terça-feira, novembro 30, 2010

Cardozo: as coisas simples e as outras - Luís Sobral

Cardozo é sobretudo um jogador das coisas simples.

Uma cabeçada com boa direcção, um remate seco e forte, um posicionamento correcto para receber e passar e os golos que parecem capazes de ser marcados por qualquer um.

No futebol, já se sabe, o simples é quase sempre muito mais difícil do que parece. Como nem todos o reconhecem, Cardozo é, de um modo geral, menos apreciado do que devia.

No Benfica, apesar disso, costuma notar-se quando o paraguaio está presente. Até porque, em algumas ocasiões, Cardozo faz bem mais do que assinar o ponto.

Foi assim em Aveiro. Primeiro o simples, aquele «penalty» sem esforço. Depois uma fantástica finalização logo no período em que o adversário ameaçava crescer e para acabar uma enorme assistência para o companheiro Saviola, também ele a precisar de regressar aos festejos.

Tudo somado, Cardozo leva cinco golos em sete partidas como titular, na Liga. Não é fantástico, mas está longe de envergonhar.

segunda-feira, novembro 29, 2010

A importância de Ruben Amorim - Luís Pedro Sousa

Oscar Cardozo assumiu-se como o grande destaque da equipa do Benfica, que ontem em Aveiro, fez recordar aos adeptos as exibições da bem sucedida época passada. Os encarnados passaram a ter, afinal, uma solução na área contrária, pois a inocência de Kardec foi substituída pela veia goleadora do paraguaio.

Mas Jorge Jesus procedeu a outra alteração importante. Com Ruben Amorim também a cem por cento, o treinador do Benfica confiou-lhe o lado direito do meio-campo. Como se da era Ramires se tratasse, os encarnados apresentaram poder de choque, recuperaram facilmente a bola no miolo, patenteando, enfim, uma coesão que o outrora desprotegido Javi García só pode agradecer.

O problema do flanco direito do Benfica está resolvido. Pelo menos até que um eventual impedimento de Maxi Pereira ou Ruben Amorim transporte os encarnados para um passado recente.

"Então tchau" - Marta Rebelo

Cardozo! As saudades do Tacuara fizeram-se sentir pelos pés infelizes do seu substituto destas semanas, Kardec. Aqueles dois golos e meio, dando a outra metade a Saviola, fizeram de Cardozo o herói da partida com o Beira-Mar.

Era um jogo de tudo ou nada, mata-mata, amor ou ódio entre treinador e benfiquistas, depois da vergonha com o Hapoel. Mas só houve reconciliação entre equipa e adeptos. Não sou terrorista e venho apregoando a estabilidade, mas já me sobram poucas dúvidas: o Glorioso é muito maior do que JJ. Assim que se apanhou a ganhar por 3-0, Jesus mexeu logo na equipa para fazer entrar os suspeitos do costume desta época. Este mister, ou não percebe nada de psicologia de massas e não lê os adeptos, ou está convencido que a sua teimosia compensa: a 15’ do fim, troca Cardozo por Kardec… será que estava surdo há 15 dias, quando o capitão Nuno Gomes jogou 5 minutos, marcou e a Luz chorou com ele? Esqueci-me… ele, Jesus, é que sabe. Por isso é que já com Salvio a jogar e Jara quase a entrar, sofremos o único golo dos aveirenses.

O presidente afirma que o Benfica conta é com Jesus, mas já lhe cortou as pernas às desculpas: “Jesus tem a equipa que pediu”, disse Vieira esta semana. A verdade é esta: JJ queimou David Luiz e Saviola, de vez, no Dragão. Saviola, sem explicação possível, nem jogou. Lembram-se do “Caracoleta” de gatas, a tentar apanhar Hulk? A humilhação incapacitante que não terá sido colocá-lo com tamanha tarefa na lateral esquerda, onde o mister sabe, e todos sabemos, que David Luiz não rende? Mas se o vendermos no mercado de inverno perdemos, no mínimo, uns 10 milhões.

A festejar os golos de Aveiro estiveram abraçados 10, mais Roberto ao longe, e ninguém partilhou um aceno com o banco. A culpa está muito longe de ser só sua, mas a tática e o onze são. Jesus, “então tchau”.

O Grande Líder - João Bonzinho

Qualquer benfiquista que olhe para o jogo do Benfica em Telavive apenas com olhos para esse jogo não pode de deixar de se sentir acometido por uma estranha mas genuína sensação de pena de Jorge Jesus. Mais do que dos jogadores.
Hoje, é Jesus o homem destinado a crucificar-se, e se qualquer benfiquista olhar, portanto, para o jogo de Telavive como o único jogo desta história, então não pode mesmo deixar de se imaginar na pele do treinador benfiquista: mas como é que foi possível perder este jogo por 3-0?
Coitado de Jesus; só lhe faltava mesmo ver-se associado a essa terrível lei de Murphy, segundo a qual «se algo se prevê que possa correr mal, então correrá ainda pior». Mais ou menos isto.
Digam lá, os benfiquistas, com franqueza: não sentiram a mesma estranha mas genuína sensação de que algo poderia correr mal no Estádio do Dragão? Pois correu ainda pior.
E desta vez: não terão sentindo, lá no fundo, a mesma estranha mas genuína sensação de que algo poderia correr mal em Israel? E, sinceramente, o que seria correr pior?
Apesar de apregoar, no início da temporada, ter a melhor equipa e a convicção de que o Benfica seria esta época bicampeão nacional, Jesus parece hoje, apenas três meses volvidos, um treinador destroçado, com muito menos alma e visivelmente mais descrente.
A equipa não podia ter começado pior o campeonato, mostrou relativamente cedo ter perdido boa parte da identidade vencedora que a levou ao título e, o que sempre me pareceu mais preocupante, foi perdendo espírito. Por falar em espírito e traduzindo o espírito da manchete de ontem de A BOLA faz realmente sentido perguntar: a equipa não pode ou… já não quer?
Para quem está de fora, é difícil, muito difícil acreditar que não haverá nenhuma razão de fundo para o Benfica ter mudado tanto do título para agora. É difícil.
Perguntarão: mas Jorge Jesus deixou de ser o bom treinador que a grande maioria reconheceu, sobretudo, na última temporada?
Como posso duvidar das qualidades técnico-tácticas de Jesus? Não posso. Mas posso duvidar de todas as outras. Diz Jesus: «De futebol sou eu catedrático.» Acredito. De tácticas, quererá dizer. Mas, desculpem lá o regresso do lugar-comum, um treinador de futebol é hoje muito mais que um treinador; é treinador, gestor de recursos humanos, comunicador, líder, confessor e conversor, manipulador e defensor; tem de contagiar, motivar, emocionar, congregar e confiar, ser eticamente solidário e tolerante, e, por fim, ser responsável, afirmativo e claro nas regras que impõe e na exigência que define.
Em qual destes aspectos mais será Jesus catedrático?
Já alguém ouviu o treinador do Benfica partilhar o sucesso com alguém da sua equipa técnica?
E alguém o ouviu assumir por inteiro a responsabilidade de uma única que fosse das oito derrotas que a equipa já soma nos 18 jogos oficiais que leva nesta temporada?
Jesus sabe de futebol? Saberá certamente, e talvez muito. Jesus é um bom líder? Infelizmente para ele e para o Benfica, parecem evidentes os sinais de que não será. E sem um bom líder, nenhuma equipa de futebol pode aspirar a ser verdadeiramente grande!

domingo, novembro 28, 2010

José Mourinho e Cristiano Ronaldo - Miguel Góis

Confesso que, em momentos de maior debilidade psicológica, tenho assistido a jogos do Real Madrid com o único propósito de ver um jogador que na época passada alinhava no Benfica a vencer uma partida de futebol. Hoje em dia, é um luxo que não dispenso. Acresce a este prazer, a curiosidade em assistir ao desempenho de José Mourinho e Cristiano Ronaldo, dois portugueses extremamente profissionais, ambiciosos e competentes. É, aliás, possível que o Mundo esteja a ficar com uma ideia ligeiramente errada sobre como são os portugueses. Por sorte, Manuel Cajuda também se encontra a trabalhar no estrangeiro, se não podíamos estar perante um equívoco irreversível.

Há muito que se percebeu que Cristiano Ronaldo é viciado em vitórias Mas, esta época, em Madrid, o jogador encontrou o seu dealer: José Mourinho. E não podia ter vindo em melhor altura: como passou o Verão a ser treinado por Carlos Queiroz, é provável que Cristiano estivesse já numa fase muito adiantada da desintoxicação.

Dito isto, quando imagino uma palestra de Mourinho no Real Madrid, não consigo evitar lembrar-me da cena em que o druida de Asterix distribui a poção mágica pelos gauleses. Calculo que, por razões óbvias, Cristiano Ronaldo esteja dispensado de ouvir as palavras de motivação do treinador. Ainda assim, depois de muita insistência por parte do jogador, Mourinho deve dizer-lhe: “Tu não precisas, Cristiano. Já te esqueceste que caíste num caldeirão de ambição, quando eras pequeno?”

Maus negócios - Domingos Amaral

From: Domingos Amaral

To: Luís Filipe Vieira

Caro Luís Filipe Vieira

O dramaturgo Oscar Wilde disse um dia que “o dinheiro não traz felicidade, compra-a”, verdade que não se verificou, este ano, no Benfica. A abundância, em vez de remédio, tornou-se um veneno. De nada valeu, como o sr. disse, ter “a equipa mais cara de sempre”. Subiu demasiado as expectativas, o que só aumenta a frustração atual.

Seis meses depois, são evidentes os maus negócios. As contratações de Roberto e Jara, e provavelmente de Gaitán, custaram de mais e provaram de menos. A renegociação com Jesus tornou-se também um profundo desapontamento. No início da época passada, ele prometeu que a equipa ia jogar o dobro. Assim aconteceu. No final do ano, já campeão, quis ganhar mais, e acenou com o fantasma do FC Porto, que supostamente o queria contratar. O senhor assustou-se e foi na conversa. Aumentou-o e assistiu, pasmado, a um estranho fenómeno: a equipa entrou em colapso. Estranho paradoxo: o treinador é aumentado para o dobro e passa a render metade.

Para mais, há um rumor perturbador, que nunca foi desmentido. Conta-se que os jogadores se revoltaram porque os prémios por terem sido campeões eram infinitamente menores que o do treinador. Não sei se é verdade, mas se for, talvez explique o apagão geral de Maxi, Luisão, David Luiz, Javi García, Saviola, Aimar, Cardozo, e o mal-estar entre eles e o treinador. Money rules the world…E agora? Olhe, resista à depressão, cerre os dentes e obrigue-os a lutar até ao fim. Mau negócio mesmo é nem ficar em 2.º lugar.

sábado, novembro 27, 2010

Greve Geral Vermelha - Luís Seara Cardoso

Que Benfica foi aquele que jogou em Israel? Que Benfica foi aquele que se deixou bater por um adversário sem categoria internacional? Que Benfica foi aquele que se deixou arredar num jogo decisivo da próxima fase da Liga dos Campeões? Como foi possível semelhante desastre?

Já há duas semanas, noutra partida de capital importância, o Benfica vergou ao peso da mais cruel derrota de sempre no reduto do FC Porto. Que se passa com este Benfica, oito vezes derrotado em 18 jogos realizados? Que se passa com este Benfica, tão poderoso e exclamativo no ano anterior?

O começo da temporada foi muito atribulado, jogadores houve que chegaram a conta-gotas em virtude do Mundial? Saíram duas unidades influentes? São razões bastantes para o Benfica, esta época, se exibir de forma tão pouco convincente, tão amedrontada, tão perdedora? Claro que não. Seguramente, outros motivos haverá. E, muitos deles, só podem ter a ver com o interior do grupo.

Como vai ser o futuro, prognosticado em novembro? Doloroso, ao que tudo indica. A menos que qualquer coisa de extraordinário aconteça. Ainda há objetivos, ainda há muito a defender e a conquistar. Mas também há muito a mudar, também há muito a corrigir. Uma coisa é certa: no curto espaço de meses, o Benfica deixou de ser um conjunto de futebol sedutor para se transformar num conjunto apático. E a competição não perdoa tão brutal metamorfose...

sexta-feira, novembro 26, 2010

David Luiz, Vieira e Jesus - António Magalhães

O menino de oiro do Benfica tornou-se um problema para Luis Filipe Vieira e Jorge Jesus. De pilar da equipa e “negócio da China”, David Luiz passou a jogador instável e ativo desvalorizado. As consequências foram drásticas do ponto de vista desportivo e financeiro: o Benfica ficou fora da Champions e deixou de encaixar uma verba de monta que decorria não apenas desse apuramento mas também das mais-valias que os milhões que havia quem estava disposto a pagar agora já baixou a parada.

