A comparação será certamente feita pelos adeptos. Os do Sporting vêem a sua equipa muito mais consistente depois da vitória frente ao City, sobretudo no controlo que sempre tiveram da partida, os do Benfica sustêm a esperança num ataque que continua entusiasmante, apesar dos (muitos) golos sofridos em toda a pré-época. Todos têm razão, embora não o vejam. A diferença está no ponto de partida. O Benfica, com quase os mesmos ingredientes, já deu certo; o Sporting vem de um passado recente angustiante. E as comparações, por agora, devem ficar por aí. Porque não é possível fazê-las em profundidade.
Depois do jogo de apresentação dos encarnados, continuo a achar o mesmo de há algum tempo. Na hora de atacar, a essência das grandes exibições da última temporada está lá. O perfume de Saviola e Aimar, e a irreverência de Carlos Martins continuam a manter o sector em alta rotação. E agora chegam Coentrão e Cardozo, que fizeram questão de redesenhar aquele movimento que tantos golos deu na última temporada. Por aí, Jesus tem razões suficiente para ficar descansado. Gaitán, o substituto de Di María, já mostrou talento e o cinzento desta última exibição foi anulado pela subida de Coentrão para o ataque, para já o plano B para injectar energia à ala esquerda. O único senão é que a época é longa, e faria todo o sentido ter outra opção para o corredor. Lesões, castigos, estou certo que os responsáveis do Benfica conhecem a lengalenga.
No plano oposto, as coisas não têm corrido bem. Dois golos sofridos com o Sion, um com o Aris, três com o Groningen, três com o V. Guimarães e dois com o Mónaco. Onze! Alguns tiveram «carimbo» de Roberto e podem ser considerados acidentes, outros resultaram de movimentos de contra-ataque, acções em que o Benfica raramente foi surpreendido na última temporada. Atenuantes foram as ausências na defesa: Luisão, Maxi Pereira e Fábio Coentrão, três titulares do onze campeão. Outro tema poderá ser o início de época hesitante de Javi García (hoje já melhor), que Jesus percebeu rapidamente, com a recente aposta em Airton.
Um parêntesis aqui. Javi García e Airton são dois bons jogadores, mas funcionam de maneira diferente para a equipa. Compreendo que o brasileiro seja mais enérgico, mas a inteligência do espanhol é bem mais útil na hora de reequilibrar a defesa. Esta aparente fragilidade momentânea do ex-jogador do Real Madrid poderá explicar também parte dos problemas que os homens mais recuados têm sentido. E também falta Ramires, e tudo leva a crer que faltará no resto da temporada face às notícias do assédio dos grandes da Europa. O brasileiro é todo ele feito de equilíbrios e fundamental nos dois processos da equipa: o atacante e o defensivo. Todos estes factores, mais o desgaste do início de temporada, podem explicar como a melhor defesa do último campeonato sofre agora tantos golos. Jesus tem 15 dias até à Supertaça para corrigir alguns movimentos (que também não estão a funcionar tão bem como no passado) e contou hoje, para já, com uma excelente notícia: Sidnei fez o melhor jogo da pré-época.
Outra boa notícia, se for lida dessa forma, é que a equipa tem conseguido reagir ao mau karma de Roberto (sem culpa nos golos sofridos perante os franceses), nunca se perdendo em campo. É sinal que todos sabem o que têm a fazer.
O argumento de não valorizar em excesso o que se passa na pré-época vale também para as coisas negativas. O Benfica está muito longe de ser uma equipa perfeita, mas parece claro que os problemas estão identificados e há a confiança cega de que, mais cedo ou mais tarde, tudo funcionará em bloco. É verdade que parte mais acima do que os outros, mas muito mais importante é em que degrau se chega. E isso está longe de estar decidido. Muito longe.
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