Já se sabia que a estreia num Mundial é sempre complicada. E também não foi novidade para ninguém ver uma Costa do Marfim fechada, a pensar muito mais em defender que atacar (situação agravada com a utilização condicionada de Drogba), mas sempre a espreitar a hipótese de tentar algo em lances em que a estrutura lusa estivesse algo descompensada. Mas, independentemente disso, era preciso Portugal ser tão passivo durante largos períodos e, no final, acabar encostado às cordas com receio de sofrer um golo que, pura e simplesmente, poderia ser fatal para as contas da "poule"? Não me parece.
A partida entre portugueses e costa-marfinenses não fugiu muito à regra destes primeiros jogos na África do Sul: demasiados cuidados defensivos, escassa predisposição ofensiva, rígido rigor táctico e pouco espectáculo. Tudo somado, era improvável que o desfecho não fosse o nulo.
Queiroz agiu dentro da lógica do momento ao escalar Coentrão e Danny como titulares. Sendo certo que Duda e Simão estão mais rotinados no conjunto, a verdade é que durante a preparação foram os outros quem mais e melhor jogou. No entanto, se no caso do benfiquista a aposta saiu bem (foi perfeito a defender, mostrou enorme atitude e só foi pena que, por culpa do desenho táctico, raramente tenha subido no terreno), o mesmo já não se pode dizer em relação ao futebolista do Zenit. Danny esteve numa tarde desastrosa, acusando a responsabilidade de, pela primeira vez, se ver com papel de destaque na Selecção. Falhou largo e, ou muito me engano, ou perderá o lugar para Simão diante da Coreia do Norte.
Mas, infelizmente, não foi só Danny a actuar abaixo das suas potencialidades. Liedson manteve o registo sofrível dos últimos meses; Deco evidenciou a falta de ritmo própria de quem esteve muito tempo parado esta temporada; Paulo Ferreira (pese a voluntariedade de sempre) foi passado vezes sem conta no seu corredor; Raul Meireles não apareceu muito em zona de finalização; Pedro Mendes limitou-se a auxiliar o sector recuado e, o mais importante de tudo, Cristiano Ronaldo continua sem marcar ao serviço da Selecção. Se o "tiro" ao poste tivesse entrado... Mas não entrou e o período de "seca" com as cores nacionais não pára de aumentar.
Com o passar dos minutos, ia-se percebendo que os africanos, orientados por um Eriksson que conhece bem a forma de jogar (e pensar) dos portugueses, estavam cada vez mais acomodados ao empate. Perante isto, à Selecção restavam dois caminhos: alinhar na "proposta" contrária e, salvo algum imponderável, assegurar o 0-0 ou arriscar, assumir decisivamente o controlo do encontro, forçando a procura dos 3 pontos, mas abrindo espaços que, com azar, poderiam custar o tal pontinho. Portugal optou pela primeira hipótese. Não fiquei surpreendido. Apenas desiludido, pois esta postura fez-me recordar o 0-0 na Suécia, na fase de qualificação. Na altura, o nulo pareceu interessante ao seleccionador, mas a verdade é que quase ficámos fora da prova porque não fomos tentar agarrar um jogo que, de forma evidente, estava disponível.
Não sei se Portugal teria conseguido chegar ao golo se, de facto, o buscasse com intensidade, mas rejeito concordar com uma política de tanto receio num mini-campeonato com apenas 3 jogos. Isso até teria feito sentido se o opositor fosse o Brasil. Contudo, assumir o empate com o mais directo adversário, sabendo que ainda teremos o escrete pela frente... pode ser complicado.
Mas, vejamos de outra forma: este empate, não nos ajudando a colocar, desde já, um pé nos "oitavos", também não nos empurra para fora. Continuamos a depender só de nós para seguir em frente, embora seja de grande utilidade que o Brasil derrote a Costa do Marfim. Se isso se verificar - e dando de barato que somaremos 3 pontos com a Coreia do Norte -, poderemos jogar para o 0-0 com os sul-americanos. Tal cenário, contudo, terá como consequência provável o apanhar com a Espanha na fase seguinte. Mas, naturalmente, isso são contas lá mais para a frente.
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