Jesus e Vieira podem ter muitas razões de queixa de David Luiz, mas o jovem central brasileiro não pode funcionar como bode expiatório do ocaso benfiquista. Não é só o facto da cabeça de David Luiz estar nos milhões que podia estar a ganar que explica o insucesso que corresponde a 8 derrotas em 18 jogos. Convém que Vieira e Jesus façam também o seu mea culpa e reconheçam as culpas que têm no cartório.

quinta-feira, novembro 25, 2010

Fartos de Jesus, jogadores sofrem "síndrome de Queiroz" - Alexandre Pais

A estrondosa derrota do Benfica frente ao Hapoel pode querer dizer muita coisa e vir ainda a originar, ou a explicar, outras crises. Mas podemos dar já por certo que os jogadores encarnados estão fartos de Jorge Jesus – dos seus métodos, dos seus discursos, das suas simpatias e antipatias, da sua personalidade.

Um futebolista é como outro trabalhador bem pago: não brinca com a profissão que lhe dá uma qualidade de vida muito acima da média. Não se pense, por isso, que seja possivel, a este nível, formar um qualquer complô que tenha por objetivo destituir um treinador.

O problema é que o início da época benfiquista – com a derrota na Supertaça e uma série de resultados menos positivos – não permitiu que o "mar de rosas" da temporada anterior se repetisse na Luz. E o mau começo na fase de grupos da Champions e a desvantagem pontual entretanto conseguida na Liga pelo FC Porto contribuíram para a deterioração do ambiente, dentro e fora do grupo de trabalho. Já não há estado de graça, a recente "advertência" dos No Name, no Seixal, não deixa margem para dúvidas.

O Benfica vive hoje o que se poderia designar por "síndrome de Queiroz", ou seja, passa por aquela fase que a Seleção atravessou em que ninguém regateava esforços mas também ninguém dava aquele "plus" que uma quipa de futebol precisa para fazer a diferença.

Já o escrevi aqui no Record – no passado dia 8, na sequência da goleada sofrida pelo Benfica no Dragão – e o resultado de Telavive confirma-o, infelizmente: chegou ao fim a era de Jesus nos campeões nacionais. Agora, é apenas uma questão de tempo.

Com mais ou menos drama, com mais ou menos desmentidos, o técnico terá de receber o seu gordo cheque e procurar – e seguramente reencontrar – o seu sucesso noutro clube.
É assim a vida. E o espetáculo tem de continuar.

Acabou o mito Jesus - Luís Avelãs

Mesmo tendo tido a sorte de calhar num grupo bastante simpático, sem nenhum “tubarão”, o Benfica não conseguiu qualificar-se para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões. E a triste sentença chegou ainda com uma partida para disputar. Tudo porque as águias foram incapazes de levar de vencida a modesta formação do Hapoel Telavive. Pior: saíram de Israel vergadas ao peso de uma humilhante derrota (0-3) que, conforme confessou o treinador local, nem os próprios adversários admitiam como possível.

Meses depois de ter conquistado o título nacional - e de ter mostrado um futebol vistoso e eficiente -, a equipa do Benfica é, hoje em dia, bastante diferente. Para pior. Para muito pior. E se são os jogadores que fazem os resultados dentro do campo, convém não esquecer o “dedo” dos treinadores. Jorge Jesus foi endeusado quando colocou os encarnados a jogar “a sério”. Agora, no entanto, parece claro que não será um inquilino para durar muito no banco. E tudo porque, num ápice, a sua boa estrela desapareceu. Agora, quase que invariavelmente, as opções saem furadas, as substituições não ajudam e, mais grave, dá a ideia que os jogadores já não absorvem a mensagem, nem sequer entendem algumas (várias) das suas decisões. Aliás, também dirigentes e cada vez mais adeptos se interrogam perante determinadas atitudes do técnico.

O Benfica abandona a “Champions” depois de perder os três jogos fora. Longe da Luz, mais do que serem invariavelmente derrotados, os encarnados nem um golito marcaram. Com Lyon e Schalke longe do fulgor dos últimos anos (os franceses são oitavos e os alemães 15.ºs nos respectivos campeonatos), nem assim os portugueses foram capazes de, pelo menos, empatar uma partida. E se o registo já estava mau, na quarta-feira raiou o absurdo quando se deu a catástrofe em Telavive. Pese ter beneficiado de 21 cantos, de ter tido a bola quase de princípio a fim e de ter construído as melhores oportunidades, o Benfica saiu completamente amolgado do relvado, após ter escrito uma das páginas mais cinzentas da sua história (Jesus está a coleccionar várias nos últimos tempos) . É que ser goleado pelo Hapoel é algo que não tem qualquer justificação, pois estamos a falar de uma equipa que fez a sua estreia esta época na mais importante competição europeia, que nunca tinha ganho uma partida a este nível, que é oriunda de um país que, futebolisticamente falando, é de expressão reduzida e, já agora, possui nas suas fileiras apenas (alguns) jogadores medianos.

A época passada, o Benfica tinha um ataque que impunha respeito e uma defesa sólida. Na altura, mesmo quando a inspiração não era a melhor, a equipa lá conseguia encontrar maneira de ganhar os jogos. Agora, vê-se precisamente o inverso. O rendimento dos avançados é bastante inferior, o sector recuado mete água quase sempre e os jogos, mesmo quando os adversários atacam pouco, podem sempre ser perdidos. Até o elogiado trabalho de laboratório de há uns meses nas bolas paradas desapareceu. Agora, são os opositores que tiram partido desse tipo de lances.

Jesus, ontem, falou em falta de sorte. Tem alguma razão. E disse ainda que a equipa podia ter estado a jogar 3 ou 4 horas que dificilmente iria marcar um golo. Também deve ter razão. Aliás, nas pouco mais de 4 horas e meia que a equipa disputou fora nesta Liga dos Campeões... nunca marcou, pelo que a dedução parece correcta. O treinador que tanta gala fazia há uns meses com as suas profecias também acertou noutra coisa: o Hapoel ia decidir a sorte deste grupo. Só não foi capaz de prever quem seria o “bombo da festa”.

Sempre considerei que Jesus estava a exagerar quando dizia, de peito cheio, que a equipa podia vencer a “Champions”. Só ele, no meio das suas megalómanas visões, podia acreditar nesse desenlace. Aliás, um dos grandes problemas (talvez o maior) do actual Benfica é que o técnico tem metido as mãos pelos pés vezes sem conta. Jesus, depois de ter brilhado a temporada passada, convenceu-se que era uma espécie de clone de José Mourinho, que conseguia transformar em ouro tudo o que tocava e que iria ganhar vezes sem conta. Falou demais e mal (o que não foi propriamente uma novidade...), tomou opções erradas (dispensas e contratações) e começou a dar sinais de evidente desnorte quando surgiram as dificuldades. Agora, resume à falta de sorte os resultados negativos. Será que, no passado, os positivos também eram obra do destino? Afinal de contas, sempre se ouviu dizer que, num país em que Belenenses e Boavista foram momentâneas excepções, quem treina Benfica, FC Porto ou Sporting arrisca-se sempre a ser campeão...

PS - Sem Supertaça e Liga dos Campeões e com o Campeonato virtualmente perdido, o Benfica tem, desportivamente, de concentrar forças na Taça de Portugal, na Taça da Liga (gostava de ver, neste cenário, Vieira abdicar da competição) e na Liga Europa (acreditando que o apuramento para esta prova vai ser uma realidade). Contudo, financeiramente, não vejo maneira de o clube poder passar por Janeiro sem vender jogadores. Deixar algumas das figuras na Luz mais tempo só servirá para as desvalorizar.

PS1 – Depois de ter humilhado Nuno Gomes ao lançá-lo nos instantes finais do já resolvido embate com a Naval, Jesus foi ainda mais longe desta vez. Desvalorizou a confiança que o capitão ganhou com o recente golo e abdicou da sua experiência e liderança (mesmo no banco) numa partida que catalogou de final. Ele lá sabe porquê. Ou pensa que sabe...

Sobre a Metodologia da Derrota - Carlos Pringle

Escrever sobre as derrotas do Benfica é já um depurado processo metodológico. Aliás, sendo eu um metodólogo por defeito, este compasso de espera - não escrever após o 4-0 à Naval para escrever após mais três secas do Happoel - é disso prova. Poderia alegar uma estadia demorada na Polónia, mais precisamente em Lodz, para tratar de uma exportação de sabonetes com aroma a pera-abacate, mas não. Apesar de ser verdade, não me recorrerei deste subterfúgio menor. Evidentemente que preferi esperar pela derrota do Benfica para pegar na pena e deixar que os zéfiros pestilentos da ria de Aveiro, onde me encontro, me inspirem, accionando em mim o verdadeiro método de escrever sobre derrotas do Benfica.


Façamos de conta que este é que é o primeiro parágrafo. Para começar a versar sobre a normalidade benfiquista deste ano, nada melhor que uma afirmação contundente, do género meus preclaros conclubistas, preparemo-nos, que esta época vai ficar - e já está - na história pelas antipodais razões da época passada. Em quatro meses ruiu tudo: o trabalho edificado e as expectativas criadas. Esta já é mais uma época de um imenso desconsolo. Depois deverá seguir-se, uma rememoração das vezes em que tal já se disse e escreveu, como prova que o autor não é um arrivista. (Neste instante, o autor escusa-se a fazer links para todos os textos que já publicou neste espaço, salvo o primeiro, ainda pejado de fézada). Na antecâmara da conclusão vem uma frase forte, do género toda a gente sabe que os jogadores estão a fazer a folha ao treinador, demonstradora que o escriba sabe o que é o cheiro do balneário e que conhece ou tem uma fonte importante junto da estrutura do Benfica. Por fim, a recordação da mais recente vez em que se afirmou estar ciente do descalabro vermelho: terça-feira, no barbeiro existencialista, quando, de navalha encostada ao pescoço em acto de desfazer a barba, a ele se dirigiu, dizendo ò Fernandes, a desgraça começou na Supertaça. Assim termina o primeiro parágrafo.


No segundo parágrafo, recua-se no tempo uma semana e meia apenas para expressar a intensidade da comoção de Nuno Gomes ao marcar o quatro a zero à Naval, para referir o quão ela nos marca e, aproveitando a conjuntura, para a metaforizar numa imagem do Benfica de hoje. No qual Gomes, teimosamente, vai irritando o treinador [e conclui-se, depois da figura de estilo, com o reforço de uma ideia já aflorada, ora leiam lá o que vem a seguir] a quem os jogadores estão claramente a fazer a folha.


No terceiro parágrafo, o escriba mostra como põe a ferramenta da História ao serviço da previsibilidade do futuro, neste caso, na descrença de um bom resultado em Israel: refere ter sofrido que nem um cão quando a vinte e oito de Agosto de noventa e oito, o Benfica, jogando o apuramento para a fase de grupos da Champions, depois de ter vencido o Beitar Jerusalém por seis a zero na Luz, a dez minutos do fim do jogo "em Beitar" está a perder por quatro a um. O resultado final foi encurtado por João Pinto e o Benfica passou por um fio. Relembra também as boutades Jesuanas do “agora vamos ganhar a Champions”. Junta tudo isto e, na esteira de uma conclusividade lógica, reforça as piores previsões (porque, benfiquista realista e melancólico, só isto lhe resta fazer) usando a expressão qualquer benfiquista que se preze. Cá vai: qualquer benfiquista que se preze tem quase a certeza que nem à Liga Europa vamos e, se formos, vamos de vela tão cedo quanto possível. Basta relembrar que foi na Liga Europa que o canibalismo Jesuano começou – qualquer benfiquista que se preze (bis) sabe que se Jesus não tivesse sido acometido de uma imensa borra, que o levou a inventar com o Sidnei em vez do Fabinho (Luiz jogou a lateral esquerdo) e o Júlio César em vez do Quim, tínhamos seguido em frente, empatando em Anfield a uma bola.


No quarto parágrafo o autor sublinha os contornos humilhantes desta época, referindo que até o Sporting de Braga fez uma Liga dos Campeões melhor que a do Benfica, reafirma o carácter anedótico deste Benfica que, com maior ou menor dificuldade, já não se verificava desde os anos negros de dois mil e um, no tempo daquele senhor que conseguiu perder com o Gondomar em casa, com golo de Cílio Sousa, e alerta para o ardil que é o facto do treinador do F.C. do P. andar estrategicamente preocupado em defender o treinador do Benfica da mesma forma fácil que todos os Benfiquistas defendem que o treinador do Sporting o seja por muitos e bons anos.


No quinto e último parágrafo, o escriba reafirma a falta de condições do treinador – fim de linha, Jota Jota, fim de linha - e termina com um bocadinho de name dropping para dar estilo ao texto e para categorizar o grande dilema do Benfica deste ano: como dizia Jean Paul Sartre, no futebol, tudo se complica pela presença da equipa adversária. Como lêem, esta máquina de escrever já está mais oleada que os onze de Jesus. Coisa fácil, quando há método e lógica.

quarta-feira, novembro 24, 2010

Benfica: o dia em que Jesus teve razão. Ou nem por isso - Luís Sobral

Dizia Jorge Jesus depois de vencer o Hapoel na Luz, uma coisa deste género: atenção, esta equipa é boa, ainda vai ter importância nas contas do grupo.

