quinta-feira, novembro 11, 2010

Jesus é preciso - Rui Santos

O Benfica já não sabe se precisa de Jesus. Sem trocadilhos: o Sporting precisa de Jesus. O Benfica precisou de Jesus no ano I da sua anunciada revolução. O Benfica precisou de Jesus, conseguiu impedir que ele fosse integrar a estrutura do FC Porto, contando com ele para quebrar a hegemonia do rival. O Benfica andou com Jesus ao colo e Jesus andou com o Benfica no regaço. Colo paga-se com colo. O Benfica marcou golos, somou vitórias, encheu estádios e alimentou o sonho de Luís Filipe Vieira – estugar o passo do incansável Pinto da Costa, senhor de muitas vidas. O Benfica ganhou o título. O Benfica convenceu-se então da “imortalidade” de Jesus. Convenceu-se de que, depois do ano I, seria a imposição definitiva, porque duradoira, da “era d.J” (“depois de Jesus”).

A verdade é que, a 10 pontos do líder, e sobretudo depois de encaixar 5-0 no Dragão, a “nação benfiquista” dividiu-se. Há quem ache que “Jesus II” é o mesmo “Jesus I” e há quem entenda que “Jesus II” nunca mais se assemelhará a “Jesus I”. Há mesmo quem não perdoe a Jesus ter sorrido a Pinto da Costa e lhe ter apertado a mão, num momento em que a “guerra” havia sido declarada.

Jesus nada poderia fazer perante as saídas de Di María e Ramires. A convicção de os substituir sem qualquer dano para a equipa foi pública e notória. Jesus estava convencido de que, com as alterações produzidas, iria ter “mais Benfica” e não “menos Benfica”. A águia ia continuar a voar, quiçá até mais alto, em função das declarações que fez em torno do sonho de conquistar, até, a Liga dos Campeões.

Estava convencido... A expressão é essa mesmo. Jesus é um homem de convicções. Puro, generoso, afetivo, mas aparentemente arrogante e fanfarrão. Por isso, há muito que desenvolvi a ideia, ao primeiro sinal de fratura sísmica, que era preciso não perder Jesus. Não o perder como ele é. Respeitar a inestética e a pastilha elástica. Respeitar os modos rudes e a histeria técnico-tática. Criticar em surdina o lado “flinstoneano” de Jesus era concorrer para a sua desagregação. E, com ela, provocar ruturas importantes no relacionamento com os jogadores. A memória é cada vez mais curta, mas da mesma forma que defendi a ideia de que Jesus é um dos treinadores com mais conhecimento tático (chamei-lhe o “mestre da pressão alta”), fui avisando, quando me pareceu pertinente, que uma liderança de ferro, cultivada até ao tutano, superdemocrática, isto é, sem olhar a nomes e a estatutos, poderia ter os seus custos.

Também o futebol é um jogo de conjunturas. A conjuntura mudou. Dá a sensação de que Jesus também mudou. Nada de mais falso. É por isso que, no plano da forte diplomacia que caracteriza o tecido da bola indígena, se houver a convicção de que Jesus está esgotado na Luz (no ano II do seu magistério de influência), então, com todo o respeito por Paulo Sérgio, que se faça uma ponte (pacífica) para Alvalade, com a licença da fanfarronice de Rogério Alves. Se o Benfica não precisa de Jesus (por não ter sido... preciso no Dragão), o Sporting precisa. Já que o FC Porto dispensa-o, mesmo estando guardado no coração.

1 comentário:

José, o Alfredo disse...

Estugar o passo significa apressá-lo. É isso, justamente, que se teme que Jesus esteja a fazer ao Porto na segunda época ao serviço do Benfica, ao invés do que fez na primeira, em que travou brilhantemente esse passo da única forma ao seu alcance: acelerando à brava o do Benfica.