O Real burguês - Luís Pedro Sousa

José Mourinho chegou a Madrid como um herói, uma espécie de salvador destinado a recolocar os merengues no topo do Mundo. É, afinal, o melhor treinador do Planeta e talvez o único capaz de mostrar a Florentino Pérez que os campeonatos ganham-se com grupos coesos, equipas na verdadeira aceção da palavra, e não com um punhado de vedetas cujos títulos a conquistar são indiretamente proporcionais às camisolas vendidas.

Nunca numa conferência de imprensa de apresentação de um treinador se falou tanto na importância do sistema defensivo. O Real Madrid burguês percebeu tarde que não é com muitos avançados, vários deles para funções semelhantes, que se alcança o sucesso. As vitórias, os títulos, o lugar na história atinge-se com um equilíbrio que os merengues perderam desde a saída de Makelele para o Chelsea em 2003.

Não sendo um treinador defensivo, José Mourinho mostrou como ninguém na última época que é na organização do sector mais recuado que os êxitos surgem. Demonstrou-o frente ao Milan – em que reduzido a 9 elementos dominou o rival –, Chelsea, Barcelona e, de certa forma, na final da Champions diante do Bayern.

Com muitos e bons homens para desequilibrar lá na frente, Mourinho "só" terá, em Madrid, de resolver definitivamente os problemas da retaguarda. Não se pense, portanto, que os merengues vão contratar extremos e pontas-de-lança para ultrapassarem a centena de golos no campeonato. Desta feita, Florentino Pérez terá, isso sim, de abrir os cordões à bolsa para garantir defesas e médios de contenção. Serão eles a evitar surpresas e amargos de boca em nome da consistência de uma equipa. Com Mourinho é assim.