Provou-se que tinha razão. Ou nem por isso.

Tinha razão porque ao vencer pela primeira vez na Liga dos Campeões, o Hapoel Telavive selou o adeus do Benfica à Liga dos Campeões e apurou Schalke e Lyon. Não tinha razão nenhuma quando dizia que os israelistas formam uma boa equipa. Longe disso, pelo menos pelos padrões da mais importante competição de clubes europeus.

Então que se passou com o Benfica?

Provavelmente muita coisa, a maior parte dela só compreensível para quem está lá dentro, dirigentes, treinadores e jogadores.

O que se viu foi isto: baixa intensidade, insensibilidade aos sinais do adversários, escassa confiança e, talvez mais importante, ausência de vontade de vencer.

De resto, este tem sido o traço mais característico do Benfica em 2010/11: parece cansado de ganhar, sem a garra da época passada.

Sejamos claro: o que decidiu não foi a qualidade dos jogadores, a organização, o valor como equipa, a sorte ou o azar. O que decidiu, em Israel, foi a vontade de ganhar. O Hapoel teve-a, o Benfica nem por isso.

O resto, o que explica este estado de alma, saberemos um dia mais tarde. Quando se tornar inevitável alterar alguma coisa.

Para já, Portugal ficou a saber que na segunda metade da temporada não terá equipas entre a elite europeia e provavelmente estará muito bem representado na Liga Europa. Bom para o ranking, péssimo para o orgulho benfiquista.

Que vergonha Benfica - António Magalhães

Quando as coisas não podem correr bem, correm mesmo mal.

O lance do golo do Hapoel foi um claro sinal do que esperava o Benfica até ao final do jogo. Cruzamento, cabeçada e a bola a ser desviada na nuca de David Luiz e… golo.

Mas o Benfica pôs-se a jeito. Na 1.ª parte, teve 11 cantos a favor e apesar de uma das suas especialidades ser os lances de bola parada a verdade é que tirou zero de vantagem dessas situações. Na 2.ª parte teve mais 10. Total: 21 No primeiro que teve, o Hapoel fez o 2-0.

Queixas da arbitragem? Há sim senhor. Kardec não estava fora-de-jogo quando assistiu Saviola para um lance de golo que foi anulado pelo árbitro por indicação do seu assistente.

Mas as queixas maiores tem o Benfica de si próprio, incluindo o seu treinador.

Não se percebe porque razão Jorge Jesus não apostou em Carlos Martins de início. A arma da meia distância não deveria ser desprezada em jogos em que muitas vezes a bola sobra para a entrada da área por força de um volume de jogo ofensivo que obriga o adversário a defender sempre perto da sua baliza.

Entrou já em fase de défice de confiança da equipa e procurou resolver as coisas sozinho. Também não ajudou.

Tal como nada acrescentou a prematura aposta no chuveirinho para Kardec e Cardozo. O paraguaio, ao contrário do que diz Jesus, não está a 100 por cento. É um jogador que precisa de tempo de competição para atingir bons níveis de performance.

Enfim, o Benfica foi uma desilusão. A Champions – grande objetivo no início da época - já foi e a Liga Europa carece de confirmação na última jornada.

E agora? Que terramoto estará para acontecer na Luz?

Quem assume a responsabilidade por este fiasco?

Rodrigo: the Benfica boy making his mark with Bolton - The National

Bolton Wanderers were already 4-1 up against Newcastle United last Saturday when they introduced 19-year-old Rodrigo Moreno as an 86th-minute substitute.

His seven minutes on the pitch were insufficient to earn him a rating in the following day's newspapers, but the pacey left-sided attacker made a tangible difference, winning an injury-time penalty which Kevin Davies converted to conclude one of the more surprising results this season.

Though he is yet to start a Premier League game, it was not the first time that Moreno has come from the bench to make an impact.

Introduced against Bolton's neighbours Wigan Athletic recently, he troubled the Latics by driving in from the right and was regularly picked out by fellow substitute Matt Taylor.

Moreno was unlucky not to score with his first touch, a volley on the diagonal which Chris Kirkland, the Wigan keeper, was grateful to gobble up.

Then, from exactly the same type of ball, he was incorrectly given offside when clean through.

Moreno added a cutting edge to an attack which appeared blunt before Owen Coyle took over as Bolton manager earlier this year.

"He is 19 years old, can play anywhere across the forward line, as a main striker or behind, and he can play in the wide areas", Coyle said.

"He's quick and exciting" Sandy Stewart, the assistant manager, added.

Johan Elmander, the Premier League's joint second top scorer with eight goals, Gary Cahill, Davies and coach Coyle may be the star names who propelled Bolton into the Premier League's top five, but much is expected of Moreno, the Brazilian-born Spanish Under 19 international. Given his pedigree, you begin to understand why.

Moreno was a Real Madrid player until he moved to Benfica on a five-year deal in July, as part of the Angel Di Maria transfer. The Lisbon giants sent him on loan to gain Premier League experience, but Bolton were chasing him long before he moved to Portugal.

Bolton Wanderers and Real Madrid may seem like an unlikely pairing, but they enjoy solid relations following past deals involving Fernando Hierro and Ivan Campo.

Both were coming to the end of their careers, while Moreno is an emerging star whom Real were reluctant to let go for less than €5 million (Dh25m).

That was too much for the Lancashire club, who have to cut costs, but long-time admirer Coyle, doggedly pursued Moreno.

The Scot finally got his man on a one-year loan deal, on August's transfer deadline day, by persuading him to join up with his former Real teammate Marcos Alonso, 19, the left-back who signed for £2m (Dh11.7m) a month earlier.

He too, was highly rated by the Spanish giants, who have retained a €5m buy-back clause.

Other factors helped Coyle. With a surfeit of attackers from one of the best youth systems in world football, Benfica were happy to let Moreno move and, with Coyle and his former teammate from Real's reserves enticing him to England, he eventually relented.

"Without a doubt, the conversations I had with Marcos had some influence on me coming here," Moreno said. "He spoke a lot about the club, the management, and the way people are and that was important for me. I want to repay the trust Bolton have shown in me and do my best to show my qualities."

It was a busy summer for Moreno. In July he played for Spain's Under 19s in the European Championships and scored the only goal for La Rojita - the "Little Reds" as opposed to world champions La Roja - in their 2-1 final defeat by France.

Coyle was delighted to get his man, if only for a season.

"We've been pleased with him, and we have to continue with that progress," Coyle said. "That involves hard work and when more chances come about hopefully he'll have that cutting edge to take them."

Bolton are aiming high for a top-six finish this season.

With their strikers performing so well and Moreno adding another dynamic option, they have an excellent chance.

Liga Ibérica: contra, claro - Luís Sobral

Fernando Gomes, presidente da Liga, admitiu que anda a conversar com responsáveis espanhóis sobre a possibilidade de haver uma prova mista, meio espanhola, meio portuguesa. E não disse mais.

Mesmo sabendo pouco, sou contra algo que se pareça com um campeonato a meias.

Por um razão simples: em Portugal deve haver um campeão português. A rivalidade alimenta-se de ganhar ao meu adversário de sempre, ao clube da minha cidade, da minha rua. Quanto mais perto melhor, sabemos todos.

Podia alinhar mais dez argumentos, todos emocionais. Todos os que interessam. Mas basta esse: precisaremos sempre de um campeão português.

Por outro lado, acho excelente que se façam experiências com clubes espanhóis. Ali jogam os melhores futebolistas do mundo. O futebol daquele país é mediático como talvez só a Premier League.

Seria adorável para clubes, treinadores e jogadores poder jogar em Espanha. Como?

Simples: fazer uma Taça da Liga ibérica. Na primeira fase as equipas jogavam no seu país, as quatro primeiras de cada lado jogariam entre si. Um ano a final seria em Portugal, no outro seria em Espanha.

As receitas de bilheteira subiriam, os direitos de televisão valeriam muito mais e as equipas e jogadores que estão em Portugal teriam promoção mundial.

Fundir campeonatos nem pensar. Uma Taça da Liga Ibérica, contem comigo.

A grande lição - João Gobern

É impossível não vibrar com a vitória, histórica, do Sporting de Braga frente ao Arsenal: numa época em que deixámos – por força de outros “futebóis” – desvalorizar os feitos de David contra Golias, em que veneramos de forma indiscriminada o poder e o armamento, em que os mais desfavorecidos mais parecem empecilhos que nos saem ao caminho, foi particularmente saudável este triunfo.

Desde logo porque não foi fácil, exigindo contenção e paciência, antes das duas cavalgadas de explosão de Matheus até às redes adversárias. Depois, porque veio provar que, como equipa estreante nestas andanças, o vice-campeão nacional demonstrou ser um aluno capaz de aprender rapidamente e de, já ao quinto jogo, saber pensar pela sua própria cabeça e causar algumas dores às cabeças alheias.

Dir-me-ão que o Arsenal tinha jogadores-chave lesionados. Mas não é essa uma das mais estranhas características da equipa comandada por Wenger? Alegarão que houve mexidas na equipa-base. Mas essas são voluntárias e o próprio Braga as fez, deixando no banco Mossoró e o debilitado Sílvio.

Defenderão que o Arsenal chegou ao Minho praticamente apurado e que deixou correr o marfim, pelo menos até saber que os rivais ucranianos já iam de vantagem alargada.

Mantenho a ideia de que a arrogância, mesmo aquela que se traduz na lentidão de processos e na ausência de uma pressão mais alargada, se combate com inteligência, com determinação e com a consciência das próprias lacunas e mais-valias.

Foi o que fez o Braga, com uma perfeição que nem sequer dá azo a que se evoque a sorte do jogo: primeiro começou a matar lentamente o fantasma de Londres e da meia dúzia; depois, aos poucos, foi contrariando a maior posse de bola do Arsenal com crescente acutilância; finalmente, soube aproveitar o adiantamento do adversário – e a lesão de Eboué, ignorada por um técnico que descuidou as compensações – para jogar o seu maior trunfo, as transições rápidas, personificadas num foguete que passa, num segundo, dos pezinhos de lã para o pé-canhão.

Foi, insisto, um momento para recordar, tanto mais que a campanha interna do Braga está longe do imaculado. Virada à Europa, quase apetecia pedir que a campanha começasse agora – da derrocada londrina, logo na estreia, poucos se livrariam; mas acredito sinceramente que este Braga não voltaria a capitular de forma tão evidente – e porventura decisiva – diante do Shakhtar. Haja sonho. Mas, mesmo sem milagre, com a experiência acumulada, este Braga de Domingos Paciência habilita-se a fazer mossa na Liga Europa. Que assim seja.

PS – Hoje, o Benfica joga a “finalíssima” israelita. Pena não ter visto o jogo de Braga: em humildade, competência e concentração, tinha ali um belo exemplo.

Jesus - Três pontos fazem dele um Rei entre os Judeus - Pedro Candeias

Este Jesus tem pouco de rei mas muito de mestre (assim o dizem). Mas não é um mestre-carpinteiro, como o Jesus da Bíblia, mas um mestre da táctica como "A Bola", a bíblia do desporto, sugeriu um dia - sugestão, aliás, aceite pelo próprio sem pudores ou modéstias. Agora, hoje mesmo, é o dia em que (Jorge) Jesus tem de justificar os elogios - e os auto-elogios - perante uma plateia de judeus. E já se sabe o que aconteceu a Jesus (Cristo) quando se disse o rei dos judeus... Para evitar carregar uma cruz para Lisboa, JJ tem de conquistar os três pontos frente ao Hapoel, em Telavive. Se o fizer, não fará mais do que a sua obrigação, que o Hapoel está a anos-Luz das escrituras do Benfica; se o não fizer, o treinador dos encarnados pode começar a cair com o Carmo e a Trindade. Comecemos por aquilo que Jesus não quer.

SE TUDO CORRER MAL "É quase uma finalíssima", diz Jorge Jesus. Correctíssimo. Em causa não está só a meta de passar aos oitavos-de-final da Liga dos Campeões que uma vitória com o Hapoel manterá concretizável; em causa está uma época inteira. Imaginemos um cenário de apocalipse para Jesus: o Benfica perde (escandalosamente) em Israel e vê a Liga dos Campeões - que ele disse querer ganhar - por um canudo. Assim, de repente, um dos objectivos mínimos do clube vai à vida e à falta de êxito pessoal soma-se um fracasso financeiro e desportivo. Falhar a fase seguinte significa deixar fugir 3 milhões de euros endereçados pela UEFA e comprometer negócios em marcha. É simples: sem Champions não há contratações na reabertura de mercado (Janeiro) e as probabilidades de David Luiz ou Fábio Coentrão saírem crescem. Porquê? Porque o campeonato está tremido (dez pontos de distância para o FC Porto) e o Benfica tem gente subaproveitada - Sidnei, César Peixoto e Fábio Faria (lembram-se deste?) - que poderá tapar buracos em competições menores, como são a Taça da Liga ou a Taça de Portugal.

