O despedimento de Jesualdo Ferreira do Málaga está longe de ser o primeiro na longa carreira do técnico – infelizmente, o recurso à “chicotada” é a terapêutica mais fácil e mais repetida no mundo do futebol. Pode mesmo dizer-se que o melhor período da vida profissional do professor de Mirandela começou no dia em que foi despedido do Benfica, na sequência de uma eliminação vista como escandalosa da Taça de Portugal. Seguiram-se, no caminho de Jesualdo, as épocas que chegaram para solidificar o Braga como o quarto “grande”, lançando muitas das bases depois rentabilizadas por Jorge Costa, Jorge Jesus e Domingos Paciência, e os anos como treinador principal do FC Porto, onde alcançou a proeza de ser o único chefe técnico português a ganhar três campeonatos consecutivos, sem nunca conquistar os adeptos mais exigentes do clube.
Por tudo isto, será ridículo pôr em causa o valor profissional de Jesualdo Ferreira. Mas, acredito, soubesse ele o que sabe hoje, e talvez os euros andaluzes não tivessem falado mais alto do que a paciência – se estivesse livre ao tempo da caça a Queiroz, o “senador” Jesualdo teria argumentos suficientes para se bater (pelo menos) de igual para igual com os do candidato Paulo Bento. Assim, com estes três meses de atividade externa, corre-se o risco de uma mancha no último capítulo de alta competição de quem merecia outro desfecho. Resta saber se o professor está disposto a recomeçar… fora de horas. Já agora: para aqueles que propagandeiam o valor dos treinadores portugueses, este afastamento é um sério revés. Que deixa outra vez José Mourinho a “falar sozinho” o nosso Português, no que toca aos países realmente competitivos e à conquista de troféus de valor incontestado.
Ontem, na Luz, 15 minutos chegaram para passar do sublime ao susto. Depois da inesperada baixa de Aimar, valeu o jogo soberbo de Carlos Martins (a exibição mais completa que se lhe viu na Luz), seguido de perto por Fábio Coentrão, precisa e orgulhosamente os dois portugueses que se têm afirmado como mais-valias no plantel, e à distância por Javi García, Luisão e Kardec. Mais: o Benfica “ganhou” Salvio, repentista e craque, decisivo a lançar a jogada do segundo golo (passe milimétrico para Martins) e a ganhar de cabeça a bola que permitiu o contra-ataque do quarto.
Não houvesse Dragão no próximo domingo e estou convicto de que o peso dos números seria forçosamente outro – sem aquela tremideira “fora de horas” que vem relançar algumas dúvidas sobre o banco do Benfica. Filipe Menezes, Weldon e Jara ficaram muitos furos abaixo dos antecessores. Mas, em boa verdade, já não contava – o primeiro passo benfiquista deste novembro “tudo ou nada” foi mesmo de gigante.
Sem comentários:
Enviar um comentário