quarta-feira, novembro 03, 2010

Análise: Carlos Martins não merecia tanto delírio após as substituições - Bruno Prata

1. Dois lances de bola parada e outros tantos contra-ataques valeram uma importante vitória ao Benfica, que estava no céu aos 74 minutos e acabou o jogo com um pé no purgatório. Num quarto de hora, desbaratou quase por completo uma gorda e surpreendente vantagem, perdendo golos que lhe podiam vir a dar vantagem em caso de empate pontual. Faltou então competência e disciplina táctica, sendo ainda certo que o Lyon melhorou com as substituições (Gomis, o substituto natural de Lisandro, e Makoun não podem ser suplentes numa equipa debilitada pelas lesões), enquanto as segundas linhas da Luz não estiveram à altura.

2. E foi pena aquele breve período de delírio colectivo. Não só porque a última imagem deixada é sempre muito marcante, mas também porque poderá fazer com que não se valorize suficientemente, por exemplo, a exibição magistral de Carlos Martins, dono das quatro assistências para os golos do Benfica. No meio, a substituir o adoentado Aimar, o médio começou por marcar o livre para a cabeçada primorosa de Kardec, golo que teve o condão de mudar o jogo - a partir daí, o Lyon tentou reagir e carregar, acabando por se desorganizar completamente. Mas Martins fez muito mais. Batalhou sem descanso (era o jogador com mais faltas cometidas ao intervalo), recuando para o lado de Javi García quando as circunstâncias o exigiam. Destaque ainda para mais dois nomes: Fábio Coentrão e Salvio. Ficou provado que o primeiro pode jogar em qualquer lado, mas é muito mais útil quando arranca de terrenos mais recuados. Mandou nos seus terrenos e continuou a desequilibrar mais à frente, marcando dois golos de classe pura, o último dos quais com uma subtileza capaz de levar ao desespero qualquer guarda-redes. Salvio provou, finalmente, que pode ser útil. Deu verticalidade e magia, tudo com a agressividade que ainda não se lhe vira na Luz (nem em Madrid).

3. No seu melhor período, o Benfica deu uma lição de como se deve funcionar em transições ofensivas rápidas. Viu-se então uma equipa solidária, concentrada e organizada. Saviola, que ainda não atingiu o nível da época passada, correu quase seis quilómetros no primeiro tempo. A pressão inteligente, a pouca distância entre as linhas, os processos simples e a eficácia (o Benfica aproveitou três das cinco primeiras oportunidades criadas) faziam também parte da receita que deitou o Lyon ao tapete.

4. Numa semana que tanto pode vir a ser de “bruxas” como de redenção, ontem, o Benfica até nem começou bem. Claude Puel colocou o esquerdino Michel Bastos na ala direita, Jorge Jesus respondeu com o recuo de Fábio Coentrão (César Peixoto passou para a sua frente), mas o Benfica demorou a encontrar as melhores soluções para travar o internacional brasileiro. A defesa benfiquista vacilou então mais do que seria desejável, valendo-lhe os dois golos bem anulados ao Lyon (no segundo caso, foi assinalado fora-de-jogo, mas Briand - um ala ontem adaptado a ponta-de-lança - jogou foi a bola com o braço).

5. Mas, até aos 15 minutos finais, o Lyon foi sempre uma equipa de pólvora seca. Gourcuff e Pjanic não encontravam linhas de passes lá na frente. O golo do primeiro, num lance em que Javi García não estava onde devia, teve, no entanto, o condão de mudar o sentido do jogo.

6. O Benfica estragou em demasia a pintura, mas vencer o Lyon, debilitado ou não, é sempre um belíssimo resultado.

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