E SE TUDO CORRER BEM? Mas como também não estamos aqui para agoirar ou fazer papel de Judas, há a (enorme) possibilidade de tudo correr bem. Porque: 1) o Hapoel, e já foi dito atrás, é de longe a equipa mais fraquinha do grupo, com um ponto, dois golos marcados e oito sofridos; e 2) o Benfica parece estar em condições de apresentar um onze ideal para este jogo não decisivo mas importante. Vamos ao plantel: não há futebolistas de primeira linha lesionados já que os magoados, Airton e Weldon, são opções secundárias (bom, no caso do avançado trata-se mesmo de uma escolha terciária); e não há castigados, pelo que Gaitán, expulso em Gelsenkirchen, pode voltar a jogar na Champions. Mas a boa nova, a melhor de todas, é o regresso do homem-golo encarnado. Que nem se tem em grande conta.

SE ELE NÃO É A ESTRELA, QUEM SERÁ? Dois meses depois, ei-lo de volta à acção: Oscar Cardozo. O avançado lesionou-se frente ao Schalke 04 e Jesus quis recuperá-lo para o clássico com o FC Porto (0-5, no Dragão) - não deu e a coisa foi adiando. Até segunda-feira, quando o nome dele apareceu na convocatória para o jogo em Telavive. E ontem, Cardozo dirigiu-se aos jornalistas na conferência de imprensa em Israel. "Não penso dessa maneira. Não me sinto uma estrela ou o salvador do Benfica", disse o tipo que tem 15 golos em 29 jogos na Europa pelo Benfica. E disse o bombardeiro que em 2009/19 fez 38.

Percebe-se, portanto, a resposta de Jesus quando questionado sobre a titularidade/utilidade de Kardec: "O Cardozo não tarda está aí." E compreende-se, também, a insistência do técnico com o avançado nestes últimos treinos. Ele é o ponta-de-lança de Jesus.

terça-feira, novembro 23, 2010

30.588 - João Querido Manha

Apenas 30.588 adeptos, alguns dos quais espanhóis, foram à Luz ver jogar os campeões do Mundo, transmitindo a imagem acabada de um país à beira do colapso, sem dinheiro, sem alegria, sem motivação. Em tempo de crise, ninguém seria tão otimista que pudesse prever uma goleada sobre tão poderoso adversário, mas pressentia-se a vontade de aproveitar tão ilustre visita para prosseguir a escalada psicológica que retirasse o país futebolístico das trevas onde o iluminado ex-selecionador a afundara nos últimos dois anos.

Só que 30.588 representam pouco mais de metade da média de espectadores da seleção no novo estádio da Luz e refletem o que o futebol significa, para os portugueses, neste momento.

Com as imagens das cadeiras vazias em fundo aos golos de Carlos Martins, Hélder Postiga e Hugo Almeida a correrem mundo, algumas vozes se insurgiram contra a má «promoção» que a Federação terá feito deste cartaz de luxo, como se a visita da Espanha precisasse de mais divulgação num país que goste verdadeiramente de futebol.

Não há que temer, porém, que tal imagem venha a exercer qualquer influência na decisão sobre a sede do Mundial de 2018, uma vez que os indicadores decisivos são outros, mais prosaicos, em que o país escolhido não passa de uma barriga de aluguer, de baixo custo. A FIFA sabe muito bem que, se precisasse dos portugueses para encher estádios, Portugal seria o último país da Europa: hoje, no Braga-Arsenal, jogo histórico e quiçá irrepetível, haverá mais cadeiras vazias do que ocupadas.

É no plano interno que se chegou ao limite do artificialismo e não se pode camuflar mais: o futebol está à beira da implosão.

O Beira-Mar negociou uma moratória com os credores para não fechar portas antes de receber o Benfica, confiando na desobediência clubista dos adeptos do clube de Luís Filipe Vieira para realizar uma receita que lhe permita continuar de portas abertas mais uns meses.

Por falta de interesse público, a Olivedesportos falhou a venda dos direitos da edição da Taça de Portugal às televisões, nem lhe valendo desta vez a habitual solicitude do canal público a inflacionar os valores de mercado, à custa dos contribuintes.

Com o Benfica arredado da final desde 2005, a Taça de Portugal vem definhando ano após ano e é agora uma prova desinteressante e distante dos adeptos, desrespeitada pelos treinadores e sem padrões de exigência técnica ou de espectacularidade, reduzindo-se às duas últimas eliminatórias ou a um ou outro jogo grande, acidental no percurso. No último fim-de-semana, os espectadores de todas as partidas dos dezasseis avos de final teriam cabido no Pavilhão Atlântico, a ver a Shakira.

Ora, é neste cenário de crise evidente, reclamando intervenções de choque, que se assiste à indiferença governamental perante o regabofe jurídico em que a Federação está mergulhada, elegendo órgãos fantoches à boa maneira dos regimes de antanho e brincando aos Mundiais, ao mesmo tempo que ridiculariza as leis da República e a bandeira.

E, no entanto, no próximo dia 2, em Zurique, lá estarão, lado a lado, em nome dos portugueses que «tanto gostam de futebol» e, como eles gostam de dizer, do «interesse nacional», dirigentes federativos e membros do Governo em mais uma demonstração de hipocrisia e falta de sentido de Estado que nos envergonha a todos.

Joaquim Oliveira - Uma História bem Portuguesa...

Joaquim Oliveira começou a vida a cozinhar, lavar pratos e a servir à mesa na Pensão Roseirinha, em Penafiel. Foi a fazer amigos e influenciar as pessoas que se transformou num magnata do futebol e da Comunicação Social

O futebol é o território da paixão em todos os domínios, excepto num - o dos negócios. A prova disso é que quase ninguém arrisca jurar por quem é que Joaquim Oliveira esteve a torcer segunda- feira à noite, no Sporting-FC Porto. O dono da Olivedesportos é extrovertido e amigo do seus amigos - que garantem que ele é uma pessoa encantadora. Mas quanto a preferências clubísticas, fecha-se em copas e adopta uma fria atitude racional.

Nasceu em Penafiel, a 12 de Fevereiro de 1947, filho de Dona Lucinda, proprietária da Pensão Roseirinha, desprovido de qualquer jeito para o futebol - ao invés do que aconteceria com o seu irmão mais novo, António, que se revelou um predestinado. A prenda dele era outra. Trazia como equipamento de origem aquele sexto sentido que lhe permite adivinhar de que lado do pão está a manteiga.

No restaurante da mãe, cozinhava, servia à mesa e lavava pratos. Foi fiel de armazém antes de a tropa o levar para o Norte de Angola. Gostou dos ares da antiga colónia, onde regressou depois de regressar à vida civil. Tinha 23 anos e já era um popular comerciante de Luanda, dono de uma cervejaria e sapatarias, cómoda situação que teve de abandonar, num apressado retorno à metrópole, quando os três movimentos de libertação de Angola se envolveram numa sangrenta e prolongada guerra civil.

De volta ao Porto, o irmão deu-lhe uma mão, ajuda que ele mais tarde retribuiria, com juros, dando-lhe as duas. Vagabundeou por vários comércios - geriu um bar de «strip-tease» no Porto e uma charcutaria em Lisboa - até se instalar em definitivo na capital e deitar âncora nos negócios do futebol, fundando a Olivedesportos em 1984, a meias com o irmão.

Vinte anos depois é rico, poderoso e tem os vícios correspondentes. Fuma dois ou três charutos cubanos por dia e bebe uísque Old Parr. Habita com a mulher, Irene, uma moradia em Bicesse, que tem as paredes decoradas com uma selecção ecléctica de nomes seguros da arte contemporânea portuguesa (Vieira da Silva, Medina e Pomar). O irmão, António, é obcecado por pintura, sendo o maior coleccionador privado de obras de Júlio Resende. Ele prefere os relógios, de todos os feitios, caros e baratos. É coleccionador compulsivo - tem-nos às centenas.

O jardim da moradia tem espécies orientais que ele aprecia e albergou uma horta com cebolas, batatas e couves que Joaquim plantou quando reparou que os netos não faziam a mínima ideia de qual era a origem do que lhes aparecia no prato.

A não ser que tenha um pequeno-almoço madrugador marcado para as sete da manhã, no Tivoli, com o amigo e banqueiro Ricardo Salgado (presidente do BES), prefere deixar passar a hora de ponta na A5 antes de se aventurar em guiar para o escritório nas Laranjeiras, junto à Loja do Cidadão.


A sua maior especialidade é fazer amigos e cultivar relações, artes em que é um verdadeiro mestre, como se prova pelo facto de ter reunido Santana Lopes e José Sócrates em sua casa, quando fez 57 anos. Mal reparou que o golfe era um desporto magnífico para cultivar relações, não hesitou um segundo em comprar lições e encomendar um saco.

A relação estreita de amizade que mantém com o actual primeiro-ministro remonta ao tempo em que Sócrates foi encarregado por Guterres da campanha para trazer o Euro 2004 para Portugal. Joaquim, cuja rede de influências no domínio do futebol não conhece fronteiras, deu uma preciosa ajuda nos bastidores, abrindo uma porta aqui, desbloqueando um apoio acolá, numa acção decisiva para a vitória final. Sócrates não esquecerá nunca esses favores.

O texto que se segue tem como objectivo ajudar o leitor a perceber como é que um modesto fiel de armazém de Penafiel se transformou num dos homens mais poderosos do nosso país.

Joaquim era pau para toda a colher na Pensão Roseirinha, em Penafiel, dirigida com mão de ferro pela mãe Lucinda e famosa pelo lendário cabrito assado no forno. Enquanto Toninho, o irmão, cinco anos e meio mais novo, entretinha reformados e desempregados no Campo da Feira fazendo magia com uma bola de futebol, ele cozinhava, servia à mesa e lavava os pratos. Pela vida fora, os papéis dos irmãos Oliveira nunca mais se inverteram. António sempre viveu da inspiração. Joaquim triunfou à custa da transpiração.


DA PENSÃO ROSEIRINHA AO «STRIP-TEASE» ZIMBO

Ainda foi fiel de armazém antes de ser chamado a defender a pátria, no Norte de Angola. A tropa teve o condão de abrir ainda mais os olhos a este rapaz, atinado e trabalhador, mas também muito empreendedor e ambicioso, que logo identificou Angola como terra de boas oportunidades. Depois de desmobilizado, ainda viajou até à Metrópole mas logo regressou a Luanda. Com apenas 23 anos, já era dono do seu próprio restaurante, e como não era homem para ficar parado alargou os interesses empresariais ao comércio de sapatos.

No dealbar dos anos 70, dono da Cervejaria Esplanada São João, era uma figura popular na cena de Luanda. Tinha boa conversa, uma lendária facilidade de fazer amigos e era irmão de Oliveira, o ídolo azul-e-branco da bola que despontava na metrópole e cujas proezas eram relatadas com detalhes encomiásticos pelos jornais e rádios angolanas. Tudo isto ajudava a vender mais uns barris de cerveja Cuca.

O 25 de Abril estragou-lhe os negócios angolanos. A guerra civil, que rebentou ainda antes da declaração da independência, a 1 de Novembro de 1975, tornou o ar de Luanda irrespirável para um próspero comerciante branco. Retornou a Portugal, deixando para trás sapatarias e cervejaria.

Teve de começar de novo, refazendo a vida com a ajuda do irmão futebolista, cujo imenso talento se esgotava entre os relvados e os namoros. O mano mais velho entrava com o jeito para os negócios. O mais novo contribuía com a massa.


ANTÓNIO VOLTA AO PORTO, JOAQUIM FICA EM LISBOA

Joaquim vagabundeou por diversos negócios - como o Zimbo, clube de «strip -tease» na Rua Santa Catarina (Porto), ou uma charcutaria no Centro Comercial Alvalade, em Lisboa, para onde se mudou acompanhando o irmão quando este assinou pelo Sporting. Até que, no início dos anos 80, travou conhecimento e fez amizade com o italiano Diego Bastino, o maior empresário do mundo de publicidade estática, actividade que o pai Bastino tinha inventado e iniciara em 1952, no Estádio de Wembley.

Em 1984, deitou para trás das costas o cheiro a fritos e assados, passando a dedicar-se à exploração da publicidade nos estádios. Nascia a Olivedesportos, com o capital dividido em partes iguais pelos dois irmãos de Penafiel, a empresa que organizou, profissionalizou e ajudou a revolucionar os negócios do futebol no nosso país.

Antes dos Oliveiras, a publicidade à volta dos campos era uma actividade amadora. Como a soma das receitas conseguidas com a bilheteira e as quotas dos sócios nunca chegavam para fazer face às despesas, os dirigentes dos clubes pediam ajuda aos empresários da terra, oferecendo-lhes em troca espaço nos painéis publicitários.

