Estou desalentado com a eliminação de Portugal nos oitavos-de-final do Mundial da África do Sul. Mas, por outro lado, sinto que nada de estranho aconteceu. Basicamente, a Selecção Nacional perdeu com uma Espanha que, não só no “ranking”, mas essencialmente dentro do campo, provou que é melhor. Quer isso dizer que era impossível ganhar? Não, nada disso. Mesmo com a exibição cinzenta que protagonizámos – uma primeira parte à espera do erro contrário e uma segunda onde fomos completamente passivos, com a agravante de tudo se ter tornado pior a partir do golo, quando era obrigatório atacar -, a sorte podia ter sorrido às nossas cores. No entanto, sendo certo que gostava de ter assistido a uma jornada feliz para Portugal, tenho de admitir que o futebol é sempre mais “honesto” quando vence quem mais faz por isso, quem joga melhor, quem assume as despesas da partida, quem prefere ser “caçador” e não a “caça”.
Como deve suceder com quase todos os portugueses que gostam de futebol (cada cabeça sua sentença) se o seleccionador fosse eu... os meus 23 não teriam sido os que foram à África do Sul. E mesmo tendo em conta as opções de Queiroz, o onze para defrontar a Espanha também seria diferente daquele que foi escolhido. E não o digo por causa da derrota, apenas e só porque considero que é mais digno perder a jogar para a frente (embora sem descurar as tarefas defensivas, pois como o técnico diz, quando não há posse de bola, numa equipa de topo, devem defender os 11) do que para trás ou para o lado à espera de qualquer coisa. Aquilo que senti é que Portugal pretendia ganhar o Euromilhões quando apenas tinha feito uma chave para o efeito. Dá para ganhar assim? Dá, mas todos sabemos que as hipóteses aumentam se apostarmos em mais combinações (leia-se tácticas). Como o treinador referiu antes do encontro, a partir dos oitavos-de-final, deixa de ser possível jogar com os resultados alheios, é tudo para o vencedor e nada para o perdedor. Nessa linha, não vejo outra alternativa que não seja jogar para ganhar. E com todo o respeito que Queiroz me merece – tenho discordado de inúmeras opções, mas não embarco no facilitismo de pensar que com outro responsável teríamos forçosamente outro resultado -, não me parece que tenha sido feito tudo o que era possível para ajudar a que essas vitórias surgissem.
Portugal entrou no Mundial a jogar para não perder e saiu exactamente na mesma. Teve cautelas a mais. E quando isso sucede não uma, mas sim três vezes (a excepção foi o embate com a Coreia do Norte), fica claro que a equipa não apareceu na África do Sul com a cadência certa para sonhar com o título. Apenas para ir caminhando até esbarrar com uma formação com outra filosofia, indiscutivelmente mais ofensiva. E não vale a pena falar do Brasil. Contra a equipa das quinas, os brasileiros jogaram somente para o empate porque sabiam que isso era suficiente para ganhar a “poule”.
Quem vê actuar conjuntos como a Argentina, a Holanda, a Alemanha ou o Brasil (com a tal excepção num jogo diferente) percebe que é mais normal essas equipas ganharem do que perderem ou empatarem. E porquê? Jogam para vencer! Não ficam, antecipadamente, a fazer contas ao que pode correr mal. Preferem equacionar o que pode correr bem. São positivas na sua abordagem ao jogo. Vão todas sair a sorrir do Mundial? Não, porque só teremos um campeão e, porque nada nos garante que a tal estrelinha não possa sorrir a outro pretendente. Agora, se mantiverem a sua postura, de certeza que estarão mais perto da possibilidade de ganhar.
Portugal, diga-se em abono da verdade, não foi feliz em todo este processo. Não foi cabeça de série na prova e isso, tendo em conta o quarto lugar no Alemanha’2006 e o terceiro posto no “ranking”, é mais que questionável; apanhou com o Brasil no seu grupo quando – como facilmente pudemos observar – tinha outros nomes sonantes mais “a jeito” nesta altura; levou com a Costa do Marfim como potencial terceiro colocado do grupo que, claro, tornou logo a série como a mais forte da primeira fase; podia ter evitado a Espanha de forma indirecta se, na terceira jornada do Grupo H, a Suíça tivesse batido a débil Honduras ou se o Chile tivesse aproveitado as claras ocasiões de golo que teve diante da Espanha quando o resultado ainda estava em branco; viu-se privado de peças importantes como Bosingwa e principalmente Nani devido a lesão; não contou com Pepe e Deco em condições normais e, talvez o pior de tudo, apresentou como referência Cristiano Ronaldo e não um dos melhores futebolistas mundiais da actualidade que dá pelo mesmo nome.
Contudo, e porque é igualmente verdade, talvez pudéssemos estar agora a discutir a melhor maneira de passar às meias-finais se, na segunda parte do embate com a Costa do Marfim, a táctica utilizada fosse alterada no sentido de se tentar ganhar o jogo depois de perceber que os africanos dificilmente lá iriam. Ou, mais tarde, se se aproveitassem os derradeiros 15 minutos do compromisso com o Brasil – quando já se sabia que a Coreia do Norte não iria ser copiosamente derrotada pelos marfinenses o que, mesmo em caso de derrota nossa, nos colocava nos “oitavos” – para forçar o ataque, tentando ser primeiros do grupo.
Eu sei que, enquanto Portugal jogava as hipóteses de ser primeiro ou segundo, não se sabia como iria acabar o grupo da Espanha, o que equivale a dizer que, face às possíveis combinações de resultados, até poderíamos ter apanhado com os nosso vizinhos mesmo sendo primeiros da série. Mas não nos teria ficado nada mal tentar ganhar a “poule”. É que o Brasil também não sabia o que iria suceder com a Espanha e não o vi com intenção de ceder a liderança do nosso grupo...
Em resumo: a Selecção foi demasiado calculista com a Costa do Marfim, Brasil e Espanha e, mesmo tendo tido chances de marcar, acabou em branco esses três duelos. Digamos que foi um desfecho normal quando se pensa primeiro em não perder.
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