domingo, junho 20, 2010

Mais depressa se apanha um Miguel Sousa Tavares do que um coxo - José Diogo Quintela

Na terça-feira, Miguel Sousa Tavares aconselhou-me simpaticamente a preocupar-me com a próxima época do Sporting.
Agradeço o conselho, de facto estou apreensivo, mas, se me permite, antes de falar sobre as hipotéticas contratações do Sporting para 2010/2011, vou continuar a debruçar-me sobre as hipotéticas contratações do Porto em 2003/2004. Nomeadamente a de Augusto Duarte.

Voltando a citar o verdugo nazi da sua predilecção, MST repisa que uma mentira repetida acaba por se transformar em verdade.
Eu acho que o MST usa outra técnica: inventar várias mentiras, a ver se alguma pega. Desta vez, MST diz: «Há anos que o José Diogo Quintela anda a repetir que um árbitro foi tomar um cafezinho a casa de Pinto da Costa, na véspera de apitar um jogo decisivo do FC Porto, em 2004. Tirando o facto de não ter sido assim que a coisa ficou provada em tribunal, o mais importante é que esse jogo (um Beira-Mar - FC Porto) não era decisivo, pois o Porto já tinha o campeonato no bolso - tanto que dispensou de apresentar vários titulares, que ficaram a descansar para a eminente final da Champions, em Geselkirchem [sic], que teve lugar daí a dias. O jogo terminou empatado, salvo erro 1-1 e, segundo o trio de analistas de arbitragem do Jogo, o árbitro do cafezinho cometeu, de facto, dois erros, um para cada lado e ambos com possível influência no resultado. Só que, azar, o primeiro erro foi contra o FC Porto - e o primeiro erro é sempre o mais importante.
Ah, e o treinador, que precisava que dessem cafezinhos aos árbitros para vencer um Beira-Mar, chamava-se José Mourinho e logo, logo, iria ser campeão europeu...»

Bom, vamos à habitual correcção. Numerada, para ser mais fácil de seguir.

Peta 1 - «Tirando o facto de não ter sido assim que a coisa ficou provada em tribunal». É falso. Ficou mesmo provado, nos pontos 21 a 24 do Acórdão, que um árbitro foi a casa de Pinto da Costa na véspera de apitar um jogo do FCP. E mais. Já lá vamos.

Peta 2 - MST diz que o jogo não era decisivo, «pois o Porto já tinha o campeonato no bolso». Falso outra vez. Antes dessa jornada, faltando disputar 12 pontos, o Sporting estava a 5. O campeonato não estava conquistado.
A não ser que MST use a expressão «no bolso» no sentido de estar combinado. Será? MST, veja lá se o Pinto da Costa não o processa.
Mais: este jogo era decisivo porque o FCP jogava para o campeonato e para a Champions e precisava descansar jogadores.
O empate contra o Nacional, quatro dias antes do jogo em Aveiro, retirou-lhe margem de manobra.
O que pode explicar a urgência que António Araújo tem em convencer Augusto Duarte a ir a casa de PC. (Curiosidade gira: supostamente, Augusto Duarte é que queria pedir a PC um favor relativo à amante do pai, mas nas escutas é PC que tem urgência em que o árbitro lá vá)
Entretanto o Sporting foi roubado no Bessa (por um árbitro que, este sim, não há provas de que tenha ido a casa de PC), facilitando a vida ao Porto.
Mesmo assim, era decisivo o Porto não perder com o Beira-Mar, senão, daí a duas jornadas, em Vila do Conde, não poderia descansar atletas antes da segunda mão da meia-final da Champions; as já estou a desvendar a galga n.º 3. Vamos a ela

Peta 3 – MST afiança que o FCP «se dispensou de apresentar vários titulares, que ficaram a descansar para a eminente final da Champions, em Geselkirchem [sic], que teve lugar daí a dias». Falso, também. A final da Champions (que é, de facto, eminente) não estava iminente.
Iminente estava a primeira mão da meia-final. E, sim é verdade que o FCP jogou sem habituais titulares.
Como é que tinha a garantia que o podia fazer? Se calhar já estava «no bolso». Porque o Beira-Mar, como se verá, não era uma equipa qualquer.
Por isso é que quando MST diz «Ah, e o treinador, que precisava que dessem cafezinhos aos árbitros para vencer um Beira-Mar, chamava-se José Mourinho e logo, logo, iria ser campeão europeu...», falha a ironia. O que não é grave, é só falta de jeito.
É que este «um Beira-Mar» que MST parece desprezar tinha sido, por acaso, a última equipa a ganhar em casa de Mourinho, no campeonato. Ainda é, até hoje.
A 23-02-2002 «um Beira-Mar» foi ganhar às Antas. Talvez porque, dessa vez, o árbitro expulsou mesmo os jogadores do FCP que mereceram, não sei.
O que sei é que, desde então, nem um Manchester United, um Arsenal, uma Juventus, um Milão ou um Liverpool conseguiram ganhar em casa de Mourinho, como conseguiu «um Beira-Mar».
Porque isto é futebol e às vezes o mais fraco ganha. Ah, e o treinador a quem o Poro ia ganhar facilmente chamava-se António Sousa, o último a ganhar em casa de Mourinho…