A Olivedesportos arrancou com as concessões do Chaves e do Sporting mas rapidamente cresceu. Dez anos depois já controlava a publicidade estática de 14 dos 18 clubes da primeira divisão. No início, dedicou-se à compra e venda de jogadores, actividade em que se estreou em 1984 importando os paraguaios Alonso e Cabral para o Rio Ave. Chegou mesmo a criar uma sociedade para este negócio, a Futinvest, que tinha como director-executivo José Veiga, o antigo presidente da Casa do FC Porto no Luxemburgo, que à época vivia nas boas graças de Pinto da Costa. Posteriormente abandonou esta área de negócio, passando a empresa a Veiga.

A opção era clara. Tratava-se de focalizar a actividade do grupo na exploração da publicidade estática e das transmissões televisivas, negócios que implicavam estar de bem com os clubes a quem compravam os direitos. E as compras e vendas de jogadores podiam introduzir um ruído desnecessário num negócio que deslizava sobre rodas.

Em 1985, intermediou a sua primeira transmissão televisiva de um jogo de futebol (Checoslováquia-Portugal). No ano seguinte, foi visto em Saltillo a carregar painéis de publicidade e a dirigir a sua colocação à volta dos campos em que a selecção portuguesa disputou os três jogos no Mundial do México. António arrumara, no entretanto, as botas e regressara ao Porto. Ainda era o mais famoso dos dois irmãos. Mas não o seria por muito mais tempo. Joaquim optou por se manter em Lisboa. Com a sua facilidade em fazer amigos e influenciar as pessoas, o negócio prosperava até ser sacudido pelo sobressalto do nascimento da televisão privada.


RICARDO SALGADO DÁ UMA AJUDA

O aparecimento da SIC e a vitória de Vale e Azevedo nas eleições do Benfica ameaçaram seriamente o equilíbrio ecológico em que medrava o negócio dos irmãos Oliveira. O novo canal privado escolheu o futebol para levar os portugueses a sintonizarem o canal 3 nos seus aparelhos, o que agitou o doce e reservado mundo das transmissões televisivas, até aqui reserva de caça exclusiva da Olivedesportos.

A SIC abriu as hostilidades, quebrando o monopólio ao pagar 400 mil contos por três jogos (Porto-Benfica, Sporting-Benfica e Sporting-Porto). Seguiu-se o ataque de Vale e Azevedo que mal chegou à presidência do Benfica rasgou os contratos que o seu antecessor Manuel Damásio tinha assinado com a Olivedesportos, e negociou com a SIC direitos de transmissão televisiva pelos quais o seu clube já recebera. No entretanto, o «Record», dirigido pela dupla Cartaxana/Marcelino era a ponta de lança da campanha contra uma Olivedesportos acusada de, em coligação com o FC Porto, controlar o futebol, com recurso a meios duvidosos.

A batalha ia ser dura. Demorou anos e desenrolou-se em diversos tabuleiros. Nos tribunais, mas também nas páginas dos jornais e nos ecrãs de televisão. Para não lhe faltar a voz durante os tempos de difíceis combates que se avizinhavam, Joaquim adquiriu, em 94, por um preço simbólico (50 mil contos), o jornal desportivo «O Jogo», que a Lusomundo se preparava para encerrar, insatisfeita com os escassos sete mil exemplares de circulação do diário - número que em dez anos foi multiplicado por sete, na sequência de um investimento acumulado que rondou os 15 milhões de euros.


UMA FANTÁSTICA TEIA DE CUMPLICIDADES

Por falta de fôlego financeiro, em dado momento desta guerra contra a dupla Rangel/Vale e Azevedo, Joaquim esteve à beira de atirar a toalha ao chão. Encarou mesmo vender o grupo, então avaliado no intervalo entre os 12 e os 15 milhões de contos, a Francisco Balsemão. Mas Ricardo Salgado deu-lhe a mão, comprando-lhe o tempo necessário para ganhar a guerra. Foi o início de uma bela amizade com o banqueiro. Mais tarde, o BES e a PT desaguaram no mundo do futebol - até então muito ligado ao BPI, que montara as SAD do Sporting, FC Porto e Boavista - pela mão de Joaquim, patrocinando os três grandes e a Selecção.

Durante a guerra foi cuidadoso. O alvo dos processos judiciais foi sempre Vale e Azevedo, nunca o Benfica. Na hora da vitória, com o inimigo atirado para a cadeia, soube ser magnânimo, ao converter em 20% do capital da Benfica Multimedia os 2,1 milhões de contos que o clube encarnado teria de lhe devolver.

Em 1994, afirmou ao EXPRESSO que o segredo para a posição dominante que alcançou no negócio das transmissões televisivas reside no facto de «pagar mais e melhor que os outros». «O segredo talvez esteja em considerar os meus parceiros de negócios como pessoas inteligentes e de boa fé», acrescentou. Mas esta é apenas uma parte do segredo. A outra parte consiste em ter uma estratégia certa, alicerçada numa formidável rede de relações, amizades e cumplicidades que vai tecendo ao longo dos anos. Os clubes de futebol são a base do negócio. Por isso, quer eles, quer os seus dirigentes, são sempre muito bem tratados. Dar dinheiro a ganhar aos clubes que lhe vendem as concessões de publicidade e os direitos televisivos é um ponto de honra para Joaquim. Por isso, está sempre disponível para substituir-se aos bancos, financiando os clubes nas horas de aperto, em troca do dilatar do prazo de vigência dos contratos...

E além de lhes acudir quando estão com dificuldades de tesouraria, Joaquim também soube estabelecer parcerias e laços que duram para além dos mandatos dos dirigentes com que ele cultiva frutuosas amizades. A dimensão desta teia de cumplicidades salta à vista quando se olha para a carteira de participações da Olivedesportos, onde convivem 19,4% do Sporting, 11% do FC Porto, 23,3% do Boavista, 20% da Benfica Multimedia, e ainda posições no Belenenses, Braga e Alverca. A legislação portuguesa não impede esta acumulação desde que os direitos accionistas de voto sejam usados apenas numa sociedade - e ele faz questão de não exercer em nenhuma.

A verticalização é o fio condutor da estratégia urdida por Joaquim e que tem sido rigorosamente seguida nas duas últimas décadas. Começou com a concessão de publicidade estática. Evoluiu para a intermediação dos direitos de transmissão televisiva. Continuou para montante, tomando posição no capital dos clubes, e para jusante, passando a ter um pé na emissão, ao participar na fundação da SportTV. E como já se sabe, não ficou por aqui.

Em 1999, a Olivedesportos pagou 95 mil contos à Federação Portuguesa de Futebol (FPF) pelos direitos relativos à final da Taça de Portugal. Depois revendeu à RTP os direitos de transmissão televisiva por 90 mil contos. À primeira vista perdeu dinheiro. Na realidade ganhou - e muito - , já que os 95 mil oferecidos à FPF incluíam a concessão da publicidade no Estádio Nacional. Publicidade e transmissão televisiva de jogos são negócios complementares. Todas as semanas, uma equipa da Olivedesportos visiona cuidadosamente todos os desafios televisionados anotando cada vez que um anúncio, disposto ao longo da linha lateral ou atrás da baliza, passa na TV. A factura segue depois pelo correio.

A beleza deste negócio vertical reside na sua complementaridade em cadeia, no facto de cada um dos seus segmentos potenciar os lucros do anterior e do seguinte. Dito por outras palavras, Joaquim é um intermediário completo. Numa ponta estão os clubes, a Liga e a FPF. Na outra, os anunciantes, os telespectadores e os canais de televisão. Ele une as pontas, preenchendo o espaço entre elas. Tem a concessão da publicidade nos estádios, cujo preço muito naturalmente aumenta em proporção à quantidade de gente que vê o anúncio. Adquire os direitos de transmissão televisiva, que fazem crescer os preços da publicidade. Ganha ao revender estes direitos aos canais de televisão. E ao fundar a SportTV subiu nesta cadeia de valor, passando a lucrar a dois carrinhos - como fornecedor e como accionista.

Na guerra de meados dos anos 90 contra Vale Azevedo e a SIC, Joaquim sentiu a necessidade de no negócio da televisão estar presente não apenas na venda de conteúdos mas também na sua emissão. Por isso, mal se recompôs logo tratou de cerzir alianças com a PT e o BES, que ainda este ano se revelaram úteis no concurso de venda da Lusomundo, onde derrotou adversários poderosos como a Cofina e os espanhóis da Prisa.

IRMÃOS TÃO DIFERENTES COMO A ÁGUA DO VINHO
O passo decisivo deu-o no ano 2000, quando pagou 12 milhões de contos por 2,5% da PT Multimedia (PTM). Foi a jóia de entrada num clube muito restrito e exclusivo. Joaquim, o rapaz de Penafiel que ajudava a mãe no restaurante da Pensão Roseirinha, conquistava em Lisboa os últimos galões da respeitabilidade. Ricardo Salgado era o seu banqueiro. A PT era sua sócia na SportTV. E ele tornara-se accionista relevante da PTM, de que era administrador não executivo. Não era caso para imitar Leonardo Di Caprio, quando ele se empoleirou na popa do Titanic e se pôs a gritar «I’m the king of the world» - mas andava lá por perto.

O contrato Olivedesportos, celebrado há 20 anos entre António, sócio-capitalista , e Joaquim, o sócio-trabalhador (que percebe do negócio), teve desenlace típico neste tipo de sociedades. Com o devir dos tempos e o evoluir favorável dos negócios, o sócio-trabalhador vai acumulando capital e preponderância, na exacta medida em que se fragiliza a posição do «sleeping partner» capitalista. O prazo de validade da empresa, detida em partes iguais entre os dois irmãos, tinha chegado ao fim. O divórcio consumou-se há alguns meses mas estava já a ser preparado em silêncio há dois anos. As coisas nunca acabam bem - senão não acabavam. Mas a separação de águas entre os irmãos Oliveira pautou-se por uma enorme discrição. Depois de feitas as avaliações, António abandonou a sociedade trazendo no bolso um cheque de 35 milhões de euros e 11% da SAD do FC Porto, o que o coloca num dos lugares da frente (senão mesmo na «pole position») na corrida pela sucessão de Pinto da Costa.

Já muito tempo durou esta aliança entre dois irmãos tão diferentes como a água do vinho.



O IMPÉRIO LUSOMUNDO

António é um bicho de buraco, pouco atreito a travar novos conhecimentos. Os seus amigos de agora são os mesmos de há 20 anos. Foi o mais genial jogador português da sua geração mas falhou quando emigrou para Espanha. Transferido para o Bétis, sempre que podia metia-se no carro e ia para o Porto, apesar de na altura não haver ainda auto-estrada. O facto de ser excessivamente poupado leva os amigos a gracejarem dizendo que nunca lhe viram a carteira. Introvertido, fecha-se na sua casa portuense, na Avenida Marechal Gomes da Costa, aproveitando os tempos livres a negociar no imobiliário, comprando e vendendo casas, em Portugal e no Brasil.

Joaquim é um ser eminentemente sociável, sempre disponível para fazer novos conhecimentos. Não é o Pacheco Pereira, mas mesmo assim tem uma conversa boa e variada - não é daqueles que parece um disco riscado e só fala de futebol. Tem muitos amigos, que capricha cultivar e tratar bem, telefonando-lhes com regularidade e presenteando pelo Natal com bons vinhos. Extrovertido, aos 30 e tal anos aculturou-se à vida de Lisboa com a mesma facilidade com que aos 20 e tal anos se adaptara à de Luanda. Da sua origem nortenha guarda apenas dois vestígios - o sotaque e uma casa em Vilamoura.

A compra da Lusomundo, por 300,4 milhões de euros, é mais um ponto de partida do que de chegada. Com um só lance, Joaquim consolidou laços com dois aliados poderosos (PT e BES) e aumentou exponencialmente a sua influência na vida política, económica e desportiva portuguesa. Tem por isso reunidas as condições para um novo salto qualitativo.

Primeiro vai digerir as aquisições. Ele é um cerebral. O seu estilo é o do jogador de xadrez que estuda detalhadamente as consequências possíveis de todas as jogadas antes de se decidir a mexer a sua peça. É esperto e intuitivo, mas também um trabalhador que lê os dossiês e ouve pacientemente os especialistas. Só avança quando tem a certeza de que vai no caminho certo.

Antes de se decidir pela substituição do sistema de rotação mecânica da publicidade por um novo, eléctrico, estudou com detalhe o novo sistema e só optou por ele quando encontrou a solução para um problema que o intrigava - por que é que durante um jogo se fundiam tantas lâmpadas...

A Lusomundo apresenta-lhe um problema novo. Até agora, lidou sempre com projectos que arrancavam de raiz. Agora comprou uma série de empresas com cultura e história próprias. O que é um enorme desafio para um homem que tem gerido os seus negócios muito apoiado num pequeno estado-maior familiar - Rolando, o filho licenciado em Gestão, é o seu braço-direito, enquanto que Gabino, o outro filho varão, licenciado em Novas Tecnologias, se tem encarregue da informática -, demasiado curto para a tarefa que tem pela frente. E o caso não se resolve adicionando ao elenco a filha, licenciada em Psicologia.

