Este Jesus tem pouco de rei mas muito de mestre (assim o dizem). Mas não é um mestre-carpinteiro, como o Jesus da Bíblia, mas um mestre da táctica como "A Bola", a bíblia do desporto, sugeriu um dia - sugestão, aliás, aceite pelo próprio sem pudores ou modéstias. Agora, hoje mesmo, é o dia em que (Jorge) Jesus tem de justificar os elogios - e os auto-elogios - perante uma plateia de judeus. E já se sabe o que aconteceu a Jesus (Cristo) quando se disse o rei dos judeus... Para evitar carregar uma cruz para Lisboa, JJ tem de conquistar os três pontos frente ao Hapoel, em Telavive. Se o fizer, não fará mais do que a sua obrigação, que o Hapoel está a anos-Luz das escrituras do Benfica; se o não fizer, o treinador dos encarnados pode começar a cair com o Carmo e a Trindade. Comecemos por aquilo que Jesus não quer.
SE TUDO CORRER MAL "É quase uma finalíssima", diz Jorge Jesus. Correctíssimo. Em causa não está só a meta de passar aos oitavos-de-final da Liga dos Campeões que uma vitória com o Hapoel manterá concretizável; em causa está uma época inteira. Imaginemos um cenário de apocalipse para Jesus: o Benfica perde (escandalosamente) em Israel e vê a Liga dos Campeões - que ele disse querer ganhar - por um canudo. Assim, de repente, um dos objectivos mínimos do clube vai à vida e à falta de êxito pessoal soma-se um fracasso financeiro e desportivo. Falhar a fase seguinte significa deixar fugir 3 milhões de euros endereçados pela UEFA e comprometer negócios em marcha. É simples: sem Champions não há contratações na reabertura de mercado (Janeiro) e as probabilidades de David Luiz ou Fábio Coentrão saírem crescem. Porquê? Porque o campeonato está tremido (dez pontos de distância para o FC Porto) e o Benfica tem gente subaproveitada - Sidnei, César Peixoto e Fábio Faria (lembram-se deste?) - que poderá tapar buracos em competições menores, como são a Taça da Liga ou a Taça de Portugal.
E SE TUDO CORRER BEM? Mas como também não estamos aqui para agoirar ou fazer papel de Judas, há a (enorme) possibilidade de tudo correr bem. Porque: 1) o Hapoel, e já foi dito atrás, é de longe a equipa mais fraquinha do grupo, com um ponto, dois golos marcados e oito sofridos; e 2) o Benfica parece estar em condições de apresentar um onze ideal para este jogo não decisivo mas importante. Vamos ao plantel: não há futebolistas de primeira linha lesionados já que os magoados, Airton e Weldon, são opções secundárias (bom, no caso do avançado trata-se mesmo de uma escolha terciária); e não há castigados, pelo que Gaitán, expulso em Gelsenkirchen, pode voltar a jogar na Champions. Mas a boa nova, a melhor de todas, é o regresso do homem-golo encarnado. Que nem se tem em grande conta.
SE ELE NÃO É A ESTRELA, QUEM SERÁ? Dois meses depois, ei-lo de volta à acção: Oscar Cardozo. O avançado lesionou-se frente ao Schalke 04 e Jesus quis recuperá-lo para o clássico com o FC Porto (0-5, no Dragão) - não deu e a coisa foi adiando. Até segunda-feira, quando o nome dele apareceu na convocatória para o jogo em Telavive. E ontem, Cardozo dirigiu-se aos jornalistas na conferência de imprensa em Israel. "Não penso dessa maneira. Não me sinto uma estrela ou o salvador do Benfica", disse o tipo que tem 15 golos em 29 jogos na Europa pelo Benfica. E disse o bombardeiro que em 2009/19 fez 38.
Percebe-se, portanto, a resposta de Jesus quando questionado sobre a titularidade/utilidade de Kardec: "O Cardozo não tarda está aí." E compreende-se, também, a insistência do técnico com o avançado nestes últimos treinos. Ele é o ponta-de-lança de Jesus.
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