Antes de partir para a África do Sul, Carlos Queiroz definiu como objetivo as meias-finais. Muitos jogadores foram mais longe, admitindo “trazer a taça”. Portugal ficou-se, porém, pelos oitavos, longe do jogo decisivo de Joanesburgo e também dos outros que lhe poderiam dar acesso a esse momento. E ficou com toda a naturalidade, porque, bem vistas as coisas, não dava para mais.
Para Portugal ser um eventual candidato ao título – estatuto que necessariamente lhe seria conferido se atingisse as meias finais da competição - teria de chegar na máxima força à África do Sul. E a verdade é que chegou ao pé coxinho, com jogadores a recuperar de lesões e outros em claro e prolongado mau momento de forma.
Sejamos concretos. As ausências de Bosingwa e Nani enfraqueceram Portugal. O lateral do Chelsea seria com toda a certeza o desequilibrador que foi Fábio Coentrão. Nani era, indiscutivelmente, o jogador em melhor momento no arranque do Mundial. Seria, aliás, legítimo prever que ele iria explodir e que este poderia transformar-se no “seu” Mundial.
Lamentar estas ausências já é questão que há muito saiu da agenda, mas a referência serve apenas para sublinhar o facto indesmentível: sem os melhores, era impossível Portugal sonhar tão alto como quis sonhar.
Limitações. Sem duas pedras importantes, Carlos Queiroz viu-se perante mais problemas. Por um lado, Pepe. A recuperação tardou, depois foi acelerada e o jogador até se tornou opção. Foi um risco que o selecionador correu. Assumiu-o, mas também ele seguramente não esperaria que Pepe estivesse a cem por cento. Ficou claro que não estava e foi sempre uma solução... a prazo. Isto é, sem capacidade para aguentar 90 minutos seguidos, Queiroz viu-se obrigado a substituí-lo sempre por Pedro Mendes (com o Brasil e a Espanha), queimando assim outras opções que teriam dado muito jeito, sobretudo com os espanhóis.
Para dar mais uma pincelada negra no quadro que Portugal tinha diante de si, vários foram os jogadores que se apresentaram no Mundial completamente fora de forma. Embora por razões diferentes, Deco, Simão e Liedson foram os casos mais flagrantes.
É verdade que a Seleção ganhou outras armas (Eduardo, Coentrão e Tiago), mas se havia a ambição de ir tão longe, era impossível consegui-lo com jogadores importantes apenas a 50 ou 60 por cento das suas capacidades. Impossível. Ponto final.
Ronaldo. Finalmente, Cristiano Ronaldo. Portugal depositou de novo grandes esperanças no CR7 e ele, uma vez mais, ficou muito aquém das expectativas. No entanto, não cabe apenas a Ronaldo a responsabilidade do fiasco individual. É preciso considerar a estratégia que Portugal adoptou para os jogos -- obrigando a cautelas defensivas - que encolheram a equipa no campo e, portanto, não a colocaram à dimensão de Ronaldo. Sem apoios, muito abandonado na frente, tornou-se difícil a Ronaldo fazer melhor.
Em alta
Eduardo Ficará como um dos melhores guarda-redes do Mundial. Impressionante como cresceu e ocupou o espaço da baliza portuguesa. Atuações serenas e seguras com um naipe de intervenções notável. Deixou de ser um desconhecido para o mundo.
Fábio Coentrão Deixou de haver um problema na lateral-esquerda e agora o que menos importa é saber quem foi o pai da ideia. O certo é que Coentrão agarrou a oportunidade e em todos os outros defendeu muito bem e atacou melhor. Foi sempre desequilibrador e muitas vezes levou a equipa atrás.
Tiago Há muito tempo que não se via Tiago em tão boa forma. Inesperadamente, conquistou o lugar e foi uma das agradáveis surpresas neste Mundial ao nível daquilo que fez sobretudo no Benfica e no Lyon. Soube tirar partido do momento e aproveitou a chance que teve.
Ricardo Carvalho De uma segurança absolutamente fantástica e, também, de uma estabilidade para a equipa a todos os títulos determinante. Carvalho apareceu melhor do que se esperava e, assim, Portugal ganhou uma consistêntica defensiva que lhe assegurou resultados.
Em baixa
Pepe Jogou, coisa que poucos acreditavam que viesse a ser possível. Pepe assumia-se para Queiroz como uma opção estratégica fundamental e por isso tudo foi feito para o ter em condições. Mas não esteve nas suas máximas condições. Esforçado, não aguentou os jogos completos.
Deco Deveria ter sido um dos jogadores importantes para Portugal até por se tratar do seu último Mundial e derradeiros jogos pela Seleção. Andou a passo, prometeu a espaços, e deixou de entrar nas contas de Queiroz, mesmo quando seria das poucas pedras que tinha para jogar.
Simão Terminou a época muito desgastado e não conseguiu recuperar os níveis físicos, sobretudo, que poderiam ter ditado a diferença no Mundial. Jogou bem com a Coreia, entrou bem com o Brasil mas já não teve pernas para aguentar a pedalada dos espanhóis.
Ronaldo Dele espera-se tudo, menos... pouco. Ronaldo foi vítima do sistema, mas também vítima de si próprio. Manifestou-se comprometido com a causa, mas não conseguiu emprestar-lhe o seu génio. Foi apenas mais um quando tem de ser muito mais do que isso.
As sessões do perdoa-me
A presença de Portugal na África do Sul ficou marcada por três situações que exigiram esclarecimentos e justificações à posteriori da parte dos próprios “agitadores”.
Começou com Nani que ao ser dispensado por lesão, apresentou à chegada a Lisboa um diagnóstico que lhe permitiria ainda jogar no Mundial. Teve que corrigir o que disse.
A seguir foi Deco, aborrecido por ter sido substituído com a Costa do Marfim, pôs em causa a leitura do jogo de Queiroz. Pediu desculpas no dia seguinte.
Finalmente, Ronaldo mandou os jornalistas perguntarem a Queiroz porque é que as coisas tinham corrido mal no jogo com a Espanha. No mesmo dia, o site da Gestifute – que representa estes três jogadores – embora sem esclarecer o que Ronaldo quis dizer, assegurava que ele estava em sofrimento.
Apesar das desculpas, a imagem ficou como um desafio à liderança dos responsáveis técnicos e médicos.
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