Mas, se for bem sucedido na digestão da Lusomundo, não vai resistir à tentação de acrescentar as duas jóias que faltam à sua coroa - um parceria estratégica e duradoura com o Benfica e uma posição importante num canal de televisão generalista. Sonhos que até nem serão muito difíceis de concretizar, tanto mais que ele sabe esperar.
Mais tarde ou mais cedo o Benfica terá de abrir o capital. E ninguém abrirá a boca de espanto se Miguel Pais do Amaral resolver pôr à venda a sua posição na TVI. Ah, e no que toca a amizades, Joaquim Oliveira e José Eduardo Moniz dão-se tão bem como Deus com os anjos...

Fonte:
EXPRESSO

segunda-feira, novembro 22, 2010

A esposa, a Concubina, M. Madalena e os Silêncios Convenientes - António Melo

Sou ateu. Religião só o Benfica e religião crítica. Carneiro jamais. Cobarde nunca e medo só de perder os que amo.
Católico temente a Deus, como PC, terá de explicar, um dia ao Criador, porque enganou um Papa, após abandonar a legítima esposa, Filomena Morais, mas visitando João Paulo II com Carolina Salgado, sua concubina, fazendo-a passar por filha, que pouco tempo depois, não foi credora da veracidade dos seus depoimentos em tribunal. Quer dizer, serviu para a cama, para filha, mereceu estar na presença do Pontífice da Igreja que professa, mas não de ser ouvida, como qualquer cidadã, perante os juízes que julgavam tudo o que o Youtube já mostrou.
Quando a “coisa estava preta”, correu para a ex-mulher e, qual cachorro abandonado, pediu “perdão”, que tudo não tinha passado de um “devaneio”. Jurou novamente amor eterno, deu entrevistas: “Nunca deixei de amar Filomena”. A filha de ambos serviu, para justificar esta re-união.
Passado o perigo das penas efectivas, nova Carolina, agora de nome Fernanda. Novo abandono do lar e o devaneio (esse malandro) outra vez instalado na sua vida, impoluta, pia e santa. Tirando Filomena, a quem se reconhece um passado moralmente limpo, as outras sabe-se que faziam companhia a senhores solitários.
Mas… não é isto que espanta. O que espanta é o conivente silêncio, dos jornalistas, que ou omitem a notícia da presença ou chamam “namorada” à amante de um homem casado, aliás, re-casado com a esposa. O que espanta é o silêncio da Igreja e dos Bispos, que invoca, como D. Pedro Pitões (1134) e Armindo Lopes (97/07), ambos Bispos do Porto. E D. Manuel Clemente mantém o silêncio e abençoa, quem não teve vergonha de ludibriar um Papa.
Disse Jesus a propósito de M. Madalena: “Quem nunca pecou que atire a primeira bola de golfe.”
É por isso que este fim-de-semana iremos ver tanto pecador junto.
Shiu: - São filhos de umas amigas da “namorada”.

O regresso das quinas - Marta Rebelo

Em fim-de-semana de Taça e com o Benfica-Sp. Braga adiado, dedico estas linhas à reflexão. Haverá quem lhe chame “bater no ceguinho”, “malhar no morto” ou expressões semelhantes. Mas as vacas gordas de quarta-feira passada, como disse e bem Paulo Bento, só dão “prestígio”.

É extraordinária a diferença entre a Seleção que enfrentou a Espanha no Mundial, em junho, e a que se apresentou na Luz para, juntamente com os campeões da Europa e do Mundo, promover a candidatura Ibérica à competição maior do futebol de nações.

Não há volta a dar: Carlos Queiroz deu cabo disto. Sempre afirmei o meu desgosto profundo por ter o professor à frente da Seleção. E tinha razão. Preferia não ter. Preferia não ouvir o CR7 e companheiros a dizer nas entrelinhas “andaram a tramar-nos”. Mas é importante mantermos na memória os últimos dois anos do nosso futebol. Pelo seguinte: os convocados por Paulo Bento são sensivelmente os mesmos, com Carlos Martins, Moutinho, Nani e Pepe recuperados; a estrutura federativa – mal, muito mal – é a mesma. Os resultados, as relações de trabalho e o salário do selecionador é que são outros. Um treinador que não é doutorado senão na sua tranquilidade própria, que saiu do SCP com o clube em baixa mas que desconhece a soberba vaidosa e fala para interlocutores de qualquer altura. Que não segrega à mesa de jantar, estrelas das chuteiras para um lado e roupeiros para outro. E que tinha dois jogos de qualificação para ganhar e uma candidatura para promover – ganhou os três.

Mas a estrada ainda está cheia de buracos. Serão muitos meses sem jogar e a mesma urgência desgraçada em ganhar todos os jogos de sempre. Mas mesmo sem bandeiras à janela, quarta-feira as quinas regressaram à bandeira verde e rubra.

domingo, novembro 21, 2010

O queque azul - Domingos Amaral

From: Domingos Amaral
To: Rui Moreira

Caro Rui Moreira

Na última crónica, em p.s., sugeri que o senhor se colocasse a 20 metros, para eu lhe atirar bolas de golfe, tal como os Super Dragões fizeram ao Roberto. Era uma provocaçãozinha brincalhona, uma bravata inofensiva, mas não era um insulto pessoal. Para meu espanto, e qual fidalgo atingido pelo ferrete da desonra, o senhor rebentou de raiva ao ler-me. Na sua prosa do jornal “A Bola”, perturbadíssimo, dispara-me uma rajada de insultos. Espuma, e nem refere o meu nome; bufa, e chama-me “vintém”; vocifera, e diz que de mim “exala um terrível fedor”; e por fim explode, acusando-me de “proselitismo anacrónico, patético e provinciano”.

À avalancha de palavreado, e à excitação, indignadíssima mas totalmente desnecessária, não tenciono responder na mesma moeda. O chá que em pequeno me deram a tomar teve, até certo ponto, o seu efeito. Não lhe envio de volta adjetivos grosseiros, nem insultos pessoais. Ao contrário do senhor, não perco a cabeça e as maneiras por dá cá aquela palha.

Não resisto, porém, a espetar-lhe um ferro curto. Diz o senhor que “não há pachorra” para mim. A expressão lembrou-me certas tias queques e os seus muito afetados lamentos, do tipo “ai filho, não há pachorra!”.

É o que o senhor é, não é verdade? Um queque, um queque azul. Ora, é precisamente por causa de tiques desses que duvido das suas ambições presidenciais no FC Porto. O povo azul e branco sempre desconfiou dos queques, por mais esforçados que eles fossem. O último que chegou a presidente teve o destino que todos sabemos.

Mais mentiras - Miguel Góis

É de uma assinalável humildade a teoria expressa por André Villas-Boas segundo a qual o FC Porto podia ter sido campeão na época passada, se o Hulk não tivesse sido castigado. Está-lhe subjacente a ideia de que, como treinador, ele não veio acrescentar nada ao FC Porto do ano passado, e ao rendimento do Hulk em particular, que não estivesse já lá, na era Jesualdo. Tem andado, portanto, a folgar, o André. Só não se percebe, então, tanto elogio ao seu trabalho. Mas não me interpretem mal: pessoalmente, também tinha curiosidade em ver o Hulk de 2010/11 a jogar na época 2009/10. Trazia um toque de ficção científica ao campeonato português.

Mas há sobretudo uma nota de fantasia e sonho nesta teoria do jovem treinador. É possível até que Villas-Boas tenha tanta perspicácia na análise de tabelas classificativas como na observação de lances polémicos dentro da grande área adversária. Analisemos os factos, esses desmancha-prazeres: fazendo as contas – e tendo em mente que, antes de Hulk ser castigado, o Benfica levava uma vantagem de quatro pontos em relação ao FC Porto e que, a partir daí até ao final, só perdeu cinco pontos (empate em Setúbal e derrota nas Antas) –, seria necessário que o FC Porto vencesse todas as partidas – repito, todas as partidas – da segunda volta do campeonato para que se pudesse sagrar campeão nacional.

Ora, hoje em dia, toda a gente concorda que o FC Porto está a fazer uma época excecional e nem assim conseguiu esse feito: em 11 jornadas já têm um empate. Ou seja, a modéstia de Villas-Boas é ainda maior do que supunha: na verdade, o treinador assume, sem assombros, que o FC Porto de Jesualdo, não fosse o castigo de Hulk, poderia ter sido bem superior ao seu. Quem diz que não há fair play no FC Porto?

sexta-feira, novembro 19, 2010

Cinco golos depois... - Luís Freitas Lobo

Dez pontos e cinco golos depois, Jesus já não é o mesmo treinador aos olhos encarnados. Não faz sentido. Nos 'dez pontos' existirão alguns fundamentos para isso. Nos 'cinco golos', a crítica terá de ser específica.

Recorda-se, então, o 4-1 de Liverpool, onde David Luiz também jogou a lateral-esquerdo. A comparação é um bom meio para perceber a importância das táticas em confronto com os que dizem que tudo se baseia só na qualidade dos jogadores. É que em Liverpool jogaram Di María e Ramires, os dois jogadores de que tanto se lamenta a ausência esta época. A dinâmica coletiva foi, no entanto, diferente, com Aimar também a segundo avançado. Essa alteração de posicionamento é mais importante, no plano da organização e criação de jogo no habitat dos maestros (centro do meio-campo ofensivo) do que a mera troca de um defesa-esquerdo. Nesse espaço, o mais natural seria Hulk passar da mesma forma por Coentrão. A diferença estaria em que, depois, em vez da lentidão pesada de Sidnei a ir para a dobra, surgiria a velocidade decisiva de David Luiz. Ou seja, mais decisivo que Coentrão por David Luiz foi David Luiz por Sidnei.

No tempo que leva na Luz (quase época e meia), Jesus teve 180 minutos no 'lado lunar' da vida tática. Não é muito. O que mais impressiona ver esta época é a sua postura quase introspetiva no banco quando as coisas correm mal, em contraste com a forma efusiva como salta, grita e gesticula, sobretudo quando correm bem ou quer corrigir um posicionamento. Diria que nenhuma das duas posturas é futebolisticamente muito saudável (nem influente no rendimento da equipa). Apenas são sintomas de algo mais profundo que se passa antes dos jogos e, claro, anda pela sua cabeça neste momento.

Em qualquer delas, porém, é o mesmo treinador...

Argentina Vs. Brasil, Na Luz, Gaitán e Cª Já estão a Ganhar - Filipe Duarte Santos

Aqui há uns dias Gaitán foi expulso em Lyon - depois de um daqueles lances infantis que aparecem na vida de qualquer futebolista - e se alguém dissesse que o rapaz era jogador da selecção argentina, o mundo da bola explodia à gargalhada. Mas agora que o canhoto marcou dois grandes golos pelo Benfica, contra a Naval, já faz mais sentido a convocatória de Sergio Batista (o sucessor de Maradona) e a viagem que o atacante faz juntamente com o compatriota Otamendi (FC Porto) e o colega David Luiz (chamado pelo Brasil), para Doha (já agora, o clássico da América do Sul joga-se na quarta-feira no Qatar, matéria analisada nas páginas seguintes).


Nestas páginas ficamos por aquilo que Gaitán e C.a representam para o Benfica, clube hoje com o maior contingente argentino de sempre (a história começou em 1994, com a contratação de Claudio Caniggia) e com tendência para aumentá-lo, eventualmente já no mercado de Janeiro. Gaitán é só mais um entre cinco (Aimar, Saviola, Jara e Salvio) mas está a tornar-se no mais recente exemplo de sucesso, até depois do que fez Di María na época passada. E não, não nos referimos apenas ao que se passa dentro das quatro linhas, porque o trabalho invisível também conta para as conclusões dos dirigentes do Benfica. "Tecnicamente toda a gente percebeu o seu valor e se não percebeu, o Gaitán mostrou no último jogo o que é capaz. Mas o que interessa, igualmente, é que se trata de um miúdo espectacular, boa pessoa, um atleta regrado e sem oscilações ou desvios no comportamento", explica fonte do Benfica ao i.


Ora, perfis como o de Gaitán podem fazer toda a diferença num balneário sempre sujeito a tensões. "Ele integrou--se bem e, claro, está muito próximo dos argentinos, especialmente do Jara e do Aimar. Os argentinos formam um grupo mas por ali não há problemas. Já com os brasileiros..." Falemos então de brasileiros. É mais ou menos sabido que David Luiz não se importava de ter saído do Benfica no último Verão, Luisão passa os defesos a pedir o mesmo (e um novo contrato), Sidnei costuma chegar pesado das férias e torce o nariz por jogar pouco. O último a criar menos problemas foi o que já foi embora, Ramires, o queniano azul, hoje no Chelsea.


