Bocados e Pecados
As telenovelas e o futebol têm grande   peso nas opções de grelha da programação televisiva. São os dois   produtos que, genericamente, pulverizam as audiências nos canais   generalistas e, também, no "universo cabo". Nos primeiros três lugares   dos programas mais vistos desta temporada acham-se três transmissões de   jogos de futebol - Taça da Liga e Liga Europa, na SIC - e, se   considerarmos o top 10, achamos esses três jogos, mais dois emitidos   pela TVI (5.º e 6.º lugares) e outro pela RTP (9.º), mais três   telenovelas (TVI, 4.º, 7.º e 10.º lugares) e um telejornal (SIC, 8.º).
É, pois, natural que, na "guerra pelas audiências", os "programadores"   disputem o (melhor) bocado. O que resulta nada natural é a forma como se   vem estabelecendo a relação entre quem vende os direitos   (Olivedesportos) e quem os compra (operadores televisivos), sendo que a   televisão pública não pode deixar de atender a um conjunto de condicionantes, que não são as mesmas que se colocam às privadas.
Joaquim Oliveira conseguiu uma posição de grande privilégio neste sector. Criou um monopólio e múltiplas dependências. A crise e o facto de se ter tornado proprietário de um conjunto de órgãos de comunicação social contribuíram para que, sobre esta matéria, prevalecessem o silêncio, o medo (de represálias, já para não falar de um conceito muito limitativo de empregabilidade) e, até, a chantagem.
Os clubes, interessados em receber adiantadamente a parte que lhes vem cabendo para fazer face à   pressão da tesouraria, não estão em condições de dizer um "ai", exceto   agora o Benfica que, em razão de um ano bem mais conseguido do ponto de   vista desportivo, propício para conclusões ao nível das assistências e   das audiências, está agora em condições de melhor rentabilizar a força   da sua "marca".
As televisões também não têm conseguido contornar a ditadura da Olivedesportos/Controlinveste e da Sport TV (canal temático do desporto criado em 1998 em parceria com a PT e a RTP), fazendo acordos temporais num ambiente concorrencial pouco genuíno e nada saudável.
A entrada em campo da Lusomundo Serviços (2005) criou, em redor de Joaquim Oliveira, uma situação concentracionária de   "controlo dos media", pouco recomendável num país democrático e difícil de entender num sector muito sensível como é o da comunicação social,   cuja relação com o poder político-partidário está na ordem do dia,   atirando-se para a inexpugnabilidade de uma espécie de "bolha"   (inatingível) a relação que se estabelece entre os meios informativos e o   "poder futebolístico".
Não deixa de ser por isso curiosa, em   tempo de crise, a proposta de cerca de 19 milhões de euros feita pela   RTP por dois anos de transmissão dos jogos da Liga. Dá jeito a Oliveira   (entalado entre a Zon e a Meo) e a muitos dos seus "boys" - e o "Zé   Povinho" é quem paga...
Um servicinho bem feito. Público, claro. Mas um pecado que nem a visita do Papa conseguirá expiar. Quem é mais   importante: Oliveira (e as suas dívidas) ou os contribuintes?!...
 
1 comentário:
Se é para perder dinheiro, PRIVATIZAÇÃO JÁ!
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