O FC Porto, mesmo sem brilhar, voltou a vencer; o Benfica, às custas de uma destemida mas infeliz Naval, recuperou ligeiramente da “amolgadela” do Dragão; o Sporting vacilou de novo nos últimos minutos, mas lá passou o teste de Coimbra e no Minho houve futebol rasgadinho e muita confusão. Em suma, a jornada futebolística do fim-de-semana foi regular. Pessoalmente, considero que o mais interessante foi o regresso aos golos de Nuno Gomes. Não pelo facto do capitão encarnado ter marcado num jogo que estava resolvido, mas sim pela forma emotiva como festejou (dedicando ao pai recentemente falecido) e, essencialmente, por ter motivado (mais alguns) comentários infelizes do técnico Jorge Jesus.
Nuno Gomes não marcava na Liga desde Dezembro do ano passado, quando em cima do final, salvou o Benfica da derrota em Olhão, algo que na altura não pareceu muito significativo mas que, perto do termo da prova, teve a sua importância. E se nessa altura já era tratado com alguma indiferença por parte do treinador, tem sido esta temporada que Jesus tem passado contínuos atestados de incompetência a um dos mais profícuos goleadores da história do futebol português. Sempre fui (e serei sempre) defensor de que compete ao técnico escalar aqueles que mais lhe parecem indicados para cada jogo, mas tenho dificuldade em entender o porquê de determinadas opções. Por outras palavras: a época passada era indiscutível que Cardozo e Saviola tinham de ser titulares, pois marcavam golos em doses industriais. Agora, porque o paraguaio tem estado lesionado, o argentino em seca evidente e o ataque da equipa a render bastante menos... ninguém entende a razão de Nuno Gomes alternar o fundo do banco de suplentes com a bancada, embora seja óbvio que hoje já não é (nem podia) o mesmo jogador de há uns anos. Mais: um técnico que pretende ter o grupo estável, não pode utilizar um dos líderes do balneário, um dos atletas mais respeitados por adeptos e dirigentes, como se fosse um jovem acabado de vir dos juniores. Ser chamado para alinhar os derradeiros 4 minutos de um Benfica-Naval resolvido só faz sentido para Nuno Gomes se fosse o jogo de despedida. De outra forma é potencialmente uma ofensa.
Conforme já escrevi em tempos, Nuno Gomes é o futebolista português mais incompreendido dos últimos anos. Basicamente caiu em cima de si o rótulo de avançado que não marca golos, que desperdiça tudo o que é ocasião. Tal avaliação, sendo episodicamente correcta (como sucede com todos os dianteiros mundiais, já que ainda não nasceu – nem nascerá – o goleador que irá facturar rigorosamente em todos os encontros, em todas as oportunidades), é de uma injustiça tremenda. E digo isto não apenas porque o considero um futebolista notável (a definição, pelo menos para mim, não se esgota no total de golos conseguidos), mas porque os números o comprovam. Na Campeonato Nacional, Nuno Gomes marcou 145 vezes em 368 partidas. Para alguns, tal quer dizer que precisa de 2,5 jogos para marcar. Esse dado, por si só, já é bastante relevante, mas é ainda muito mais significativo se se fizerem as contas correctas: dividir o número de golos por minutos de utilização. É que embora muitos não reparem, uma partida tanto pode equivaler a 1 minuto ou a 90 e, convenhamos, é mais provável marcar quando se actua um encontro inteiro do que em breves 60 segundos.
Não possuo os dados da principal prova nacional para dizer, com exactidão, quanto tempo precisa o nortenho para, em média, marcar na Liga, mas em termos de Selecção – e sem desprimor para ninguém -, Nuno Gomes é o melhor goleador da história. Não o é em total de golos, pois à sua frente estão Pauleta (47), Eusébio (41) e Figo (32). No entanto, se tratarmos de fazer as contas aos minutos jogados e não às internacionalizações, concluímos que Nuno Gomes marcou pela equipa nacional a cada 109 minutos de utilização (total de 29 golos), enquanto Pauleta precisou de 117, Eusébio 135 e Nené 195, os únicos que não necessitavam de pelo menos 200 minutos para facturar.
Os dados de Nuno Gomes na Selecção são ainda mais relevantes quando se constata que, mesmo sendo o décimo mais internacional (77 jogos), é apenas o 37.º em tempo de utilização. Aliás, entre os 33 futebolistas que mais vezes representaram o País, só Tiago jogou menos minutos que o dianteiro (2943 contra 3187).
Serve tudo isto para dizer que Jesus, embora tenha toda a legitimidade para dizer que ele é que sabe quem são as melhores soluções para a sua equipa, pode estar enganado. Afinal de contas, nos últimos tempos, o País viu diversas ideias do treinador encarnado revelarem-se erradas (dispensas, contratações, modelos tácticos, e substituições). Neste caso concreto, embora jamais o possa confirmar, acredito que Nuno Gomes podia ter ajudado muito mais a equipa esta época. E para além do “feeling”, sustento essa ideia com os números, pois convém não esquecer que o amarantino marcou 1 golo em escassos 12 minutos de utilização, Jara facturou o mesmo em 164, Saviola também fez 1 em 776, Kardec 2 em 409 e Cardozo 3 em 540!
PS - Nuno Gomes não vai ser futebolista do Benfica na próxima temporada. Ninguém sabe é se vai continuar a jogar. Naturalmente, competirá ao próprio definir o seu caminho, mas na Luz alguém devia perceber que deixar partir um símbolo destes é dar um pontapé na sorte.
1 comentário:
O jesus pôr homens a jogar. as meninas ficam na bancada
Enviar um comentário