quarta-feira, julho 26, 2006

A descaracterização de uma instituição secular

A globalização sente-se cada vez mais na equipa da Académica.
Até ao momento, e quando ainda há vagas para um ou dois jogadores, Manuel Machado já tem uma torre de Babel formada por 11 brasileiros, nove portugueses, um turco, um colombiano e um senegalês.
Só lhe falta um asiático e um australiano, australiano porque o resto da Oceania não tem quem jogue bem à bola.
Se ainda é inevitável ter portugueses e é cada vez mais frequente ter ainda mais brasileiros, a Briosa junta-lhes um turco, um colombiano, um argentino e um senegalês. É a United Colors ou as Nações Unidas, como já se ouviu chamar-lhe.
Nem sempre foi assim, porém.
Perdido pelo átrio da unidade hoteleira que acolhe a equipa de Coimbra, na Praia de Quiaios, anda um anuário, que a Liga lançou antes da época 2001/02.
Nele se vê que a Académica, então treinada por João Alves, que viria a conseguir a subida de divisão, incorporava 20 portugueses, um brasileiro, um francês, um moçambicano e um congolês. Ao único jogador do Brasil que aparece na revista, Demétrios, juntar-se-iam apenas Vital e Germano; o de Moçambique era Dário, ainda menor de idade quando chegou a Coimbra. São os sinais do tempo.
Este surto de imigração, que as leis facilitam e estimulam até, não é exclusivo da Académica, como afirma Manuel Machado, que não se sente nada atrapalhado por ter gente de usos e costumes diferentes nem considera o fenómeno estranho. “É a globalização e a regulamentação também aponta cada vez mais para aí, mas é geral, não é uma particularidade da Académica”, entende o técnico.
No balneário e no relvado, aliás, não se verifica qualquer problema de comunicação: “Há os jogadores que falam castelhano e que entendem bem português, só o Sonkaya tem mais dificuldades por apenas se expressar em inglês, mas já conhece a linguagem técnica da época que fez no FC Porto”, afirma Manuel Machado, que liga a incursão de brasileiros a factores económicos: “Isto acontece porque Portugal exporta os seus melhores jogadores, mesmo os que ficam são caros, e o mercado brasileiro enquadra-se nas limitações financeiras dos clubes.”

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