A contratação de Eduardo pelo Génova e o interesse em Fucile por parte de um conjunto de emblemas importantes da Europa fazem prova de que as incidências do campeonato português não têm grande expressão nem marcam pontos no mercado internacional ao mais alto nível.
Eduardo fez uma época excelente na defesa das redes do Sporting de Braga e foi, sem dúvida, um dos maiores responsáveis pela inusitada classificação final da equipa de Domingos Paciência, vice-campeão nacional. Mas teve de esperar por outros palcos mais espampanantes, como os da África do Sul, com o mundo todo a ver, para se afirmar como um guarda-redes com valor no mercado e para poder dar o merecido salto para uma Liga com outro tipo de prestígio, andamento e exposição.
Fucile sendo um caso parecido é, no entanto, um caso inverso. Foi o belíssimo Mundial que fez ao serviço da selecção do seu país, o Uruguai, que chamou para si a atenção dos empresários e «despertou a cobiça pelo lateral-esquerdo do FC Porto de vários clubes europeus, como o Schalke 04», tal como referia ontem A BOLA. Que sorte teve Fucile em jogar numa liga invisível, como é a portuguesa!
Na última temporada, o uruguaio não foi particularmente feliz ao serviço do FC Porto e as suas prestações no jogo com o Arsenal, em Londres, para a Liga dos Campeões, e com o Benfica, no Algarve, na final da Taça da Liga, foram de tal modo desastradas que o próprio Jesualdo Ferreira se viu na obrigação de dar a Fucile um descanso forçado pelo bom senso para poupar ao julgamento impiedoso das bancadas do Dragão.
E assim se explica, também, a dificuldade que os clubes portugueses têm vindo a encontrar para colocar os seus mais valiosos activos nas grandes Ligas europeias e em fazer bater as respectivas cláusulas de rescisão. No caso de Di María, por exemplo, valeu ao Benfica o treinador do Real Madrid ser português e, nessa condição, ter sido um espectador relativamente atento da Liga interna de 2009/2010 onde o jovem orelhitas encantou desmedidamente a espaços.
Ainda que o brilho de Di María tenha sido intenso no percurso do Benfica até ao título, também não deixa de ser verdade que a sua produção não foi um exemplo de regularidade. E, também no seu caso, foi necessária a prova dos nove do Mundial da África do Sul, onde Di María foi cem por cento regular em termos de mediania, para o Real Madrid lutar pelo preço certo e não embarcar nos valores inicialmente pretendidos pelo Benfica.
Em termos de mercado, o Mundial funcionou como um palco regulador dos preços. Perante plateias de biliões de espectadores - … ou biliões de olheiros por conta própria – seria praticamente impossível vender gato por lebre ou comprar lebre por gato.
Faça-se justiça ao FC Porto que, com mérito e visão estratégica, assinou, em proveito próprio, o melhor negócio europeu deste defeso. E nem sequer precisou do Mundial para o fazer.
Incluído no negócio Moutinho, que tinha uma cláusula de rescisão de 40 milhões de euros, o FC Porto conseguiu levar o ex-capitão do Sporting por 11 milhões, pagando os restantes 29 milhões devidos com a venda de Nuno André Coelho à equipa de Costinha e de Bettencourt.
E não digam que não é obra vender Nuno André Coelho, um jogador invisível de um campeonato invisível, por 29 milhões de euros!
Segundo o seu treinador, o Benfica ainda está «a quilómetros» do verdadeiro Benfica projectado por Jorge Jesus. Esse facto, aliás bastante visível do meio campo para trás, não impediu os campeões nacionais de conquistarem o primeiro troféu em que se viram envolvidos nesta pré-temporada.
Pelo terceiro ano consecutivo, o Benfica ganhou o Torneio de Guimarães e, como toda a gente sabe, nesta fase de preparação, ganhar é sempre muito melhor do que perder, pelo ânimo que fornece internamente e pelo desânimo que pode provocar nos rivais directos. Ainda no ano passado, Paulo Bento explicou muito claramente, quando saiu do Sporting, que uma das maiores contrariedades com que se deparou na pré-temporada foi ter de gerir em Alvalade, perante os seus jogadores e perante os adeptos do clube, os efeitos psicologicamente devastadores da empolgante pré-temporada do Benfica.
Mas o que lá vai, lá vai, e este ano, para já, a música é outra. Os rivais do Benfica estão animados com as exibições de Roberto, guarda-redes do Benfica, do que estão desanimados com a conquista do primeiro troféu pelos encarnados e com as provas superiormente dadas em campo por Kardec, Gaitán, Airton e Jara.
No jogo de apresentação aos sócios, em Alvalade, contra o Lyon, tendo por referência o estado psicológico do espanhol Roberto nas redes do Benfica e para, por contraste, dar moral aos seus guarda-redes e satisfação aos adeptos, Paulo Sérgio confiou a baliza do Sporting aos três guarda-redes do plantel, dando a cada um a oportunidade de jogar 30 minutos.
Foi feliz Paulo Sérgio nesta sua decisão, porque o Sporting não sofreu golos e, assim, Rui Patrício, Tiago e o jovem brasileiro Victor Golas saíram com entraram, isto é, sem mancha!
Fosse Paulo Sérgio um treinador mais ousado e teria, certamente, colocado também em campo no jogo com o Lyon os três guarda-redes da equipa de juniores e outros quatro guarda-redes das equipas de juvenis. Num total de dez guarda-redes a dividir por 90 minutos, caberia a cada um jogar 9 minutos e as hipóteses de moralizar um vasto conjunto de guardiões seria, sem dúvida, muito maior.
Os dois argentinos que o Benfica foi buscar lá longe têm vindo a dar boas provas nesta fase da preparação. O que é, sem dúvida, uma boa notícia. Gaitán é um virtuoso com a bola e quando se adaptar à rispidez e à alta voltagem europeia poderá ser um elemento importante na equipa. Jara marca golos e enquanto o futebol se decidir com golos, a valia de um concretizador nunca será desvalorizada.
Em Guimarães, Jara foi o autor do quarto golo do Benfica, por sinal bem bonito e de difícil execução. Mas o que mais impressionou no quarto golo do Benfica de Jorge Jesus ao Vitória de Guimarães de Manuel Machado não foi, propriamente, a beleza artística do lance.
Foi o facto de, desta vez, Jorge Jesus, que nutre por Machado um desamor correspondido, ter-se coibido de mostrar os quatro dedos ao treinador que estava sentado, ou de pé, no banco do adversário. Fez bem Jorge Jesus em ter-se aguentado.
E que se guarde para a próxima.
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