Por razões várias – e sem esquecer alguns erros que podia e devia ter evitado antes e durante o Mundial – já defendi a continuidade de Carlos Queiroz à frente da Seleção Nacional na fase de qualificação para o Campeonato da Europa de 2012. No entanto, perante a chuva de casos envolvendo o técnico, tenho de admitir que começa a ser bastante difícil a Gilberto Madaíl ignorar a pressão (interna e externa) no sentido de dispensar, quanto antes, os seus serviços.
Queiroz, como qualquer cidadão, tem direito aos seus momentos menos bons. Aliás, por mais que tenhamos sempre a intenção de ser cordatos no relacionamento com os outros, por vezes isso torna-se impossível. Mas, convenhamos, não é normal que num curto período uma figura pública seja notícia por estar envolvida em tantas situações dúbias que, claro, só contribuem para o fragilizar. E isto quando os resultados desportivos também não o ajudam. Bem pelo contrário...
A cena de pugilato com o jornalista Jorge Baptista no aeroporto da Portela; a polémica entrevista ao “Sol” e os inúmeros casos com futebolistas na África do Sul (de Nani a Deco, passando pelo capitão Cristiano Ronaldo) provam, de forma clara, que o Carlos tranquilo, discreto e metódico do passado deu lugar a um Queiroz beligerante, polémico e nervoso no presente.
Não faço ideia do que estará na origem desta metamorfose que, mais tarde ou mais cedo, terá de ter consequências. Contudo, desconfio que é a pressão provocada pela responsabilidade de apresentar resultados de excelência que o tem atrapalhado. Continuando a considerar que estamos na presença de um treinador capaz, mestre no planeamento e organização, a verdade é que os seus desempenhos enquanto líder em conjuntos seniores nunca foram brilhantes. Provavelmente, acreditou que a sorte iria mudar ao regressar à Federação Portuguesa de Futebol. Só que, até à data, a missão não tem passado de “Satisfaz”. A um professor, claro, exige-se mais, muito mais. E esse é que é o problema.
Gilberto Madaíl, dentro da sua tradicional linha de ação, não ousou fazer estalar o chicote depois do Mundial. Optou, de forma pouco percetível, por mandar elaborar um comunicado em que ficámos a saber que existiram falhas na equipa técnica, mas que as mesmas não passaram pelo responsável do “staff”, situação que, por si só, é estranha. Mas se o assunto parecia (por agora) resolvido, o anúncio do envolvimento de Queiroz numa querela com os médicos da Autoridade Antidopagem de Portugal voltou a trazer para a praça pública o tema do seu eventual despedimento.
Em condições normais, acredito que Madaíl seria capaz de abordar o assunto e, no final, deixar tudo na mesma, pese alguma contestação interna.
Contudo, desta feita, as palavras do secretário de Estado Laurentino Dias indiciam que algo de diferente pode acontecer. O político – que já tinha mostrado uns “amarelos” durante o Mundial – não foi nada meigo na forma como confirmou e comentou o último caso envolvendo o selecionador.
Ao qualificar como “grave” a questão, acrescentando que os factos obrigam a que a Federação “pondere”, fez com que o cerco a Queiroz aumentasse de forma evidente. Perante este novo cenário, Madaíl terá, rapidamente, de conseguir arquitetar uma defesa consistente para segurar o treinador. Mas será capaz?
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