Mesmo tendo tido a sorte de calhar num grupo bastante simpático, sem nenhum “tubarão”, o Benfica não conseguiu qualificar-se para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões. E a triste sentença chegou ainda com uma partida para disputar. Tudo porque as águias foram incapazes de levar de vencida a modesta formação do Hapoel Telavive. Pior: saíram de Israel vergadas ao peso de uma humilhante derrota (0-3) que, conforme confessou o treinador local, nem os próprios adversários admitiam como possível.
Meses depois de ter conquistado o título nacional - e de ter mostrado um futebol vistoso e eficiente -, a equipa do Benfica é, hoje em dia, bastante diferente. Para pior. Para muito pior. E se são os jogadores que fazem os resultados dentro do campo, convém não esquecer o “dedo” dos treinadores. Jorge Jesus foi endeusado quando colocou os encarnados a jogar “a sério”. Agora, no entanto, parece claro que não será um inquilino para durar muito no banco. E tudo porque, num ápice, a sua boa estrela desapareceu. Agora, quase que invariavelmente, as opções saem furadas, as substituições não ajudam e, mais grave, dá a ideia que os jogadores já não absorvem a mensagem, nem sequer entendem algumas (várias) das suas decisões. Aliás, também dirigentes e cada vez mais adeptos se interrogam perante determinadas atitudes do técnico.
O Benfica abandona a “Champions” depois de perder os três jogos fora. Longe da Luz, mais do que serem invariavelmente derrotados, os encarnados nem um golito marcaram. Com Lyon e Schalke longe do fulgor dos últimos anos (os franceses são oitavos e os alemães 15.ºs nos respectivos campeonatos), nem assim os portugueses foram capazes de, pelo menos, empatar uma partida. E se o registo já estava mau, na quarta-feira raiou o absurdo quando se deu a catástrofe em Telavive. Pese ter beneficiado de 21 cantos, de ter tido a bola quase de princípio a fim e de ter construído as melhores oportunidades, o Benfica saiu completamente amolgado do relvado, após ter escrito uma das páginas mais cinzentas da sua história (Jesus está a coleccionar várias nos últimos tempos) . É que ser goleado pelo Hapoel é algo que não tem qualquer justificação, pois estamos a falar de uma equipa que fez a sua estreia esta época na mais importante competição europeia, que nunca tinha ganho uma partida a este nível, que é oriunda de um país que, futebolisticamente falando, é de expressão reduzida e, já agora, possui nas suas fileiras apenas (alguns) jogadores medianos.
A época passada, o Benfica tinha um ataque que impunha respeito e uma defesa sólida. Na altura, mesmo quando a inspiração não era a melhor, a equipa lá conseguia encontrar maneira de ganhar os jogos. Agora, vê-se precisamente o inverso. O rendimento dos avançados é bastante inferior, o sector recuado mete água quase sempre e os jogos, mesmo quando os adversários atacam pouco, podem sempre ser perdidos. Até o elogiado trabalho de laboratório de há uns meses nas bolas paradas desapareceu. Agora, são os opositores que tiram partido desse tipo de lances.
Jesus, ontem, falou em falta de sorte. Tem alguma razão. E disse ainda que a equipa podia ter estado a jogar 3 ou 4 horas que dificilmente iria marcar um golo. Também deve ter razão. Aliás, nas pouco mais de 4 horas e meia que a equipa disputou fora nesta Liga dos Campeões... nunca marcou, pelo que a dedução parece correcta. O treinador que tanta gala fazia há uns meses com as suas profecias também acertou noutra coisa: o Hapoel ia decidir a sorte deste grupo. Só não foi capaz de prever quem seria o “bombo da festa”.
Sempre considerei que Jesus estava a exagerar quando dizia, de peito cheio, que a equipa podia vencer a “Champions”. Só ele, no meio das suas megalómanas visões, podia acreditar nesse desenlace. Aliás, um dos grandes problemas (talvez o maior) do actual Benfica é que o técnico tem metido as mãos pelos pés vezes sem conta. Jesus, depois de ter brilhado a temporada passada, convenceu-se que era uma espécie de clone de José Mourinho, que conseguia transformar em ouro tudo o que tocava e que iria ganhar vezes sem conta. Falou demais e mal (o que não foi propriamente uma novidade...), tomou opções erradas (dispensas e contratações) e começou a dar sinais de evidente desnorte quando surgiram as dificuldades. Agora, resume à falta de sorte os resultados negativos. Será que, no passado, os positivos também eram obra do destino? Afinal de contas, sempre se ouviu dizer que, num país em que Belenenses e Boavista foram momentâneas excepções, quem treina Benfica, FC Porto ou Sporting arrisca-se sempre a ser campeão...
PS - Sem Supertaça e Liga dos Campeões e com o Campeonato virtualmente perdido, o Benfica tem, desportivamente, de concentrar forças na Taça de Portugal, na Taça da Liga (gostava de ver, neste cenário, Vieira abdicar da competição) e na Liga Europa (acreditando que o apuramento para esta prova vai ser uma realidade). Contudo, financeiramente, não vejo maneira de o clube poder passar por Janeiro sem vender jogadores. Deixar algumas das figuras na Luz mais tempo só servirá para as desvalorizar.
PS1 – Depois de ter humilhado Nuno Gomes ao lançá-lo nos instantes finais do já resolvido embate com a Naval, Jesus foi ainda mais longe desta vez. Desvalorizou a confiança que o capitão ganhou com o recente golo e abdicou da sua experiência e liderança (mesmo no banco) numa partida que catalogou de final. Ele lá sabe porquê. Ou pensa que sabe...
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