O Benfica não vai deixar de comprar no Brasil, o mercado mais variado do mundo, mas os euros estão apontados à Argentina, de onde nos últimos dias surgiram os nomes de Funes Mori (avançado de 19 anos do River Plate) e José Luis Fernandez (médio esquerdo de 23 anos do Racing Avellaneda), eventualmente jogadores que podem reforçar a equipa de Jorge Jesus em Janeiro. No último jogo, contra a Naval, as águias desceram ao relvado com quatro argentinos no onze inicial (Aimar, Gaitán, Salvio e Saviola) e não será de admirar se, num futuro próximo, o português com sotaque que se fala no balneário der lugar ao castelhano do outro lado do Atlântico. O plantel ainda tem oito brasileiros mas a preponderância na equipa já foi maior. Apenas David Luiz e Luisão são titulares indiscutíveis, Kardec tem jogado no lugar de Cardozo (lesionado) e elementos como Júlio César, Sidnei e Airton, ou mesmo Weldon e Felipe Menezes são chamados em função das ausências de outros.


Convém lembrar: entre a escola de samba e o salão de tango, o corridinho lá se vai safando com nove portugueses...

quinta-feira, novembro 18, 2010

Levar 5 acontece aos Melhores do Mundo - Leonor Pinhão

A última jornada foi particularmente feliz para dois avançados trintões. Nuno Gomes precisou apenas de dois minutos e meio no relvado do Estádio da Luz para marcar um golo à Naval 1º de Maio e fornecer, aos adeptos da casa, o mais do que necessário cuidado paliativo emocional depois do estrondoso insucesso no porto.
E, em Vila de Conde, João Tomás marcou por duas vezes, desta feita ao Paços de Ferreira, e é hoje o segundo classificado da lista dos goleadores de 2010/2011, com 7 golos. Melhor do que João Tomás, só Hulk. Pior do que ele, os outros todos…
Ao contrário de Nuno Gomes, que cumpre este ano a sua décima primeira época na Luz, e que é hoje uma referência para o interior e para o exterior do clube, João Tomás já deixou o Benfica há dez anos.
Dele apenas restam aquelas memórias já turvas da imensamente eficaz dupla que fez com Pierre Van Hooidjonk – e que foi lamentavelmente desmantelada por questões políticas – e daqueles dois bonitos golos que marcou numa noite ao Sporting levando o Estádio da Luz au rubro e levando também o jovem e inexperiente treinador do Benfica, José Mourinho, a ajoelhar-se na relva de tão contente que ficou.
Há acontecimentos assim. O golo de Nuno Gomes, no domingo, foi também um acontecimento e dos bons. Os benfiquistas, que tinham entrado no estádio ainda vagamente acabrunhados por causa daquela coisa da jornada anterior, saíram sorridentes e comovidos com a pontaria e com a comoção do seu número 21.
Como seria de esperar, o golo de Nuno Gomes lançou uma polémica sobre as opções de Jorge Jesus para a frente de ataque do Benfica. A esta polémica, naturalmente, não é de todo alheio o facto de o Benfica estar a 10 pontos do FC Porto. Na época passada, Nuno Gomes marcou três golos – um deles bem importante, em Olhão – e nenhum desses feitos levou a um debate nacional sobre a injustiça com que o treinador do Benfica trata o seu avançado mais velho e com mais anos de casa.
É tão natural quanto respeitável o desejo de Nuno Gomes de jogar mais vezes de modo a que os seus golos não sejam olhados como acontecimentos mas como… golos, precisamente o que acontece com João Tomás que é utilizado com regularidade e proveito por todos os clubes em que passa.
Nuno Gomes saberá melhor do que ninguém o momento em que há-de colocar um ponto final na sua carreira de futebolista. E como é uma pessoa de bom senso vai saber fazê-lo bem, a tempo e com grande categoria.
E, por isso mesmo, saberá evitar certamente deixar-se transformar num caso, numa espécie de novo Mantorras, na vertente de milagreiro místico e de entertainer de ocasião para multidões ávidas de alegrias.

ESTÁ disponível no Youtube um momento muito especial para o Benfica ocorrido no último treino da selecção do Brasil antes do jogo com a Argentina, nas Arábias. É fácil chegar lá. Basta procurar David Luiz humilha Ronaldinho para vermos o nosso defesa central, que saiu psicologicamente tão maltratado do jogo com o FC Porto, recuperar a mais do que desejada auto-estima aplicando, num só toque, um requintado túnel ao grande Ronaldinho Gaúcho em boa hora regressado ao escrete.
Em boa hora para o Benfica, evidentemente.
David Luiz, que o Chelsea quer levar já em Janeiro, segundo se lê nos jornais, bem precisava de um golpe de asa assim para de poder recompor emocionalmente do mau sucesso do Estádio do Dragão. É que fazer a bola passar entre as pernas do grande Ronaldiho Gaúcho, mesmo que num treino, a brincar, é um precioso alento para quem teve de ouvir tantos remoques sobre a sua prestação no último clássico do pequeno futebol português.
Ainda para mais quando Ronaldinho Gaúcho não desiste de ocupar na selecção brasileira o lugar que, lendo a imprensa e os especialistas nacionais, deveria ser entregue a Hulk, o que é incrível.

JESUALDO FERREIRA parece estar encaminhado para ser o próximo treinador do Panathinaikos da Grécia depois de não lhe ter corrido bem – ainda que tenha corrido bem depressa – a passagem pela Liga espanhola.
É um grande mistério este que envolve os treinadores portugueses – e logo os melhores - que não conseguem firmar no país do lado os créditos que somaram em casa.
Excepção feita a José Mourinho, obviamente. E é por isso mesmo que lhe chamam O Especial, porque é diferente dos outros todos. Mourinho, é verdade, ainda não ganhou um troféu no comando do Real Madrid mas, é a convicção planetária, há-de ganhar. Para já, ganhou a admiração de Chamartín, uma casa exigente, o respeito da imprensa, uma imprensa musculada, e o desamor dos rivais, que é exactamente o mesmo em todos os cantos do mundo.
José Mourinho foi o quinto treinador português, campeão em Portugal, a chegar a Espanha com um currículo mais avantajado do que o que tinha quando lá aterrou.
E os outros? O que se passou com os outros treinadores portugueses, todos eles campeões, que chegaram a Espanha e de lá partiram num ápice. Toni, campeão pelo Benfica, não resistiu em Sevilha muitas semanas. Jaime Pacheco, que foi campeão pelo Boavista, e António Oliveira, que foi campeão pelo FC Porto, passaram fugazmente pelo Maiorca e pelo Bétis sem nada acrescentar aos historiais dos respectivos clubes, E, por fim, Jesualdo Ferreira, três vezes campeão pelo FC Porto, não resistiu em Málaga a mais do que meia dúzia de jornadas do campeonato espanhol.
Será do clima? Do clima da Andaluzia – Sevilha e Málaga – e das ilhas Baleares – Maiorca – que é adverso aos treinadores portugueses?
Este é um mistério que ainda está longe de ser resolvido. De qualquer maneira, para os mais cépticos em relação aos talentos de José Mourinho, fica no ar aquela dúvida metódica sobre o actual treinador do Real Madrid:
-Pois…pois… mas não me convence enquanto não o vir fazer do Ayamonte FC campeão de Espanha!

PORTUGAL ganhou por 4-0 à Espanha que é a campeã do mundo. Devia ter ganho por 5-0 porque Cristiano Ronaldo marcou um golo lindo e limpo que o parvinho do árbitro entendeu anular. Quando joga a selecção e os árbitros são estrangeiros e maus, é um privilégio poder chamar-lhes parvinhos sem que ninguém por cá se ofenda. São as virtudes do internacionalismo.
Os espanhóis com um árbitro a sério tinham levado 5. Fica provado que levar 5 acontece aos melhores do mundo.

Nós pagamos! - Rui Santos

Foi necessário Valentim Loureiro ir à televisão e dizer “fui eu e o Pimenta Machado que definimos o ordenado de Gilberto Madaíl” para ficarmos a saber que o atual presidente da FPF ganha o equivalente a 28 ordenados mínimos, qualquer coisa como 13 300 euros/mês e ainda, segundo notícias mais recentes, 160 mil euros anuais em despesas de representação. Tudo somado: 402 mil euros/ano. Quem é que deixa um lugar destes, no qual só é necessário capitular, “dar graxa” (UEFA/FIFA), mudar de treinador e dar ares de preocupação?

Não é normal uma instituição que recebe dinheiros públicos lidar com este assunto como se fosse um “segredo de estado”, o que prova a opacidade das coisas do futebol, aliás na proporção exata de alguns escândalos de revelação recente, a envolver banqueiros, empresários, gestores públicos e todos aqueles – e são muitos – que vêm vivendo sob a lógica das “economias paralelas”...

Gilberto Madaíl é presidente da Federação há 14 anos e basta ouvir as pessoas que vivem o futebol “por dentro” para compreender não ser necessário procurar soluções reformistas para se justificar a solidariedade e o voto.

Menos estrangeiros nas competições profissionais e não profissionais, e agora, inclusive, nos escalões mais jovens? Não vale a pena. Está bem assim. Reformulação dos formatos competitivos, com tendência para exigir mais no acesso à competição profissional? Não vale a pena. Está bem assim. Clubes sem dinheiro para pagar a organização de cada jogo é coisa banal, que se deve estimular e proteger. Jogos a começar à sexta e acabar à segunda, sem qualquer motivo aparente? Está bem assim, porque não se pode conflituar com a Olivedesportos, cujo abuso de posição dominante ninguém ousa tocar. Clubes na Liga principal com médias de 3.000 espectadores, em estádios que são autênticos “elefantes brancos”? Está bem assim. Nada a dizer.

Tantas receitas recebidas da UEFA e da FIFA, cujos favores são muito bem pagos, sem dúvida, e a Casa das Seleções não passa da idade da... pedra? Uma Federação sem estatutos adaptados à lei, e o presidente não toma uma posição?! Pois claro que não. Quem fez a lei também não se preocupa, por que razão a FPF havia de preocupar-se? Vivemos um tempo de não exigência, que tudo parece justificar.

Opresidente da FPF vive, pacificamente, debaixo da tutela, com mordomias de luxo. Ninguém o questiona e, quando é questionado, em razão dos resultados menos bons da Seleção Nacional, ouve os patrocinadores, ouve a companhia Rodrigues & Oliveira, consulta a tutela (quando a ordem não vem logo de cima, encomendada) e toma as decisões que melhor o protejam. Um presidente da FPF que resiste ao que já resistiu pode, de facto, recandidatar-se.

OPaís e o “país da bola” assistem, com lusa bonomia, à gestão do calendário de Madaíl: até 2 de Dezembro (data do anúncio de quem organizará o Mundial’2018), não incomodem. E até o Amândio (quanto ganha?) se tornou numa grande figura do futebol indígena! Que pobreza!

NOTA – A Seleção Nacional, com uma bela exibição, banalizou os campeões do Mundo. Quando os jogadores querem, até o treinador é “bestial”.

quarta-feira, novembro 17, 2010

Excessos e deslizes - João Gobern

Se todos pararmos um minutinho que seja, julgo que ficaremos fortemente habilitados a responder à pergunta: a quem interessa a guerra de palavras entre as direções do Vitória de Guimarães e do Sporting de Braga? A ninguém, claro. Parece óbvio que, tudo somado, mesmo com eventuais deslizes pontuais de João Ferreira, os vitorianos têm mais razões de queixa da arbitragem do que os arsenalistas. E esse desequilíbrio passa sobretudo pelo golo validado quando é visível nas imagens que Alan se coloca – e está parado – em posição de off-side quando o livre é batido. Depois, sempre com o mesmo protagonista, eventualmente nervoso por causa do regresso a uma casa que já foi sua, a expulsão não oferece dúvidas: é agressão, pura e simples, intencional, transparente. Daqui para a frente é tudo excesso.

Antes de mais nada e acima de tudo da parte de António Salvador, um presidente que não se estreia em manifestações de mau perder. A exigência de explicações por parte de Vítor Pereira é tão ridícula como aquela que foi protagonizada, no mesmo estádio, por André Villas-Boas. Com uma diferença: o técnico portista assumiu um raríssimo “mea culpa” enquanto o presidente bracarense decidiu partir para um bate-boca desnecessário e incendiário com o seu homólogo de Guimarães. Atarefam-se a descobrir lances duvidosos para dessas dúvidas partirem rumo às certezas. Insisto: ninguém fica a ganhar com uma “guerra civil” minhota. O Vitória sabe que, subindo ao pódio, passa a ser um alvo a abater por todos, dos poderosos aos que lutam pela sobrevivência. Já o Braga faria melhor em preocupar-se com a continuidade europeia e com um qualquer arrepio de caminho a nível interno. Seria impensável imaginar o vice-campeão da época passada afundado na segunda metade da tabela – é décimo à 11.ª jornada – e atrás de clubes de orçamento bem mais modesto (Nacional, Beira-Mar, Olhanense, União de Leiria e Académica). O que parece ser suficiente para Domingos perder não só a paciência como a atitude de cavalheiro, que lhe assenta muito melhor.

