimo Mourinho. Depois o Porto, do geniquentíssimo Jesualdo.
E, em poucos dias, com três ou quatro espertos a chancelar a coisa ao melhor nível do nacional-futebolismo correto, parece vingar a ideia de que nada há de melhor do que jogar em inferioridade numérica.

Uma rápida análise da temporada, diz-nos precisamente o contrário. Apenas em oito jogos, dos 68 que tiveram expulsões, a perda de jogadores coincidiu com algum benefício de resultado - incluindo o empate do Porto em Paços de Ferreira, a vitória do Braga em Belém, a recuperação do Marítimo também no Restelo e o triunfo do Nacional no dérbi madeirense. Por vezes acontecem exceções, mas nada supera o ter superioridade e saber usufruí-la.

A insistência de jogadores, responsáveis e dirigentes do Porto (e também do Braga) em ver o plantel do Benfica dizimado por castigos, fazendo regressar à primeira linha de combate, agora sobre Luisão, a perseguição feita a David Luiz nas semanas que precederam o "clássico Hulk", prova que todos igualmente consideram uma vantagem o "casting" total. Aliás, pensando já na próxima época, só falta encontrar o habitual cidadão de Rio Tinto atingido pelo isqueiro, para preservar por uns bons três meses da insuportável combatividade do capitão encarnado o pacífico e muito desportivo "association" nacional.

As exceções ocorrem, sobretudo, em ambientes especiais ou momentos de motivação suprema, como a que exacerbou a equipa de Jesualdo Ferreira para um triunfo redentor. E quando, do outro lado, a fortaleza mental abre brechas e deixa penetrar laivos de desconcentração - como os que perturbaram a equipa do Benfica nos momentos decisivos do jogo de domingo.

O Benfica bateu no domingo um recorde, porventura mundial, de tempo de jogo em superioridade numérica ao longo de uma temporada, chegando a 342 minutos (cinco horas e 42 minutos de jogo) com mais um (por vezes, dois) jogador em campo. O que corresponde a 13 por cento do tempo total da competição. E Fucile foi o 17.º jogador adversário a ver o cartão vermelho em partidas do líder.

A grandiosidade da época encarnada justifica estes dois recordes, arrebatados ao Porto (305 minutos na época de 2000/01) e ao Sporting (16 adversários expulsos na Liga de 2004/05).
Semana a semana, o Benfica enfrentou adversários hiper-motivados, nos limites, quase descontrolados, procurando arrastá-lo para jogos de combate e nivelamentos por baixo.

Quase sempre, a força mental dos lisboetas sobrou para as encomendas, mas nos dois jogos mais complexos, em Braga e nas Antas, foi insuficiente.
O trabalho que espera Jorge Jesus nesta semana e no lançamento da próxima temporada, seguramente ainda mais assanhada pelo fanatismo emblemático, a raiar o racismo, que alastra perante a indiferença da Federação e da Liga, é precisamente o de preparar uma equipa (quase)campeã a saber gerir a sua superioridade.
A imagem confrangedora de adversários caindo a pique do pedestal da glória para comportamentos do mais rasteiro e miserável, servir-lhe-á de inspiração.

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