segunda-feira, junho 05, 2006

Entrevista a um dos principais responsáveis pelo título

O JOGO Adriaanse disse a OJOGO, entre elogios, que se o Paulo Assunção fosse mais alto já estaria no Chelsea, na Juventus ou no Arsenal. A solução para dar nas vistas passa por jogar em bicos de pés?
PAULO ASSUNÇÃO Não... Fiquei muito feliz por Adriaanse me ter feito tantos elogios e me ter considerado um dos jogadores-base da equipa. Para mim, é uma honra fazer parte de um grupo tão bom. Quanto à altura, sinto-me muito bem assim. Acho até, como me diz a minha esposa, que tenho as pernas compridas [risos], além de uma boa impulsão. E a idade de crescimento já passou há muito tempo...
P Pois é. Mas até que ponto pode a altura ser importante para chamar a atenção de outros clubes?
R A altura é importante, mas há muitos jogadores baixos. Sou baixo, mas, como disse, tenho boa impulsão e, por isso, não é coisa que me atrapalhe em campo.
P A mudança de esquema exigiu-lhe que cobrisse duas zonas em simultâneo. Além do papel no meio-campo, tinha de recuar para o centro da defesa. Sentiu alguma vez, na área, que mais uns centímetros lhe dariam jeito?
R Não, nunca, e a razão é simples de explicar: já estava acostumado, desde o tempo em que passei pelo Palmeiras, onde comecei a jogar, a cumprir tarefas como defesa e médio ao mesmo tempo. Zagueiro e volante, como dizemos no Brasil. Não tive muita dificuldade em habituar-me à mudança de esquema que foi feita.
P Para acabar com o tema da altura e para além da impulsão, que já citou, falta saber que outras características foi preciso afinar para cumprir o papel que Adriaanse lhe destinou?
R O importante é chegar sempre à bola primeiro do que o adversário, antecipando-lhe os movimentos. Se me apercebo das intenções do jogador que vai lançar uma jogada, dou logo um passo em frente nessa direcção. Antecipar é fundamental, estando sempre de olho na bola. Acho que a minha principal arma é essa: adivinhar o que adversário pretende fazer.
"Bolas altas do Pepe, as baixas controlava eu"
P Mas dentro dessas características genéricas, houve diferenças na forma de jogar. Proteger uma linha tradicional de quatro defesas ou fazê-lo só com três não é a mesma coisa...
R A diferença é que, com quatro defesas, não me competia entrar na área. Não tinha de me intrometer entre o Pepe e o Pedro Emanuel, que eram os centrais. Ficava mais à frente, no bico da grande-área. Com três defesas, tinha de ajudar o Pepe, que é muito rápido. As bolas por alto eram dele; as que vinham mais baixas controlava eu, eram minhas. Mas ambos tínhamos de estar atentos para podermos fazer as dobras um do outro depois da primeira intervenção.
P Mas, recuperando as palavras de Adriaanse, só lhe faltou dizer que, no esquema que ele montou, todos podem falhar menos o Paulo Assunção.
R É uma tarefa muito complicada. Se eu falhar um passe ponho em risco os meus companheiros da defesa; o Pepe ficaria sozinho. Não posso errar e é por isso que procuro jogar sempre de uma forma muito simples. Tento fazê-lo nos jogos e nos treinos, sabendo que ainda posso melhorar.
P Sente-se essa responsabilidade em campo, um aperto no estômago?
R Eu sinto. Para falar a verdade, antes do jogo fico ansioso, mas solto-me logo no aquecimento. Depois, como disse, tento jogar simples e as coisas costumam dar certo.
P A primeira grande vitória da época foi ter ficado no plantel?
R Foi, sem dúvida. Quando voltei da Grécia, tinha consciência de que era preciso mostrar-me a um treinador que não me conhecia. Ficar no plantel foi uma vitória.
P Mas, ainda na pré-temporada, chegou a ser experimentado como lateral direito. Não pensou que esse desvio fosse um sinal de que não contavam consigo para o seu lugar de origem?
R Fui de trinco a lateral, é verdade. O treinador disse-me, na altura, que eu marcava muito bem, que tinha bom posicionamento e que podia quebrar esse galho no lado direito. Não estranhei. Acho que tenho noção nas marcações, até pelas minhas características. Isso não acontecerá se, por exemplo, for colocado um avançado a jogar como lateral. Sinceramente, não passou pela minha cabeça que essas mudanças significassem que o treinador ainda procurava uma posição para me encaixar.
P Ainda Adriaanse. Disse ele que o Paulo pensa sempre primeiro na equipa. Há em campo quem pense primeiro em objectivos pessoais?
R No nosso grupo, cada jogador tem a sua função. A minha era defender muito bem e procurar construir jogo de forma simples. Logicamente, se surgir a oportunidade de fazer um golo, também vou tentar, mas concentro-me nas marcações. Quando o Lucho sai, fico na cobertura; se o Quaresma, que é muito habilidoso, leva a bola, tento ficar um pouco atrás para o caso de ele a perder. É difícil tirar-lhe a bola, mas pode acontecer. Nesse caso, tenho de estar lá para fazer uma faltinha; para cortar o lance.
P Ou seja, pensar na equipa não é só jogar como o Paulo Assunção faz. É isso?
R Sim, depende da função. Uma finta do Quaresma que desequilibre o adversário também é jogar para a equipa. Cada um deve utilizar as suas características para o bem de todos.

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