É impossível não vibrar com a vitória, histórica, do Sporting de Braga frente ao Arsenal: numa época em que deixámos – por força de outros “futebóis” – desvalorizar os feitos de David contra Golias, em que veneramos de forma indiscriminada o poder e o armamento, em que os mais desfavorecidos mais parecem empecilhos que nos saem ao caminho, foi particularmente saudável este triunfo.
Desde logo porque não foi fácil, exigindo contenção e paciência, antes das duas cavalgadas de explosão de Matheus até às redes adversárias. Depois, porque veio provar que, como equipa estreante nestas andanças, o vice-campeão nacional demonstrou ser um aluno capaz de aprender rapidamente e de, já ao quinto jogo, saber pensar pela sua própria cabeça e causar algumas dores às cabeças alheias.
Dir-me-ão que o Arsenal tinha jogadores-chave lesionados. Mas não é essa uma das mais estranhas características da equipa comandada por Wenger? Alegarão que houve mexidas na equipa-base. Mas essas são voluntárias e o próprio Braga as fez, deixando no banco Mossoró e o debilitado Sílvio.
Defenderão que o Arsenal chegou ao Minho praticamente apurado e que deixou correr o marfim, pelo menos até saber que os rivais ucranianos já iam de vantagem alargada.
Mantenho a ideia de que a arrogância, mesmo aquela que se traduz na lentidão de processos e na ausência de uma pressão mais alargada, se combate com inteligência, com determinação e com a consciência das próprias lacunas e mais-valias.
Foi o que fez o Braga, com uma perfeição que nem sequer dá azo a que se evoque a sorte do jogo: primeiro começou a matar lentamente o fantasma de Londres e da meia dúzia; depois, aos poucos, foi contrariando a maior posse de bola do Arsenal com crescente acutilância; finalmente, soube aproveitar o adiantamento do adversário – e a lesão de Eboué, ignorada por um técnico que descuidou as compensações – para jogar o seu maior trunfo, as transições rápidas, personificadas num foguete que passa, num segundo, dos pezinhos de lã para o pé-canhão.
Foi, insisto, um momento para recordar, tanto mais que a campanha interna do Braga está longe do imaculado. Virada à Europa, quase apetecia pedir que a campanha começasse agora – da derrocada londrina, logo na estreia, poucos se livrariam; mas acredito sinceramente que este Braga não voltaria a capitular de forma tão evidente – e porventura decisiva – diante do Shakhtar. Haja sonho. Mas, mesmo sem milagre, com a experiência acumulada, este Braga de Domingos Paciência habilita-se a fazer mossa na Liga Europa. Que assim seja.
PS – Hoje, o Benfica joga a “finalíssima” israelita. Pena não ter visto o jogo de Braga: em humildade, competência e concentração, tinha ali um belo exemplo.
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