Jorge Jesus parece hoje um homem mais nervoso, mesmo quando ganha. Esperava-se do treinador uma palavra especial para o seu capitão, não só por marcar um golo ao fim de três minutos como pelo significado especial – a dedicatória ao pai – que todos presenciaram. Aquele “eu é que sei”, digno de um acossado, caiu tão mal como a entrada em campo de César Peixoto – ambos eram escusados.

Já agora, fica uma dúvida: em tempo de amigável e com Liedson de baixa, não teria sido este o momento de uma convocatória de João Tomás? Marcou 7 dos 11 golos do Rio Ave, é o melhor português entre os goleadores, continua a mostrar “fome de bola”. Não poderia ter sido premiado?

Poderá este Jesus Ressuscitar (n) o Benfica? - Pedro Candeias

Citando de cor, isto foi o que Jorge Jesus disse à SIC dias depois de conquistar o campeonato pelo Benfica: "Sempre garanti a quem trabalhava comigo que quando chegássemos a um grande, íamos dar de calcanhar." Ele há coincidências...
Quer lá ver o leitor que foi de calcanhar - um senhor calcanhar - que Falcao fez o 2-0 num lance (o segundo) em que a invenção de Jesus (a segunda) deu barraca? David Luiz, o tipo escolhido por JJ para defender à esquerda, foi humilhado por Hulk, Belluschi, etc. e em 12 minutos (12'' e 24'') o Benfica saltou fora da corrida ao título.
"Bom, ouvindo Jesus quando justifica a opção por David Luiz até parece ter lógica porque Peixoto não é o homem ideal para ali. Mas acabou por baralhar e mexer muito num sector que era o mais forte da equipa: a defesa. E saiu a perder", diz Vítor Paneira.
O ex-jogador do Benfica assume que agora é fácil criticar porque o mal já está feito mas estranha as mudanças efectuadas em noite de clássico. "O Fábio é o melhor defesa-esquerdo do Benfica e esta foi uma má opção por parte de Jesus." Como o também foram aqueles discursos de início de época, em que a vitória na Champions era tida como um objectivo acessível e o bicampeonato uma quase certeza. "É positivo ter um discurso ambicioso mas, e já o critiquei antes, quando se vem falar em ganhar a Liga dos Campeões é preciso ter cuidado. Porque para chegar lá é necessária experiência e saber como funciona a competição." E Jesus, de 56 anos, ainda é verdinho nestas coisas da Champions.


A verdade é que este Benfica dá razão a quem o critica por falta de continuidade. Na Luz parece tocar uma daquelas bandas de one hit wonders; no Dragão mora um conjunto consistente, com álbuns coerentes. Acabadinhas de ganhar a Liga 2009/10, as águias perderam os seus dois melhores jogadores (Di María e Ramires) mas JJ não desarmava nas palavras.
Dava a ideia de ter tudo controlado com as contratações de Gaitán, Jara e depois Salvio. Pelo meio, à RTPN, despachou Quim em directo e duvidou das capacidades de Villas-Boas para dirigir o FC Porto - a autoconfiança dava para tudo. Depois, Roberto foi comprado por 8 milhões de euros (na Luz gastaram-se 31 milhões na pré-época) e deu frangos que custaram pontos.
"Não se ganham campeonatos no primeiro terço", garante Jesus. Mas perdem-se, acrescentamos nós. E aquilo de que Vieira falava no final da temporada passada - o arranque de uma nova era encarnada - soa a palavras bacocas dez jornadas depois. JJ teve carta branca para construir um plantel com as suas ideias e jogadores mas nem Gaitán, Airton, Weldon, Menezes, Faria ou Roberto são mais-valias. E enquanto os dirigentes se queixaram das arbitragens (algumas vezes com razão), apelaram à verdade desportiva e ao boicote nos estádios rivais, JJ justificava a má forma com o Mundial.
Perguntamos nós: o planeamento não está ao cargo do treinador?

O Melhor Exemplo - João Gobern

Terá perdido, em múltiplas ocasiões, oportunidades de se insinuar junto dos “tribunais populares”, permeáveis ao gesto largo e espalhafatoso, por ser discreto e por ter ganho a calma que os longos anos de futebol e de “casa” lhe valem. Dir-se-á, até, que nos anos mais chegados, desvalorizando a ansiedade pelo golo a favor do jogo em prol da equipa, também se tinha tornado um atleta discreto. Tal não impediu que, em ocasiões distintas e pela voz de comando de sucessivos treinadores, tenha sido chamado a múltiplas missões e a todas elas se tenha entregue com igual fervor e aplicação.
Recordo os momentos em que foi desviado da frente de ataque para a posição de playmaker - com êxito assinalável, tendo em conta a sua técnica e a visão de jogo. Lembro os momentos de sufoco para a sua equipa, em que foi sempre capaz de dar o exemplo e, sem esquecer o seu papel primordial de atacante, apareceu como primeiro defensor. Evoco, em nome da épocas mais recentes, a sua infinita disponibilidade para uma longa permanência no banco de suplentes - e até na bancada - em nome dos interesses da equipa, sem que se lhe ouvisse um queixume público, sem que reclamasse a antiguidade como um posto, antes mantendo viva e activa a autoridade natural ganha no balneário e no “grupo de trabalho”, chegando a dar o peito às balas mesmo sem entrar em campo.
Agora, sem fazer ondas nem lançar recriminações contra ninguém, anunciou a disposição de deixar o clube que o fez gente no mundo do futebol e que ele próprio ajudou a engrandecer. Tê-lo-á feito depois de uma prolongada reflexão e por ter concluído que maior do que o seu amor à camisola só há mesmo outro amor: aquele que dedica à sua actividade profissional, que é uma paixão chamada futebol. Mais uma vez, o capitão voltou a ser discreto, limitando-se a defender que ainda se sente à altura de jogar e de partilhar alegrias sobre os relvados.
Chegou a ser um mal amado na equipa, mesmo pelos que reconheciam a sua importância nos equilíbrios no clube. O facto de ser um jogador fino - nada tem a ver com défices de entrega e de alma - levou-o a receber assobios. Hoje, é aceite como símbolo, algo que herda em via directa de alguns dos maiores de sempre no clube que representa. E não é preciso ser adivinho para vaticinar que o Benfica, mesmo em fase de poder e de saúde, vai sentir a falta de um homem - e de um jogador - como Nuno Gomes. Oxalá possa regressar, mais tarde, para continuar a ser porta-bandeira e porta-voz. Apesar da época meteórica que vivemos - no futebol e não só -, das famas e carreiras feitas e desfeitas num ápice, ainda há os que provam ser uma mais-valia continuada. No futebol jogado em Portugal, não conheço melhor exemplo.

terça-feira, novembro 16, 2010

Dilema Nuno - Octávio Ribeiro

Somados, Nuno Gomes leva não mais de 15 minutos reais na Liga. No passado domingo entrou a 4 minutos do final. Caso não seja por lesão ou para queimar tempo sob pressão, está é uma substituição que só premeia um jovem imberbe, para sentir o cheiro da competição a sério, ou castiga alguém que já está a mais. E ninguém melhor do que os jogadores para interpretar o sentido do dedo técnico.

Não condenemos Jesus neste olhar sobre o avançado. Enquanto titular, até à chegada do técnico campeão, Nuno Gomes marcava escassos golos para o peso relativo do salário no orçamento da equipa, ficava aquém da concretização necessária a um clube que queira chegar ao título. Para mais, Nuno Gomes casa muito melhor com um sistema claro na utilização de uma dupla de pontas-de-lança, do que neste de Jesus, que privilegia os flancos com as entradas de um “nove e meio” vagabundo como é Saviola e também pode ser Aimar.

Por isso Nuno Gomes derrapa do banco para a bancada quando não há lesões. Por isso Jesus o utiliza pouco ou nada, num sábio sinal de não querer que um afeto de última hora leve à renovação com o histórico jogador por mais uma época.

Mas Nuno Gomes é um predestinado, e a esses não se pode dar uma nesga, uma oportunidade, um minuto que seja, sem correr riscos de uma súbita valorização.

Se ao golo juntarmos as sentidas lágrimas e a reação dos colegas, numa emulação coletiva que este ano ainda não se vira, parece que Jesus encontrou ali, naqueles quatro minutos de raiva, um dilema para resolver.

Um bom dilema, aliás.

A guerra do golfe - João Querido Manha

Portugal é um dos principais destinos mundiais de golfe, com alguns dos melhores campos da Europa, o clima mais invejável e a segurança mais apurada. A segurança quê? No golfe propriamente dito, não há registos de problemas, violência ou vandalismo. Nos clubes só entram pessoas normais e o uso das bolas é estritamente desportivo, exceto um ou outro acidente por negligência da etiqueta. Em reconhecimento do perigo, de vida até, desde sempre se instituiu que os jogadores fiquem atrás da linha da bola.

Apesar das extraordinárias condições, Portugal ainda não conseguiu gerar um jogador de classe mundial, numa manifesta demonstração de incompetência diretiva, técnica e estratégica, sem esquecer que enorme parte dos federados são estrangeiros, residentes ou passantes. Por isso, o país que se candidatou a organizar a Ryder Cup de 2018, a maior manifestação desportiva depois dos Jogos Olímpicos e do Mundial de Futebol, é o menos competitivo da Europa ocidental, observando com inveja a explosão dos Molinari e Manassero, em Itália, o último destino na cabeça de qualquer golfista que se preze. À boa maneira lusitana, lidamos neste campo com um desperdício de meios, talento e credibilidade.

Os portugueses que por estes dias ouvem falar de golfe, logo associam o mais nobre dos desportos a hordas de desnorteados e a atos do vandalismo mais gratuito e desumano. Correm notícias inverosímeis de que algumas lojas perto de estádios de futebol esgotam os stocks de bolas de golfe, pois a maioria dos balázios utilizados pelas claques são roubados de campos de prática, mas elucidativas de delinquência deliberada e fora de controlo das autoridades.

É, aliás, bem irónico que no mesmo fim-de-semana em que era difundida essa informação do sucesso comercial das bolinhas como munições de guerra, tivesse sido cancelada em Lisboa a feira anual do golfe, por indisfarçável crise no sector.

Afalta de poder e de disciplina no futebol português, que disfarça com castiguinhos fantoches a escandalosa impunidade das práticas criminosas e xenófobas que vêm minando o jogo por dentro, abriram caminho a esta perversão. O que podia ser o paraíso do golfe, à escala mundial, está em vias de se tornar num inferno, de dimensão paroquial, com esta guerra imbecil entre chusmas de marginais, abrigados por emblemas e bandeiras que mereciam mais respeito.

Dezenas de milhares de portugueses deixaram de ir ao futebol nos últimos 30 anos e tanta energia desperdiçada podia ser resgatada por outros desportos. O futebol embrutece, o golfe educa. O futebol divide, o golfe congrega. O futebol ameaça a sociedade, o golfe socializa como nenhum outro desporto.

Alei prevê a apresentação dos vândalos nas esquadras da polícia à hora das partidas, mas seria bem mais proveitoso trocar esse castigo pelo prazer do corte de relva de uns quilómetros de fairways e alisamento de bunkers. E, claro, acompanhados pelos dirigentes de clubes para quem vale tudo, incluindo ser cúmplices e instigadores dos “shots” que estão a assassinar o futebol.

Mourinho e Benfica - João Malheiro

Percebe-se o que são dez anos (quase) sempre a ouvir a mesma pergunta? «Porque é que o Zé Mourinho saiu do Benfica?» Canta o meu amigo Paulo de Carvalho que «dez anos é muito tempo».Dez anos é o tempo bastante para contar a história. Só essa? Outras mais. Porque é que o Zé Mourinho, um ano depois, não voltou ao Benfica… Só mais essa? Outras mais. Por isso é que, hoje mesmo, lanço o Eu, Mourinho e Benfica.


Há sempre uma altura na vida em que se decide. Melhor? Pior? Que impor-ta? O momento é esse, é este. Mourinho é, para quase todos, o melhor treinador do Mundo. Foi despedido do Benfica? Foi. Há uma década, não era o Mourinho da actualidade, conquanto já era um grande Mourinho.


E as interrogações, muito por isso, permanecem.A gente da bola merece ou não conhecer todos os contornos do processo? Eu não fui só testemunha, fui também protagonista. A história passa a ser (mais) pública. Com críticas a Mourinho? Também com a autocrítica de Mourinho. Fica-lhe bem? Assenta-lhe na perfeição.


Com serenidade da minha parte? Assenta-me, passe a imodéstia, na perfeição. Nem poderia ser de outra forma. Mourinho justifica o reconhecimento de todos, teve um trajecto sensacional. Dos benfiquistas? Porque não?


Foi na Luz que começou a treinar, que começou a proclamar que era grande, muito grande…
Este Eu, Mourinho e Benfica é um documento para os anais da bola. Sobranceria? E porque não história? Talvez até com “H”. Muito na convicção de que o povo do futebol vale um testemunho assim.
Por Mourinho? Também (e muito) por Mourinho.