Por cada cavalgada pelo flanco, multiplicada por 20 ou 30 em cada jogo; sempre que cumpre atrás (defesa), sobe pelo corredor (médio) e desequilibra à frente como artista (avançado), Fábio Coentrão resgata dignidade a infância e adolescência problemáticas. Vinga-se com a bola colada ao pé esquerdo e perante o entusiasmo de plateias por fim rendidas ao seu talento, dos brinquedos que não teve, dos estudos que não prosseguiu, das dúvidas que suscitou e do fracasso a que parecia condenada a sua vida; é como se reclamasse em campo o direito a ser reconhecido por uma sociedade mais generosa com quem se notabiliza fora dele. Nascido como potencial perdedor, graduou-se como ser humano conquistando direito à admiração da comunidade que o viu nascer, gente que, por ver nele a imagem de sucesso, expressa agora orgulho pelo irmão que é expoente nacional e internacional do desporto mais belo do Mundo.
O futebol cumpriu o papel social na concretização do sonho próspero de quem lutou contra a mediocridade e a privação; na condução de um jovem que, no lugar onde nasceu, ia para o mar como quase todos ou fugia para terra onde só a bola e o talento lhe permitiriam fintar e vencer o destino cruel. Fábio aproveitou a benesse e, porque sempre confiou no ímpeto criativo, superou a leveza, a sobranceria, o preconceito e até a ignorância de quem o deu por derrotado antes do tempo.
Jorge Jesus abriu-lhe horizontes e adaptou-o às necessidades técnicas e táticas do campeão, percebendo o mais importante e, ao mesmo tempo, o mais elementar: jogadores tão geniais e homens com tanta fome de sucesso nunca deixam ficar mal quem lhes dá afeto, confiança e futuro. Agora que o dia-a-dia no Benfica se faz de estrelas que chegam e partem, de milhões que entram e saem, Jesus já definiu a permanência de Coentrão como prioridade para 2010/11. Ele, melhor do que ninguém, sabe que, da conjugação de todas as vontades e competências, construiu e moldou um dos melhores defesas-esquerdos do Mundo.
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