Peta 4 – Sobre a arbitragem, MST garante que «segundo o trio de analistas de arbitragem do Jogo, o árbitro do cafezinho cometeu, de facto, dois erros, um para cada lado e ambos com possível influência no resultado.
Só que, azar, o primeiro erro foi contra o FC Porto - e o primeiro erro é sempre o mais importante».
Espanta-me que MST, que se farta de exigir respeito pelas decisões da Justiça, achincalhe um Tribunal, mesmo que o do Jogo.
É que eu fui consultar a edição do Jogo de 19-04-2004 e, na pág.10, constatei que MST intruja no seguinte: i) não eram 3 os analistas, mas sim 4: Coroado, Rosa Santos, Garrido e Miranda de Sousa; ii) 2 deles acham que o árbitro cometeu 2 erros: o 1º aos 10 minutos, ao não expulsar Secretário, e o 2º aos 12, ao não amarelar Marco Ferreira; os outros 2 analistas acham que só cometeu o 2º erro; iii) assim, é redundante indicar que o primeiro erro não foi contra o FCP. Azar, sim, mas para MST que foi apanhado, noutra mentira. Não é a primeira. Será a mais importante? O leitor decidirá. Mas é interessante ver que, sobre a arbitragem, MST remete para o Tribunal do Jogo (ainda que falseando) em vez de para o tribunal que julgou o Caso do Envelope.
É que a conclusão a que a justiça chegou foi diferente: houve 4 erros, 3 a favor do Porto, sendo que o único grave foi a tal não expulsão. Porque é que MST escamoteia isto? É porque, embora a juíza não ache, quem vê futebol sabe que é difícil jogar com menos um durante 80 minutos.

Peta 5 – No fim, MST diz que tenho o «descaramento» de falar na viagem que o Porto pagou a Carlos Calheiros «já depois de reformado».
Sucede que essa viagem foi em Julho de 95 e bastou-me consultar jornais da época 95/96 para saber que a 27 de Agosto do mesmo ano Calheiros, ainda bronzeado, apitou o Sporting – Boavista.
Ora, das duas, uma: ou o reformado fez um biscate para ajudar a compor a reforma, ou MST está, mais uma vez, a aldrabar.
Descaradamente.
Atenção, não quero com isto afirmar que MST só mente. Também diz meias-verdades: o jogo acabou empatado, mas 0-0, não «salvo erro 1-1». E diz algumas verdades. Por exemplo, diz que se tratou de um jogo de futebol. E que Mourinho é treinador. Duas verdades. Não são muitas, nem particularmente relevantes, mas já não é mau. Salvo erro.
MST termina assim: «Se neste país houvesse uma cultura de responsabilidade, se cada um fosse responsabilizado pelo que diz e faz, não se continuaria a insistir em mentiras desmascaradas pela justiça».
Mais uma vez, discordo. Quero que em Portugal continue a ser possível que irresponsáveis repitam patranhas.
Reconforta-me saber que, quando me falta tema, posso sempre desmentir MST, um homem que tem uma relação curiosa com a verdade.
Como pode constatar numa entrevista recente:
- Foi acusado de ser brando com José Sócrates e implacável com Gonçalo Amaral. Revê-se em qual dos Miguel Sousa Tavares?
- O meu estilo de entrevista foi igual em todas, tirando o Gonçalo Amaral.
Confesso que houve uma coisa que não devia ter influenciado, mas que influenciou, que foi ele ter começado a entrevista com uma mentira. Isso deixou-me logo de pé atrás. MST, in Flash, 31-05-2010
Gostava de ver o MST que fica de pé atrás com uma mentira a entrevistar o MST que escreve estas crónicas.

1 comentário:

maria disse...

Excelente, assim é que é!